BR 476: acidentes em pontos críticos preocupam motoristas

O aumento do tráfego de veículos no trecho da BR 476 que liga Lapa a Curitiba, aliado à imprudência de muitos motoristas, vem causando acidentes constantes na estrada. Isso causa insegurança aos demais condutores e também aos empresários que, quando têm cargas de caminhões tombadas, por exemplo, veem os bens serem saqueados.

Recentemente, um acidente ocorreu no Km 192 da rodovia, pouco antes do trecho conhecido como “curva da santinha”. Segundo relato da leitora Cristina Baggio (que alguns dias depois relatou o caso em sua página da rede social Facebook), uma carreta com um contêiner carregado de carne de frango, tipo exportação, tombou ao ser fechada por outro veículo e foi lançada em direção à canaleta que margeia a pista. Isso aconteceu no dia 21 de julho.

Em seu desabafo, Cristina comenta que o fato “poderia ser considerado mais um acidente se isso não fosse uma rotina nessa rodovia”, especialmente nos trechos conhecidos como “curva da santinha” e “curva da Serrinha”, em Contenda.

No primeiro trecho, segundo ela, o problema é a canaleta de água pluvial de, aproximadamente, 50 centímetros de profundidade, que se torna uma armadilha para os caminhões que são obrigados a trafegar pela pista da direita, dando passagem a carros menores. A proximidade entre a canaleta e a faixa de tráfego faz com que, fatalmente, o caminhão tombe em qualquer situação de adversidade que obrigue o motorista a deslocar o veículo para a direita. No segundo trecho, diz ela, o problema é a inclinação da curva, que apesar de já ter passado por várias obras se mantém perigosa.

Outros pontos abordados pela leitora são em relação ao valor cobrado pelo pedágio, de R$ 52,20 para uma carreta, os perigos estruturais da pista e a falta de segurança contra o saque de cargas dos veículos acidentados. “Há mais ou menos dois meses uma carreta da mesma empresa do acidente do dia 21, que também levava um contêiner com carga de carne de frango tipo exportação, no valor de R$ 251 mil, tombou no km 178 da BR 476, no trecho conhecido como ‘curva da Serrinha’ e, em poucos minutos, dezenas de motoristas de carros com placas da cidade da Lapa se reuniram para saquear a carga”, diz ela, explicando que nem a presença da polícia foi suficiente para conter os criminosos que arrebentaram o contêiner roubando todo o seu conteúdo.

Já no acidente do dia 21, a Polícia Rodoviária Federal foi novamente acionada, mas o proprietário da empresa também precisou recorrer aos serviços de proteção da seguradora, de segurança particular e ao uso de correntes para garantir a integridade do contêiner e do cavalo rebocador do veículo. A leitora contou que os mesmos motoristas de carros com placas da cidade da Lapa chegaram em poucos minutos ao local do acidente para saquear a carga. “Por volta de duas horas da manhã, houve um princípio de tumulto e vários disparos de armas de fogo foram necessários para conter os indivíduos mais agressivos”, comentou Cristina.

 

 

 

 

 

ESTRADA

 

BR 476: ação de saqueadores causa prejuízo a empresários

 

Um ponto que merece destaque na indignação da leitora Cristina Baggio é o fato de pessoas serem informadas tão rapidamente acerca dos acidentes. Ela questiona quem fornece a elas a informação com tanta agilidade e comenta que entre os saqueadores estão senhores e senhoras de mais de 60 anos e menores de idade. A pergunta que é feita é a respeito do exemplo dado aos filhos e netos e a atenção a o que estão aprendendo os jovens que se reúnem para participar desses saques. Preocupante, ainda, é saber que alguns comerciantes locais mal intencionados receptam as mercadorias saqueadas e as revendem, inclusive colocando em risco a saúde de seus clientes. Quanto a isso já há denúncias em processo de investigação no município. Mas, é muito importante destacar que, quanto aos saques, estes não existiriam com tanta frequência se não houvesse quem adquirisse os produtos.

Em seu relato, Cristina também questionou as ações da concessionária de pedágio sobre a segurança aos motoristas, tanto em relação aos veículos como às cargas que transportam.

 

ESCLARECIMENTOS

Levando em conta que os acidentes são recorrentes na BR 476, entre Lapa e Araucária, e que, com isso, muitos saques à cargas vem ocorrendo, a redação da Tribuna entrou em contato com a Caminhos do Paraná para buscar informações acerca de previsão de obras para os trechos citados por Cristina e, também, a respeito da segurança de motoristas e empresários em acidentes, minimizando ou impedindo ação de saqueadores.

