Muitas pessoas sentem repúdio pelos morcegos. Afinal de contas, são animais cuja aparência não agrada à muitos e vários mitos acerca deles foram propagados ao longo dos séculos. Os morcegos são mamíferos, assim como nós humanos e outros animais, como o cachorro, gato, vaca, onça e ratos. Porém, eles não são ratos que ganharam asas, como conta o ditado popular que muitos acreditam. Aliás, evolutivamente, os morcegos são mais próximos de nós, humanos e primatas, do que dos ratos propriamente dito.
A história dos morcegos é única na natureza. Esse grupo é altamente diverso e dentre os mamíferos eles constituem o segundo grupo em número de espécies. Por exemplo, em todo o mundo existem mais de 1200 espécies de morcegos, isto é, mais de 1200 tipos diferentes. No Brasil o número mais recente é de 178 espécies.
Morcego da espécie Artibeus lituratus, que consome frutos e é muito comum em várias regiões do Brasil.
Muitos temem os morcegos devido aos mitos históricos sobre eles. Quem nunca ouviu falar do Drácula, o vampiro que chupa o sangue das pessoas? Isso é uma grande bobagem contada ao longo dos séculos e que deram aos morcegos o status de ‘perigosos’. Porém, este grupo não é em nada perigoso na natureza, mas sim essencial para o meio ambiente e para nós humanos. No Brasil a maior parte das espécies de morcegos consomem frutos, entre os quais estão os populares figos e a banana, consumidos também rotineiramente por boa parte da população. O fato dos morcegos consumirem frutos é essencial tanto para nós quanto para eles e para a natureza. Por serem os únicos mamíferos voadores, os morcegos conseguem carregar as sementes para vários locais diferentes, auxiliando na dispersão das sementes e regeneração das florestas. É como se, sem querer, eles plantassem diferentes sementes em diferentes locais. Nós do sul do Brasil estamos acostumados com o fato da Gralha-Azul comer pinhão e também enterrar várias destas sementes, plantando a Araucária em diferentes locais. Com os morcegos isso também funciona, mas indiretamente com os frutos que eles não conseguem carregar e que caem no chão e também com as sementes que saem em suas fezes. Alguns estudos apontam que determinados morcegos conseguem percorrer até 40 km em uma única noite! Outra boa parte das espécies de morcegos consome insetos, sendo importantes para regular as populações de insetos que muitas vezes causam incômodo para muitas pessoas.
Entre os locais que estes animais utilizam como morada, ou seja, como abrigo, estão os interiores de troncos de árvores, folhas, cavernas e também os forros de algumas casas. A maior parte dos morcegos que se abrigam em forros de residência são insetívoros e que saem a noite para caçar insetos, retornando pouco antes do amanhecer.
De todos os tipos de morcegos no Brasil, apenas três espécies se alimentam de sangue e fazem jus a história tradicional do Drácula. Porém, apenas uma espécie é que se alimenta de sangue de mamíferos, ou seja, uma única espécie pode se alimentar de sangue de seres humanos. Entretanto, nenhum morcego que consome sangue entrará na casa das pessoas ou perseguirá elas no meio do mato a noite. Estes morcegos costumam se alimentar do sangue de bois, vacas e ovelhas de grandes rebanhos.
É importante salientar que todo mamífero pode ser portador do vírus da raiva. Infelizmente, esta doença não tem cura, então não se deve tentar manipular mamíferos na natureza sem ter experiência e prática, para evitar possíveis acidentes.
CONTENDA E LAPA
Na região de Contenda e Lapa ainda não houve nenhum estudo sobre a fauna de morcegos, mas é provável que a maioria seja de morcegos que consomem frutos e insetos, tomando como base estudos realizados em Ponta Grossa, Balsa Nova e Quatro Barras. Desta forma, se você encontrar algum morcego no forro da sua casa ou em outros locais particulares e deseje removê-los, entre em contato com a Secretaria do Meio Ambiente da sua cidade ou com o Laboratório de Biodiversidade, Conservação e Ecologia de Animais Silvestres da Universidade Federal do Paraná para saber possíveis medidas à serem realizadas para a remoção destes indivíduos. Além disso, lembre-se da importância deles e nunca esqueça de que todos os animais tem o direito da vida na natureza, e preservá-la é um dever de todos nós.
Luiz Henrique Varzinczak é biólogo e pesquisador de morcegos da UFPR.
