Aluno da Lapa está na final da Olimpíada de Língua Portuguesa

Paraná conta com 10 finalistas. Ao todo, mais de 170 mil textos concorreram em quatro categorias. Emocionante crônica finalista, escrita por Vítor Luiz Kohler, relata a vida solitária de Cavalo Velho, morador da localidade lapeana de Mariental.

 

Dez alunos da rede pública estadual de ensino do Paraná estão entre os finalistas da fase regional da 4ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa: Escrevendo o Futuro. O tema deste ano é “O lugar onde vivo” e são quatro os gêneros trabalhados: poemas (alunos de 5º e 6º anos); memórias (alunos de 7º e 8º anos); crônica (alunos de 9º ano do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio); e artigo de opinião (alunos de 2º e 3º anos do ensino médio). Mais de 170 mil textos de 5.014 municípios brasileiros concorreram nas quatro categorias.

A final será em 17 de dezembro, em Brasília, e reunirá 152 finalistas. Serão escolhidos 20 alunos e 20 professores vencedores nacionais, que receberão medalhas de ouro e notebooks. As escolas nas quais estudam os alunos serão contempladas com laboratórios de informática, compostos por dez microcomputadores e uma impressora, projetor e telão, além de livros para a biblioteca.

 

CRÔNICA

Três alunos irão concorrer à final na categoria Crônica: Vítor Luiz Kohler, do Colégio Estadual Antônio Lacerda Braga (Mariental), da Lapa; Laura Lorena Pinto Borba, da Escola Estadual Inácio Schelbauer, de Rio Negro; e Fabiana Pereira Ianse, da Escola Estadual José de Anchieta, de Santa Maria do Oeste.

O aluno lapeano, filho de Simone e de Luiz Carlos Kohler, foi até a capital do Rio Grande do Sul, no dia 12 de novembro, para participar da premiação dos finalistas brasileiros. A cerimônia pode ser acompanhada ao vivo pelos colegas e professores do Colégio, pela internet.

A IMPORTÂNCIA DA EMOÇÃO

Para escrever os textos para a Olimpíada, que adotou o tema “O lugar onde vivo”, o aluno deveria resgatar histórias, estreitar vínculos com a comunidade e aprofundar o conhecimento sobre a realidade.

Este foi o trabalho desenvolvido pela professora Sirley Maria Kohler Ganzert e os alunos participantes, no Colégio de Mariental. Ela conta que, para inspirar os estudantes, uma das estratégias utilizadas foi relatar que, em edições anteriores, textos de colegas tinham sido selecionados na fase municipal.

Quanto ao gênero crônica, no qual Vitor foi selecionado para a etapa nacional, a professora leu para os estudantes diversas produções de autores brasileiros consagrados, ressaltando a importância da emoção como ingrediente essencial para deixar o texto mais autêntico. Na classe de Vitor, o 1º ano do ensino médio, 62 alunos produziram textos.

Após trabalhar as produções junto com os estudantes, os textos foram encaminhados para a comissão escolar, que escolheu o texto “Cavalgada Solitária”, de autoria do Vitor. A crônica conta a história de Darci, morador solitário de um barracão perto da chácara do aluno. De forma emocionante, Vitor relata a vida solitária do personagem, conhecido como Cavalo Velho. Ele vivia solitário, abusava da bebida e do fumo, não tinha família e dele pouco se sabia. Num final de manhã, foi encontrado morto pelo pai de Vitor, sendo sepultado como indigente.

COINCIDÊNCIAS

A partir do momento em que o texto de Vitor foi selecionado pelo Colégio, a professora passou a acompanhar as notícias por e-mail e na página da Olimpíada, na internet. Enquanto isso, o texto circulava pela localidade, pois o pai de Vitor, emocionado, fez questão de contar e mostrar o texto para os amigos. Com isso, ao conversar com o dono do paiol onde Cavalo Velho viveu e foi encontrado morto, o pai do aluno soube que, entre seus poucos pertences, havia uma carteira de trabalho, quase ilegível, assinada em nome de José Darci Linhar, que trabalhou em Porto Alegre.

Então, o pai do aluno chamou a professora, apontando duas coincidências. Uma espacial, que foi o fato de o aluno e Sirley irem até Porto Alegre, possível local de nascimento de Darci. E outra, temporal, pois foi no dia 13 de novembro de 2012 que Cavalo Velho encerrou sua Cavalgada Solitária e foi sepultado como indigente no cemitério local da pequena Colônia Mariental, na Lapa, dando origem à crônica de Vitor – a premiação, em Porto Alegre, aconteceu no dia 12 de novembro de 2014.

BOX

Cavalgada Solitária

Não se sabe o nome, de onde veio, quem é sua família. As poucas pessoas com quem tinha algum contato o chamavam de Darci. Para três ou quatro pessoas permitia que o chamassem de Cavalo Velho, ou melhor “Cavalo veio”. Por quê esse apelido? Porque para os filhos do vizinho que morava em uma chácara próximo dali Darci brincava de fazer barulhos batendo os punhos fechados no peito imitando o tropel de cavalos.

Cavalo Velho vivia no interior do município da Lapa, no Paraná, lugar denominado Passo da Cana, fazendo divisa com Mariental e o município de Contenda. Solitário e silencioso mantinha uma rotina simples: levantava cedo, pegava água na chácara vizinha, produzia seus alimentos e vivia da troca por trabalho.

Sua casa era feita de tábuas, antigo depósito de produtos agrícolas, emprestado por moradores da região. Habitava por ali já fazia 10 anos mais ou menos, nunca recebeu nenhum parente, filhos, irmãos, nenhuma visita que não fosse aqueles que já moravam por ali nas redondezas.

A solidão o fez ter alguns hábitos nada saudáveis o fumo e o álcool. Estes eram sua companhia em todos os momentos: solidão, doença, alegria, frio, calor, enfim, jamais se separaram.

Certa manhã, por volta da 10:30 horas, o dono da Chácara Kohler percebendo que Darci não havia descido para buscar água, subiu a ladeira que separava o espaço de conforto familiar, fartura, aconchego ao outro lado. No topo da estrada, observou a pequena casa fechada, nenhum sinal de fumaça ou vida. Teria Cavalo Velho cavalgado para outras terras? Teria saído em busca de sua família, sua história e sua identidade? Não! Nada! Nenhuma resposta ao chamado: “Darci!” “Cavalo Veio!”.

Talvez tivesse saído, mas isso era algo que ele nunca tivera feito sem antes buscar água, fazer o café no humilde fogão de lenha no canto do cômodo.

Mais tarde chega um outro senhor que estranha também a ausência do solitário morador. Carlão (este era seu nome) relata que estivera junto com Darci até tarde da noite passada e havia deixado o amigo fechando a porta quando saía.

Preocupados então os dois arrombaram a porta e para susto e tristeza encontraram Cavalo Velho deitado, gelado e sem vida. Causa da morte? Ninguém sabe. Seu nome completo? Ninguém sabe. De onde veio? Ninguém sabe. Quem é sua família? Ninguém sabe. Seu nome seria de fato Darci? Ninguém sabe…

Na mesma tarde a Funerária Daou, tradicional e conhecida como a mais humana da Lapa, desce com o humilde caixão para buscar Darci após ter cumprido com todas as exigências legais atendidas para sepultar Cavalo Velho como indigente.

Causa da morte? Ninguém sabe. Nenhum sinal de agressão, luta ou ferimento. Segundo os policiais talvez um excesso de alegria e bebida…

O velho rancho de Darci continua lá, habitado pela solidão e às vezes há quem diga que ouve o vento trazendo o barulho da cavalgada no peito de Darci…

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