Em resposta, a concessionária destacou as obras já realizadas no trecho Lapa-Araucária. “As curvas que eram tidas como as mais perigosas do trecho (km 178 e km 181) foram dotadas de acostamentos e tiveram um trabalho de superelevação (correção de inclinação para aumentar a força centrípeta, minimizando a possibilidade de saídas de pista e tombamentos – desde, é claro, que respeitada a velocidade máxima sinalizada naquele ponto)”. Além disso, a empresa informou que construiu 8,5 km de terceiras faixas, duplicou 2,8 km em Contenda, construiu um viaduto, trevos de acesso e de entroncamento (caso da confluência entre as rodovias BR-476 e PR-427). “Exatamente no trecho comentado (km 191,74 ao 193,13) a Caminhos do Paraná realizou em 2010 um alargamento de terceira-faixa pré-existente, que passou de 3m para 3,6m de largura. Ainda este ano será concluída a duplicação de um segmento de 1 km e a construção da segunda ponte sobre o Rio Iguaçu, com investimento de 4,5 milhões. Para 2018, está pactuada no contrato de concessão a conclusão da duplicação de todo o trecho Lapa-Araucária”, informou a Caminhos do Paraná.

É importante relembrar, também, que antes da concessão da estrada a Caminhos do Paraná, muitos acidentes graves vinham ocorrendo no trecho, tendo em vista a péssima conservação da pista. Isso não justifica ou explica a situação atual, mas é relevante para refletir que a causa dos acidentes não é somente algum problema na pista, também demonstra a forma como os motoristas agem no trânsito.

Quanto á segurança, a concessionária afirmou que, constitucionalmente, o Poder de Polícia é poder indelegável e deve ser exercido somente pelo Estado. No caso das rodovias federais, como é o caso da BR-476, o policiamento é realizado pela Polícia Rodoviária Federal. “Para auxiliar neste trabalho, está prevista no contrato de concessão uma verba de aparelhamento da Polícia Rodoviária Federal. Somente nos últimos três anos, a Caminhos do Paraná repassou 13 viaturas totalmente equipadas para a Polícia Rodoviária, sendo quatro Toyotas Hilux e um micro-ônibus para a PRE (Estadual) e quatro Toyotas Corolla e quatro Chevrolet Captiva para a PRF (Federal)”, informou a concessionária, esclarecendo que já estão em processo de aquisição, para serem entregues nas próximas semanas, uma Hilux cabine dupla para a PRE e quatro veículos S10 para a PRF, o que totalizará um repasse de 18 viaturas em três anos. Além disso, a Caminhos do Paraná informou que responde por todos os emplacamentos, licenciamentos, seguros, taxas, impostos, substituição de equipamentos e realiza periodicamente a aquisição de bafômetros e similares, totalizando até o momento (em valores correntes, sem atualização monetária) R$ 5,46 milhões em veículos e equipamentos para o aparelhamento das polícias rodoviárias. “A empresa também mantém viaturas de inspeção e guinchos na BR-476, conforme prevê o contrato de concessão, cuja presença e vigilância diuturna certamente aumentam a segurança da via, muito embora não possa garantir, ao menos não com o uso de força, que crimes não possam ocorrer em sua área de atuação”, diz a Caminhos, esclarecendo que não se tem notícia de que outras concessionárias, em outras regiões do Estado ou mesmo em outros Estados da Federação, tenham meios de, por si, coibir saques de cargas. Isto porque, Segurança Pública ainda não deixou de ser, conforme a Constituição Federal, atribuição do Estado.

 

O QUE FAZER

Diante de tais situações, não há como apresentar uma solução imediata, pois é necessário que haja mudança em vários pontos. Primeiramente, em relação à educação da população, seja em relação à direção defensiva dos condutores, seja em relação a não saquear os produtos na estrada (como iremos cobrar de nossos representantes não serem corruptos quando a própria população age como criminosos?). Em seguida, é preciso acompanhar o que está sendo feito pela Concessionária (se está sendo suficiente ou não frente à demanda, por exemplo) e também pelo Poder Público (seja por parte da Polícia, que deve realizar o patrulhamento das rodovias, seja por parte do Governo, que deve oferecer alternativas à população e, também, acompanhar as cláusulas contratuais das concessionárias de pedágio).

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