ENTREVISTA – Antenor Batista defende mais rigor contra corrupção

Autor, que é leitor da Tribuna, elenca em obra fatores que alimentam o suborno

“Corrupção, uma ganância infecciosa que atinge não só o Brasil, mas o mundo todo”, é assim que o advogado e escritor Antenor Batista, do alto de sua experiência de vida, aos 87 anos, vê essa desmoralização presente nas mais e, principalmente, nas menos desenvolvidas nações. Autor de oito livros, o amigo e leitor assíduo da Tribuna é especialista em Direito fundiário e afirma que as leis brasileiras são boas. Mesmo assim, defende a pena de morte nos casos de corrupção. “Tenho certeza que se fosse feito um plebiscito no País, 70% da população aprovaria”, diz. Sua última obra, um sucesso de vendas da editora Edipro, já foi elogiada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e faz parte da leitura obrigatória de policiais federais, órgão que ele acredita que tem sido um dos mais eficientes contra um dos maiores inimigos da evolução da humanidade: a corrupção.

Em Corrupção: o 5° poder. Repensando a ética, uma obra que se identifica muito com o livro escrito anteriormente por ele, Corrupção: fator de progresso?, Batista elenca os principais fatores que alimentam o suborno. Defensor da mesma tese que o escritor membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), João Ubaldo Ribeiro, que descreveu no artigo Desonestidade é cultura, em 26 de junho no jornal O Estado de S. Paulo, para este advogado a corrupção é um fator cultural. “A corrupção, na verdade, é o primeiro poder, pois ela nasce com o homem. Ela vem junto com a ganância descontrolada. É a ganância infecciosa que se infiltra em todas as instituições”, explica. Para ele, apenas um choque de civilidade e politização poderia curar o Brasil desse mal que outras nações foram ou ainda são vítimas.

“É preciso começar desde cedo, com as crianças. Com cada tijolinho vamos construir uma casa”, diz Batista. Segundo ele, o excesso de ambição é que leva à corrupção. “É um procedimento contra princípios morais e legais. Ela é produto de uma formação que deixa a desejar”, afirma. O jornal Correio Popular traz uma entrevista exclusiva com o autor do livro — que está em sua 12 edição revista e ampliada, com 301 páginas — onde ele conta mais sobre o que acha da corrupção no País e no mundo.

Correio Popular — A corrupção é culturalmente mais forte no brasileiro ou acontece de forma igual em todo o mundo?

Antenor Batista — Ela é natural e nasce da ambição. O excesso de ambição é que leva à corrupção. É um procedimento contra princípios morais e legais. Entramos, aí, no campo dos excessos. A vigia do Estado é importante para evitá-la. A começar pela família, é importante que haja politização nas instituições em geral. A formação do ser produz efeito a partir da educação familiar. O civismo é muito importante nessa parte. Um dos motivos lamentáveis por haver corrupção é a falta de politização. Um povo que não é bem politizado se torna vulnerável. Os famintos e aqueles que são afetados pela pobreza, também.

O brasileiro vive em qual contexto quando falamos em civilidade e politização?

Deixa a desejar. Inclusive com relação à educação familiar. Infelizmente a corrupção é um problema mundial. Não é possível particularizar que esse mal esteja presente apenas nesse ou naquele partido. O Brasil vem se sobressaindo como País corrupto justamente pela vulnerabilidade. Uma pessoa faminta e pobre é vulnerável à corrupção. Ela precisa se alimentar. Em um sistema de governo que está preocupado com o poder e não com a elevação da cidadania, é o dinheiro que começa a ocupar espaço. A maioria dos cidadãos vota por interesse. A votação do Tiririca, por exemplo, não é só pela simpatia dele, mas sim um voto de protesto. Há uma descrença generalizada pela política do mundo e particularmente do Brasil.

O que corrompe mais? O poder, a necessidade ou o interesse?

O poder corrompe… e a necessidade e o interesse também. Esse tripé está todo ligado à corrupção. A ética hoje é muito anêmica. O poder não é bem estruturado. Às vezes você vê o partido que nasce com princípios éticos e, quando chega ao poder, surge um mensalão, por exemplo. Hoje é preciso ver qual é o partido menos corrupto. A corrupção se infiltra em todas as instituições. Em umas mais e em outras menos.

A Nova Zelândia há 30 anos era um dos países mais corruptos do mundo e hoje é um dos que apresenta menor nível porque lá houve politização, um princípio educacional elevado que criou uma mentalidade cívica invejável.

Como ocorreu isso?

Com uma preparação a partir da escola primária. As instituições de ensino começaram a combater a corrupção. Isso cresceu, se avolumou e hoje é uma ilha que dá exemplo para o mundo. O pior tipo é o ladrão do colarinho branco, que é a corrupção disfarçada, é o tráfico de influência, que é um mal terrível. Usam meios que não chamam a atenção, com envolvimento até de pessoas da própria família. Brasília hoje é considerada a capital da corrupção e infelizmente está contaminada. Justamente de lá é que devem sair as providências contra a corrupção. Se a imprensa não grita quando há casos assim, a coisa piora.

Qual a importância da mídia nas denúncias de corrupção?

A imprensa que fica à espreita traz isso (os casos de corrupção) à tona. Em uma cidade tradicional como Campinas, que é orgulho de São Paulo, é lamentável um caso como vem sendo noticiado com o envolvimento da Prefeitura e outros setores. É bem verdade que os fatos estão sendo apurados, mas de qualquer maneira está chamando a atenção. A atitude dessas pessoas (envolvidas nas supostas fraudes) e a divulgação da mídia está jogando uma imagem negativa contra Campinas e contra seu povo, mas, de qualquer maneira, todo mal traz consigo o bem. Mas por qual motivo o elemento faz isso? Porque ele chegou ao poder imbuído de interesses menos dignos, porque ao invés de procurar servir à cidade, ele procura servir a seus interesses e de seus protegidos. Isso tudo reflete a falta de politização. Campinas tem tudo para crescer e dar exemplo.

Como o Estado deve agir?

É contra essa ganância infecciosa da corrupção que o Estado tem que agir. É bem nessa área que entra o crime do colarinho branco. As empresas visam o lucro, mas o Estado precisa vigiar para que esse lucro não seja excessivo. Nós temos leis boas. Mas nossas leis são muito tolerantes. Nem tudo que é legal, é justo. Aqui o ladrão de galinha é mais facilmente condenado do que o milionário, que pode contratar um bom advogado. Muitos que foram condenados estão voltando para o poder. São as brechas da lei.

E por que as pessoas votam em políticos que já foram condenados, têm envolvimento ou são suspeitos de crimes de corrupção?

Porque o povo ainda não está preparado para votar conscientemente pela falta de politização. A corrupção está institucionalizada. Ela tem um poder de infiltração terrível, maléfico. Como ela encontra espaço, se infiltra em todas as instituições. Mas, com cada um dando seu tijolo, vamos acabar construindo uma casa. Porém, quando existem cidadãos que têm uma proposta para melhorar, eles não têm espaço. São logo alijados na própria política, salvo honrosas exceções. Volta e meia encontro pessoas que têm raiva de viver num país corrupto e têm ânsia de viver em um país menos corrupto. As grandes minorias são responsáveis pelas grandes transformações. Hoje, a pessoa quando parte para uma disputa política, ela vai para obter o poder e não com a intenção de servir ao povo.

Natan Dias, da Agência Anhanguera, para o Correio Popular

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