Projeto retira poluentes do ar e melhora a renda de pequenos agricultores na Lapa

As 200 araucárias plantadas pelo agricultor Amauri Delponte, perto da estrada rural em frente à sua pequena propriedade, na Lapa, estão rendendo frutos muito antes de produzirem pinhões. Durante o crescimento, elas retiram da atmosfera, em média, o equivalente a 19,4 toneladas de gás carbônico (CO2) por ano, até a fase adulta, quando as imponentes araucárias também trarão beleza à propriedade e à estrada.

Os benefícios com o plantio de araucárias não param por aí. Além de ajudar a preservar uma espécie símbolo do Paraná, as futuras safras de pinhões poderão melhorar a renda da família e também alimentar animais silvestres.

Delponte e outros 54 agricultores familiares paranaenses dos municípios da Lapa e de Fernandes Pinheiro participam do projeto Estradas com Araucárias, coordenado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, junto com a Embrapa Florestas. O projeto tem ainda a participação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Emater, Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Juntos, estes pequenos agricultores plantaram em quatro anos quase 20 mil araucárias, totalizando 100 quilômetros de estradas rurais e divisas de propriedades, na Lapa e em Fernandes Pinheiro. A cada ano, elas retiram da atmosfera 1.900 toneladas de gás carbônico. O plantio e o cuidado com o crescimento das árvores têm gerado renda extra para os agricultores do projeto.

APOIO

Com o patrocínio da DSR, empresa paranaense do ramo de logística, cada agricultor recebe R$ 1.000,00 por ano como pagamento pelos serviços ambientais prestados. “A sustentabilidade está dentro do valor da empresa, principalmente no que diz respeito à compensação das emissões de poluentes, e o projeto do Governo do Estado casa perfeitamente com essa visão”, explica o diretor-executivo do grupo, Paulo Caffeu.

A frota de 500 caminhões da empresa consome cerca de um milhão de litros de diesel por mês e produz o equivalente a 30 mil toneladas de CO2 por ano. “O Estadas com Araucárias nos ajuda a compensar entre 6% e 8% dessas emissões, mas queremos no mínimo 15%”, afirma Caffeu. Até 2018 a empresa quer triplicar o projeto, que também foi levado a Santa Catarina.

O pagamento aos produtores será feito por aproximadamente mais 10 anos, quando as araucárias começarem a produzir pinhas. “Aí o produtor poderá ter lucro com a comercialização do pinhão e a araucária ficará em pé segurando o carbono e embelezando as estradas rurais”, fala Edilson Bastista, engenheiro da Embrapa Florestas e um dos idealizadores do projeto.

Com o dinheiro do projeto, o agricultor Amauri Delponte cercou sua propriedade. “Eu gosto de araucária de qualquer jeito. Aprendi com meu pai a respeitar o pinheiro e com uma ajuda dessas a gente se anima ainda mais a plantar”, conta o agricultor.

ACOMPANHAMENTO

Por medida de segurança, os plantios são feitos fora da faixa de domínio das estradas. Técnicos do Governo Estadual visitam regularmente os agricultores para acompanhar o desenvolvimento das plantas. As que sofreram algum dano ou não vingaram são substituídas por mudas novas ou o plantio direto dos pinhões na terra.

Os técnicos também passam relatórios para a empresa patrocinadora. “Essa chancela institucional é muito importante para a empresa. Sem isso realmente ficaria difícil apoiar o projeto”, diz diretor-executivo do Grupo DSR, Paulo Caffeu.

Pelo projeto, a empresa paranaense ganhou, em 2014, o troféu Fretes e Frotas Verdes na categoria Sustentabilidade em Produtos. O Fretes e Frotas Verdes é uma iniciativa do Instituto Besc de Humanidades e Economia para premiar iniciativas de uso eficiente de combustíveis, materiais e melhores práticas no transporte de cargas e de passageiros.

O investimento no Estradas com Araucárias tem dado retorno para a DSR, principalmente na relação com os clientes. “É um diferencial muito valorizado pelos clientes que atendemos”, avalia Caffeu.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Na Lapa, a porta de entrada do projeto foi o Colégio Estadual Agrícola, que além de participar plantando araucárias no entorno da instituição, trabalha a educação ambiental com os alunos, a maioria filhos de pequenos agricultores da região.

As araucárias plantadas são de pinhões coletados pelos alunos do Colégio em propriedades dentro do próprio município. As sementes foram entregues ao Viveiro do IAP, em Curitiba, para serem transformadas em mudas de boa qualidade e depois devolvidas aos agricultores. Em Fernandes Pinheiro as mudas foram produzidas pela Unicentro.

O professor Heitor Leonardi acredita que o Estradas com Araucárias tem ajudado os agricultores da região a mudarem a opinião de que a espécie é uma inimiga dentro da propriedade. “Os filhos deles estão ajudando e aqui no colégio trabalhamos muito para reforçar a qualidade do pinheiro-do-paraná como alternativa de futuro”, diz Leonardi.

Depois do projeto, muitos pais de alunos têm plantado araucárias em suas propriedades de forma voluntária. É o caso da família da aluna Jaqueline Zelai Portes. O aluno Diogo Felipe Ribas Claudino também levou a ideia aos vizinhos da propriedade onde mora com família. “A terra onde moramos não é nossa, mas eu falei com alguns vizinhos que gostaram da ideia de plantar araucária, tanto na divisa como em outros locais dentro a propriedade”, diz.

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