Antes de me julgar, ande com as minhas sandálias

Você já foi julgado ou discriminado por causa de aparências?

Situação bastante comum em qualquer lugar. Mas, mais evidente em cidades pequenas, como a Lapa.

As pessoas têm o feio costume de julgar as pessoas pelas aparências, embora saibam que estas são enganadoras. Julgam e sentem prazer nisso. Prazer, principalmente quando vêem o outro humilhado, por quaisquer motivos.

O pior é que, com base nestas aparências espalham seu pré-julgamento como verdade para os demais. E estes, sem verificarem os fatos anteriormente, “compram” a idéia e discriminam o sujeito, sem antes dar espaço para ele mostrar quem realmente é.

É assim que acontece com aqueles que são marcados pelas fofocas. É drogado? Por algum motivo é revoltado? Tem algum problema de saúde? Pois é… Mas, e você que julga, antes de espalhar a sua opinião, já pensou em saber o que se passa com cada um, dentro de cada lar? O problema é que os fofoqueiros de plantão, aqueles falsos moralistas, esquecem-se de olhar primeiro para a sua casa, para o seus próprios problemas, para só aí olhar a casa do vizinho.

Se formos analisar a vida deste fofoqueiro, veremos que muitas vezes possui pouca moral para pré-julgar alguém, tendo em seu “currículo” de vida atitudes piores do que aquele que está sofrendo o julgamento.

Então, antes de apontar o seu dedo podre, é preciso olhar para si mesmo. Isso já aconteceu dentro da minha própria casa. Já vi minha família ser pré-julgada. Por isso, não estou falando de maneira ingênua. E vi estes mesmos “julgadores”, tempos depois, sofrendo com problemas em suas famílias.

Compartilho uma historinha que marca bem como as pessoas se permitem enganar por aparências.

Num orfanato, igual a tantos outros que enxameiam por toda parte, havia uma pobre órfã, de oito anos de idade.

Era uma criança lamentavelmente sem encantos, de maneiras desagradáveis, evitada pelas outras e, francamente, malquista pelos professores.

Por essa razão, a menina vivia no maior isolamento. Ninguém para brincar, ninguém para conversar… Sem carinho, sem afeto, sem esperança… Sua única companheira era a solidão.

O Diretor do orfanato aguardava, ansioso, uma desculpa legítima para livrar-se dela. E um dia apresentou-se, aparentemente, uma boa desculpa. A companheira de quarto da menina informou que ela estava mantendo correspondência com alguém de fora do orfanato, o que era terminantemente proibido.

Agora mesmo, disse a informante, ela escondeu um papel numa árvore. O Diretor e seu assistente mal puderam esconder a satisfação que a denúncia lhes causara.

Vamos tirar isso a limpo agora mesmo, disse o superior.

E, somando-se ao assistente, pediu para que a testemunha do delito os acompanhasse a fim de lhes mostrar a prova do crime.

Dirigiram-se os três, a passos rápidos, em direção à árvore na qual estava colocada a mensagem. De fato, lá estava um papel delicadamente colocado entre os ramos.

O Diretor desdobrou, ansioso, o bilhete, esperando encontrar ali a prova de que necessitava para livrar-se daquela criança tão desagradável aos seus olhos.

Todavia, para seu desapontamento e remorso, no pedaço de papel um tanto amassado, pôde ler a seguinte mensagem: “A qualquer pessoa que encontrar este papel: eu gosto de você”.

Os três investigadores ficaram tão decepcionados quanto surpresos com o que leram. Decepcionados porque perderam a oportunidade de livrar-se da menina indesejável, e surpresos porque perceberam que ela era menos má do que eles próprios.

Há uma antiga e sábia oração dos índios Sioux que roga a Deus o auxílio para nunca julgar o próximo antes de ter andado sete dias com as suas sandálias. Também tantas outras religiões ensinam a não julgar o próximo. Falta aplicar esse ensinamento.

Antes de criticar, julgar e condenar uma pessoa, devemos nos colocar no seu lugar e entender os seus sentimentos mais profundos. Aqueles que talvez ela queira esconder de si mesma, para proteger-se dos sofrimentos que a sua lembrança lhe causaria.

Não seja leviano e ignorante. Não julgue pelas aparências. E, se for difícil conter o julgamento, ao menos tente conter a sua língua, influenciando quanto menos possível os demais. Fará bem a você e também à toda a sociedade.

-o-o-

“Não vemos as coisas como elas são. Vemos as coisas como nós somos”.

(Anaïs Nin)

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