A diferença entre ser um moralista e alguém íntegro

Confundimos pessoas íntegras e que prezam pelo bem comum com pessoas moralistas, mais preocupadas com as regras do que com as pessoas. Pessoas moralistas em nome de convenções sociais, incluindo as de ordem religiosa, discriminam quem foge ao script social, dividindo o mundo entre bons e maus. Ser bom vai muito além de cumprir regras. Ser bom exige generosidade, alteridade, isto é, capacidade de se colocar no lugar do outro.

A personagem vivida pela estonteante Michelle Pfeiffer no filme “A época da inocência” me parece um exemplo excelente de personagem extremamente íntegro e ético, porém não moralista. Para quem não viu o filme nem leu o romance, Ellen é uma mulher separada do marido que acaba despertando o amor de Newland Archer, um jovem advogado noivo da sua prima. Ela também se apaixona por ele pois encontra nele toda a dignidade que não encontrou em seu marido. Porém, Ellen abre mão do que sente em prol da prima.

Ellen era considerada uma mulher atípica e irreverente por ter deixado o marido. Ela é anticonvencional e dona de suas decisões numa sociedade rigidamente coreografada, em que qualquer passo em falso era fatal. Por outro lado, ela renuncia generosamente ao seu amor pelo bem da prima, sem nunca ter consumado fisicamente a sua paixão por Newland.

Pessoas boas colocam o ser humano à frente das regras. Se Ellen abriu mão de Newland não foi em nome das tradições e convenções. Ela abriu mão para evitar o sofrimento de um ente querido. O que pesou foi a prima e não o receio de ser julgada e criticada pela sociedade.

Jesus Cristo não foi um moralista, pois confraternizou com os excluídos e quebrou as regras para curar e ajudar quem precisava. O mundo precisa de menos regras e ritos. O mundo precisa de menos protocolos e formalidades. O mundo precisa de mais gente generosa, autêntica e íntegra que se expõe e se arrisca por aquilo que acredita. O mundo precisa de mais gente que quebre as regras para ajudar os mais fracos. Em uma sociedade tremendamente injusta como a nossa, muitas vezes, cumprir cegamente as regras é compactuar com o poder aniquilador.

É preciso menos olhares de espanto, menos caras de nojo e expressões perplexas diante do outro. No fundo, todo mundo quer amor. Todo mundo quer ser aceito, compreendido, acolhido. No fundo, todo mundo quer se reconhecer no outro mesmo que para isso precise escandalizar antes.

 

Please follow and like us: