ENTREVISTA – Um projeto para a sociedade

Um trabalho voluntário tem chamado a atenção dos contendenses pela coragem e determinação com que vem sendo realizado. A Tribuna realizou entrevista com o responsável pelo trabalho que busca desenvolver a sociedade, dando alternativas aos presos, oferecendo esperança. Trata-se de Major Fábio, que apresenta soluções para a dura realidade carcerária.

Como nasceu a missão de recuperação de presos?

Era eu instrutor de Cavalaria na maior Academia da América Latina, o Guatupê. Após uma prova equestre em São Paulo, onde obtivemos os primeiros lugares com os piores cavalos, fundamos uma Agremiação Acadêmica de Cavalaria, construímos baias, e entre os alunos três se destacaram. Porém, um deles, como num desvio mental, enveredou para o crime.

Certo dia hospedei em minha casa dois pastores ex-criminosos e achei que era hora de com eles visitar o ex-aluno, numa última tentativa de recuperá-lo. Por duas horas os pastores falaram, sem convencê-lo, mas quando eu tomei a palavra, não só se convenceu da sua conduta errada, como veio a convencer outros presos em questão de dias. A direção do presídio então fez um convite. Aceitei, com um Pastor Batista, Paulo C. Marinho, e ficamos alguns anos ali. Anos mais tarde decidimos vir a Contenda.

Como foi em Contenda?

Muito diferente. A Polícia Militar (PM) é versátil, educada, profissional e muito correta, respeita bem tanto as pessoas, como as leis. E para mim educação demonstra quem foi a mãe e o pai, isto é, a família. Assim, a PM me apresentou à Polícia Cívil, ao Dr. Daniel e ao Escrivão Rodrigo e, por sete meses, estivemos falando aos presos. Falamos da Palavra de Deus, sem nos atermos a qualquer religião (onde há pontos conflitantes). Em Dezembro um preso veio às grades e, encarando-me, disse que não conheceu seus pais, por isso estaria ali por toda a vida… “Fiz uma besteira, outra, outra maior, maior, matei, fui preso, e aqui estou”, dizia ele. Senti então a responsabilidade de alguma forma dedicar esforços para trazer ferramentas de apoio (estudos, seminários, palestras) para desenvolver a reestruturação destas famílias e de quem quiser para a sua.

Como surgiu então, este amor por esta cidade?

Quando fiquei sem ir falar com aquelas almas perdidas, sem esperanças de que existe salvação e saída, sentia sempre um “vazio”, onde a sociedade, autoridades, tinham algo a ver com a responsabilidade dos excluídos. Não só os pobres, mas prostitutas, homossexuais, viciados, loucos, paraplégicos e outros deficientes. Enfim são problemas sociais. Foi quando um amigo fez um convite me contando que nesta Cidade havia mais ou menos 20 presos homens. Então vim mais do que depressa. Estamos investindo nas almas sem esperar retorno. Nossa parte estamos fazendo pois Deus é fiel à sua palavra, e eu não tenho visto nada que desabone essa afirmação em 62 anos de vida. Compreende? – O alto e o baixo da vida é porque eu, ou os outros não entendemos o que está escrito…

E a Oficina da Família?

Eu e minha esposa já trabalhamos em Curitiba, na misericórdia de uma igreja. Fundaram uma ONG – a CIAF (Central Integrada de Apoio Familiar), e “nós estávamos na hora”. Todo tipo de desajuste humano era atendido pela Central e chegou a ser reconhecida como entidade de cunho social beneficente. Espelhando-se neste propósito e no exemplo deixado pela Zilda Arns Neumann, porque não tentar? Com parceria, boa vontade e trabalho se pode melhorar tudo.

Paralelo a tudo isso aconteceu a invasão dos morros do Rio de Janeiro. Antes que Contenda seja reduto daqueles criminosos, pois Curitiba já o é, já comprovados pelas policias e pelos pais dos usuários, vamos agir ou ficar parados, chorando, lamentando, criticando, sem fazer nada?

Como funciona a Oficina?

Objetivando a família, sob a direção de uma estrutura organizacional, como qualquer prefeitura, quartel etc. Possui um diretor, secretário, tesoureiro e os soldados voluntários. O apoio de parceiros, isto é, pessoas de outras organizações como Policias, Prefeituras, hospitais, lojas, indústrias, escolas, casas de recuperação e outras instituições locais e regionais.

Nos reunimos quinzenalmente nos fundos das dependências da PM, segunda à noite, e estamos todas as quintas-feiras, das 10h às 11h50, na Delegacia.

O Dr. Rodrigo tem nosso telefone para contato. Temos ainda outros dois parceiros, sempre dispostos a colaborar, o Pr. Marcio, da Igreja Presbiteriana e Prs. Edson, Tiago e Albert, da Igreja Batista da Paz, que estão preparados para a qualquer momento colocarem suas equipes em ação/socorro às famílias.

O que espera atingir com a Oficina da Família?

A família é o menor núcleo social de uma sociedade, e o grupamento delas é que forma uma sociedade. Se ela for valente, brava e inteligente, será dominante, é exemplo a ser seguido. Mas, se covarde, pacata, desprovida de interesses, desorganizada, sem liderança ou fraca, será um povo dominado, explorado, reclamante, fofoqueiro e que transfere suas culpas até para lendas, efeitos climáticos, geológicos, teorias cientificas/ecológicas, justificando-se, justificando-se e nada fazendo. Família tem que ser unida, estruturada, educada, instruída, repassando as boas culturas, hábitos e relevantes serviços prestados por seus antepassados, corrigindo, apoiando a recuperação dos familiares fracos, não com dinheiro, mas atitudes, exemplos, conselhos e sendo encaminhados para seminários, cursos, consultas, médicos, e outros meios de ajuda. Quero deixar um aviso, alerta, tudo que for tratado na família será com sigilo, ética e respeito mútuo, não se admitindo comentários que possam gerar distorções, escândalos, descréditos e desonras a pessoas e instituições.

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