A gente vai ficando velho e vai observando tantos fatos que antes passavam sem sentir tantas emoções como na velhice.
Hoje, já velho e emotivo por excelência, fico emocionado com a cantoria dos pássaros na madrugada, inclusive um sabiá cujo território é pertinho do meu quintal.
De madrugada, 4h10, 4h50, ele começa a cantar canções com tinidos que beiram a fascinação. Meu chapéu de palha, que bonito, que encanto!
Outros passarinhos também cantam, dão seus pios e seus gargarejos! São os cantos dos pardais, dos tico-tico, das rolinhas, o perereco dos quero-quero…
Me faz lembrar ainda há 65, 69 anos, o canto dos galos que, com suas maviosas vozes, encantavam a alma da gente, e no alvorecer da madrugada se fazia anunciar a alvorada da natureza.
Há 2 mil anos Jesus Cristo, encantado com a voz do galo e prevendo seu abandono pelos amigos, disse a seu predileto amigo Pedro: “Pedro, antes que o galo cante duas vezes, me negara três vezes”.
O compadre Pedro, temeroso, assustado, ficou prestando atenção no formoso canto “Co-có, cororócocóóó”, como seria afirmar sua crença no Filho de Deus, feito homem!
De repente, sua alma descobre a sublimidade e reconhece o ser divino feito homem e parte para Roma, enfrenta a tirania contra Jesus, e se prontifica a ser executado de cabeça para baixo como perdão.
De repente o galo cantou e sua maviosa voz, tão linda quanto a aurora da natureza, soou em palavras misteriosas: “Coragem, Pedro, eu sou o teu senhor”.
Meu chapéu de palha, como é belo o canto da natureza! Quanta declaração de amor os pássaros fazem às suas passarinhas através do canto?
Ouvir o canto da madrugada é sentir que Deus está presente em todo o canto, com seu esplendor.
*Abdalla João Dardaque – Cidadão Honorário da Lapa.