Internação compulsória de dependentes químicos precisa de estrutura e profissionais capacitados

Especialista alerta que o recolhimento de dependentes não pode ser feito de maneira “policialesca”, mas sim com amparo profissional

O relatório aprovado pela Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas aprovado recentemente, que prevê, entre outras coisas, a internação compulsória de dependentes em situação de risco, causou polêmica entre profissionais da saúde que tratam do problema das drogas. Segundo o psicólogo Dionísio Banaszewski, que se dedica há mais de vinte anos ao tema, a medida é positiva, desde que feita de maneira comedida e profissional.

O especialista afirma que a internação compulsória pode ser importante em situações em que o dependente não tenha condições de decidir por si mesmo. “É uma forma de se evitar até o suicídio, porque o uso de drogas leva à morte. É como o salvamento de uma pessoa que esteja se afogando – o salva-vidas precisa agir emergencialmente e arrastar a pessoa. Só depois que está salva ela retoma a consciência. A pessoa intoxicada também só poderá decidir por si quando retomar o controle e a consciência sobre si mesma”, compara Dionísio.

Mas há que se tomar alguns cuidados importantes nos casos de internação compulsória. Como as ações serão levadas a cabo por policiais, corre-se o risco de que a medida se torne apenas repressiva, e não de proteção do dependente, alerta o psicólogo. “É preciso que a ação seja também afetiva para que seja efetiva”, analisa. Por isso, o especialista diz que as ações têm necessariamente que ser acompanhadas por profissionais da saúde, como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.

Dionísio também afirma temer pelo sucesso da medida por causa da falta de estrutura adequada ao tratamento e até mesmo pelo fato de a metodologia a ser adotada ainda não estar bem clara. “Fala-se em leitos de internação, mas é preciso questionar se os dependentes serão todos encaminhados apenas para tratamentos de contenção química, o que não é suficiente e muitas vezes nem é indicado. Fala-se em consultórios de rua, que são formas de abordagem que servirão apenas se houver encaminhamento a tratamentos efetivos. O mais importante não tem sido falado: a importância de se formar equipes multidisciplinares para dar um tratamento sistêmico aos dependentes”, comenta. O psicólogo alerta que o tratamento precisa ser personalizado e afirma que teme que “a polícia passe nas ruas jogando pessoas em um camburão, sem critérios”. “Não podemos continuar ‘enxugando gelo’. Combater a dependência é importante, mas é preciso se investir maciçamente em prevenção, que é o que mais dá resultado. Sem investir em prevenção, governos e entidades de representação profissional das áreas envolvidas continuarão ineficientes. A abordagem do tema precisa um choque de gestão”, argumenta.

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