Estava eu em sossego aqui na minha cobertura da Saldanha Marinho, junto com os pombos do telhado, quando recebi a edição nº 1923, de 10/16 de outubro do jornal A Tribuna Regional, editado na Lapa dos meus amores e que também circula na “Região Metropolitana” da legendária cidade (Contenda, Antônio Olinto, Araucária, São Mateus do Sul e Porto Amazonas), onde tive a honra de deixar o meu cordão umbilical. Ao abrir o tradicional semanário, levei um susto. Em manchete de primeira página e com realce no alto da página 5, a notícia saltava aos olhos: “Célio Guimarães é condenado por Impropriedade Administrativa”. Na sentença condenatória da juíza Viviane Cristina Dietrich, a definição de Luiz Alberto Ferracini para improbidade administrativa era destacada: “má qualidade, imoralidade, malícia, má-fama, incorreção, má conduta, má índole, mau caráter”.
Não demorou para cair a ficha: era coisa do meu clone genérico neolapiano…
Por isso, apresso-me em alertar os meus possíveis treze leitores, antes que o Zé Beto me ponha para fora do seu blog e encaminhe-me ao juiz Sérgio Moro: eu não tenho nada a ver com isso. O Célio da matéria não sou eu. Quer dizer, o meliante é outro.
Já tratei desse assunto no tempo de O Estado do Paraná e acho que também aqui neste espaço, em ocasiões pretéritas, mas urge repetir: Élio Narlok Wesolowski é um jovem nascido em 1981, que um dia aportou na Lapa, onde todos são sempre bem-vindos. Como tinha boa voz, foi ser locutor na rádio Nova Dimensão FM. Mas não gostava do próprio nome, que não lhe parecia sonoro nem compatível. Por isso, resolveu usar um pseudônimo e, não sei por que cargas de água, escolheu ou lhe foi sugerido exatamente “Célio Guimarães” – que por acaso já nomina um lapeano, ainda vivo, com RG e CPF, filho, neto e bisneto de lapeanos, que atuara por um bom tempo no rádio paranaense, como locutor, noticiarista, produtor e apresentador de programas, é também jornalista e já integrara a administração pública estadual: o digitador que vos digita. Em seguida, foi adotado pela família Gorniski e passou a ser repórter e chargista de A Tribuna Regional. Sempre como “Célio Guimarães”.
Conheci-o pessoalmente numa das reuniões do Instituto Histórico e Cultural da Lapa. Ele fez questão de apresentar-se a mim e até tirar uma foto ao meu lado. Pareceu-me um bom menino à procura de um lugar ao sol. Ponderei-lhe, no entanto, que o novo nome não fora uma boa escolha, particularmente por parte de quem mora e atua na nossa Lapa. Insisti que o melhor para ele seria seguir o seu caminho com identidade própria e fazer a sua própria história. Debalde.
Élio continuou sendo “Célio”. Quando isso começou a incomodar-me mais seriamente, criando-me algum embaraço e até constrangimento, enviei-lhe um novo recado-proclamação (“Liberdade para Élio Narlok!”), publicado n’O Estado, em março de 2008 e assim arrematado:
“Tenho sido paciente com Élio. Só que, agora, estou começando a perder a paciência. Por isso, espero, sinceramente, que ele tome consciência do equívoco que está cometendo e liberte, de uma vez por todas, o Élio Narlok”.
Não libertou. Ao contrário, expandiu as suas atividades, ganhou popularidade na histórica Lapa, ingressou na política partidária local e acabou sendo eleito vereador. Com o meu nome. Foi reeleito em 2013.
Lá pelas tantas, Élio resolveu ajuizar uma ação trabalhista contra a Editora Gráfica Nossa Senhora Aparecida Ltda., responsável pela publicação do jornal A Tribuna Regional, da família Gorniski, a mesma que o acolhera e apoiara. Só que, para tanto, utilizou como advogado Ricardo Prevedello, então seu assessor parlamentar na Câmara de Vereadores, onde percebia salário em regime de tempo integral e dedicação exclusiva (TIDE). Quer dizer: usou dinheiro público para atender interesse particular. Resultado: além de perder a questão em duas instâncias, Élio, como Célio, juntamente com Ricardo, foram objeto de uma Ação Cível Pública de Ressarcimento de Dano ao Patrimônio Público e Sanções pela Prática de Atos de Impropriedade Administrativa, por parte do Ministério Público estadual. O MP quer a devolução aos cofres municipais da quantia de R$ 14.684,43, além de apontar “os danos morais sofridos pelo Município em razão da repercussão negativa do fato no meio político local e entre os demais Municípios vizinhos”. A condenação de Élio – desgraçadamente ainda tratado como Célio – resultou dessa ação.
Pois é. Quando manifestei o meu desagrado pelo uso do meu nome por Élio e lamentei a liberalidade legislativa e a incúria da justiça eleitoral ao autorizar e registrar candidatos com o nome de terceiros – e não apenas pseudônimos ou patronímicos, mas nome e sobrenomes de pessoas existentes – além da pronta aceitação de toda uma cidade (e logo a Lapa!), levei uma saraivada de críticas de alguns lapianos, na verdade falsos lapeanos, porque os verdadeiros, tenham ou não nascidos na histórica cidade, são com “e”. Não aceitavam a minha implicância, arrogância e falta de compreensão e respeito a um pobre jovem, idealista, que apenas pretendia vencer na vida…
Estarão, hoje, tais pessoas, prestando-lhe solidariedade?…
A lamentar, por fim, que o jornal A Tribuna Regional, que tão bem conheceu Élio, tanto apoio lhe deu e dele recebeu, como agradecimento, uma reclamação trabalhista, continue denominando-o, em manchete, de “Célio Guimarães” e não tenha aproveitado a oportunidade para desmascará-lo por inteiro.
Ainda assim, a minha homenagem ao saudoso Aramis Gorniski, esse sim um autêntico idealista.
(Texto publicado na quinta-feira 17.11.2016 no blog do jornalista Zé Beto)
QUEM É CÉLIO HEITOR GUIMARÃES
Célio Heitor Guimarães, o original, é lapeano da Rua Barão do Rio Branco, onde veio ao mundo em agosto de 1940. É bisneto do juiz de Direito lapeano Francisco Alves Guimarães, que, entre outros feitos, foi um dos fundadores da Associação Lapeana de Letras e hoje repousa no mausoléu de uma das entradas do Cemitério Municipal da Lapa, e de Antônio Aracheski, que foi o primeiro dono de carro de praça da Lapa e hoje ocupa uma das gavetas do Patheon dos Heróis, da mesma cidade. É filho, neto, sobrinho e primo de lapeanos. Radialista, jornalista e advogado, foi locutor/apresentador nas rádios Santa Felicidade, Guairacá, Colombo, Ouro Verde, Cruzeiro do Sul e Independência, de Curitiba. Atuou nos jornais A Tarde, o Dia, Última Hora e O Estado do Paraná. Coeditou as revistas TV Programas, Guiatur e Programas. Foi assessor jurídico, diretor e subsecretário do Tribunal de Justiça do Estado. Como advogado, integrou o escritório Bacellar & Andrade Advogados Associados. É autor dos livros “Velha Lapa, de Heróis, Misticismo e de meus Amores”, “O Casarão do ‘seu’ Heitor”, “Quadrinho também é Cultura”, “Data Vênia, Excelências!” e “Como diz Rubem Alves” e coautor de “A Pequena Notável – A História da Televisão do Paraná está Aqui” (no prelo).