Planejando novamente a expansão urbana de nossa cidade…

Dartagnan Gorniski

Quando morava em Teresina, no estado do Piauí, tomei conhecimento de um caso curioso. Um curtume que se instalara muito afastado da cidade, lá na década de 60. O motivo de se instalar longe é óbvio para quem conhece o processo de curtição de couros – o cheiro de uma fabrica dessas é muito forte e desagradável.

 

O empresário comprou uma fazenda e nela instalou sua fábrica. Como ficava longe da cidade, também criou uma vila para os funcionários. Claro que os funcionários não reclamavam do cheiro, pois ele vinha do mesmo lugar onde ganhavam seu sustento e mantinham suas famílias.

 

Com o tempo, a vila começou a crescer. Logo se instalou um comercio depois outro. Depois a prefeitura instalou escola, posto de saúde, asfalto… enfim, foi melhorando a vila. Com isso houve uma valorização das fazendas vizinhas, que se converteram em novos loteamentos, e a vila original triplicou de tamanho – e começou a ter vida própria. O resultado foi que o curtume que foi a “mola propulsora” do desenvolvimento começou a se tornar um empecilho ao bairro. Enquanto outros bairros tinham seus terrenos em franca valorização, ali, devido ao cheiro, os terrenos permaneciam baratos. Sem contar com as pessoas que agora não tinham nenhum vínculo com o curtume, e não suportavam o cheiro. Depois de uma série de protestos (e muitos vandalismos) que forçaram o poder público a criar regulamentações que por sua vez inviabilizaram o negócio, naquele local, a fabrica fechou.

 

Conto essa história porque aqui na Lapa não temos curtumes, mas temos algo que tem uma dinâmica similar: Rodovias.

 

Uma rodovia é um importante fator de desenvolvimento. Por onde ela passa, logo surgem vários comércios e loteamentos. Só que com o tempo, o grande tráfego de veículos acaba sendo um empecilho para as pessoas que ali vivem.

 

No Paraná, temos o exemplo de Curitiba. O Brasil foi planejado para ter três rodovias no sentido Norte – Sul. A primeira é a BR 101, que deveria seguir sempre pelo litoral, nunca subindo ao primeiro planalto. A segunda é a BR 116, que deveria começar no primeiro planalto e cruzar o país, sempre ficando a uma boa distância do litoral. A terceira é a BR 153, que deveria nascer no extremo oeste gaúcho, e seguir pelo oeste dos estados do sul, seguindo então para o Centro Oeste do país.

 

Esse desenho ocorre em todos os estados, menos no Paraná. Aqui as três rodovias foram desviadas para se entroncarem em Curitiba Isso impulsionou a capital, pois fez dela o entroncamento de várias rodovias. Hoje é um problema, pois o tráfego é imenso, obrigando a construção dos Contornos Municipais (que já estão sendo chamados de “Transtornos”).

 

Na Lapa temos bairros surgindo para o “lado oposto” das rodovias. Hoje a maioria dos comércios nestes locais tem a ver com agricultura ou com atividades diretamente relacionadas às rodovias. Segundo o último mapa da prefeitura, os bairros nesta situação são Alto da Cruz (saída para Campo do Tenente), Boqueirão (entre os trevos de Curitiba e o de Porto Amazonas), e o Bairro Esplanada (inicia na antiga estação e atravessa a Rodovia do Xisto).

 

Hoje a Rodovia do Xisto e a PR 427 (para Campo do Tenente) estão servindo como incentivo ao desenvolvimento desses bairros. Mas logo serão entraves à população. A execução de uma obra de contorno é muito cara para uma cidade como a Lapa, portanto é mais um projeto que deveria entrar na pauta de solicitações ao Governo do Estado, desde já. Isso porque quando for realmente necessária, ainda vamos demorar décadas para conseguir a liberação dos recursos. Então que comecemos a pedir desde já.

 

O contorno que imagino iniciaria na Colônia São Carlos, passando pelos arredores da fábrica de biodiesel e seguindo para a Colônia Johanesdorf (ou até o Núcleo Leiteiro). De lá seguiria até o Parque de Exposições (ou talvez mais adiante), onde encontraria novamente a BR 476, mas continuaria até se ligar à PR 427, em algum ponto antes do Rio da Várzea. Com isso o todo o tráfego de veículos passaria ao largo da Lapa.

 

Como escrevi na última edição, isso não é um projeto prioritário. Apenas uma visão para futuro da cidade. Na verdade, nem é urgente. Hoje ainda colhemos os benefícios das rodovias. Mas temos que pensar no que vem depois. Como prioridade acredito que ainda temos que ter em mente o asfaltamento da Estrada do Caracol, ligando Lapa a Mariental, como escrevi em meu último artigo. Deixo aqui meu ponto de vista.

 

Dartagnan Gorniski é cidadão lapeano e

proprietário da Flora Monte Claro. De vez em

 quando aceita ser o “palpiteiro de plantão”.

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