Jornais sem governo ou governo sem jornais?

Para refletir sobre a posição do ex-presidente Lula, válida a leitura do artigo escrito por Carlos Chagas, da Tribuna da Imprensa. O texto foi publicado originalmente no mês de agosto de 2014, sendo republicado pela revista Distinção, três meses depois.

Nesta edição, trazemos a você, leitor, o referido texto. Afinal, sempre necessária a observação das atitudes de nossos governantes e líderes políticos, desde o seu passado, para que possamos entender a atualidade.

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“Lula: produto da imprensa nos anos 70, agora diz que a imprensa é a oposição ao governo do PT. Antes mesmo de ser o resultado de sua capacidade como líder sindical, o Lula foi um produto da imprensa. Concentrou as atenções da mídia ao promover as primeiras greves de metalúrgicos no ABC. Claro que pesou para que ganhasse o noticiário, do qual nunca mais saiu, o fato de não ser comunista e sequer pregar a socialização dos meios de produção. Inaugurou o sindicalismo de resultados, sempre ressaltando a importância de o patrão obter maiores lucros, pois os empregados disporiam de melhores meios para reivindicar aumentos salariais. Foi brindado com a simpatia dos repórteres e a boa vontade dos barões da imprensa, apesar da intolerância de alguns mais empedernidos.

Vale repetir, nasceu para a política como um produto dos jornais e da televisão. Também cultivou o vício de achar que apenas ele tinha razão, quando fundou o PT e a CUT, mentalidade que levou para o palácio do Planalto depois de eleito presidente da República. Esses dois fatores acabaram batendo de frente: a imprensa e a presunção. Por isso o Lula vibrou outra vez tacape e borduna no lombo dos meios de comunicação. Declarou (em outubro), ao lado de Dilma, ser a imprensa o verdadeiro partido de oposição.

Por quê? Porque ela não forma no coro dos companheiros que tudo aplaudem e nada contestam. Basta apontar um erro, formular uma crítica ou discordar de uma diretriz para o jornalista ser considerado inimigo, pelo Lula. Ele atribui más e pérfidas intenções a quem não concorda com o governo do PT. Pior se a mídia descobre e divulga malfeitos e lambanças. Tudo não passa de uma conspiração, conclui o primeiro-companheiro. Evidência maior da distorção de seu pensamento está no fato de que a imprensa inteira registrou sua agressão.

A impressa erra? Muito. Manipula atos e fatos ao sabor de seus interesses? Sem dúvida. Mas será exagero, talvez estupidez, imaginá-la solerte instrumento de demolição dos objetivos e realizações do detentores do poder, como  vem fazendo o ex-presidente. Valeria que atentasse para  a lição de Thomas Jefferson, para quem “se me fosse dado dispor de jornais sem governo, ou de governo sem jornais, ficaria com a primeira hipótese”.”

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“Vi o nazismo na Áustria e o comunismo na Hungria. Iniciaram-se por censurar os jornais”. (Helga Szmuk, vítima de radicalismo político)

“A imprensa é a vista da Nação. O poder não é um antro: é um palco”. (Rui Barbosa, jurista e político brasileiro)

“Desconfiar do poder é a vocação histórica da imprensa, numa sociedade livre e democrática.” (Daniel Piza, jornalista).

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