Aureliano (Semana Farroupilha)

Barbudo cara enferruscada,

Sentado num banco de couro cru!

Ah! falador Aureliano!

Chimarreando num pátio do rancho, ao seu lado um casal de inhambu

 

Na sombra de um Cinamomo

Um cachorro, seu companheiro, com o focinho no chão,

Quieto! Com os olhos entre abertos

Como o que; se tivesse ordem de guardar o portão.

 

Sozinho na cena! Um rancho sem tinta, com tábuas velhas!

Onde residia um velho milico, guerreiro,

Conhecido no lugar; Chefe de milícia!

Que desde piá, foi respeitado tropeiro.

 

Um fogo aceso no chão,

Chaleira preta chiando na trempe!

Palheiro fumaceando na boca, com sapecado bigode,

Na mão uma cuia com chimarrão bem quente.

 

Faca de prata; de luxo! Na guaiaca!

Um revólver de cano longo; também,

Esse homem duro! Sério, sisudo!

Vivia só no rancho, sem parente, sem ninguém.

 

Por um vizinho de longe, soube de um grande alvoroço,

Prestes a acontecer no reduto da Lapa!

Com a notícia, sangue mais forte correndo no rosto e nas veias,

Pegou o material de peleia, um facão, a dois canos e a velha capa!

 

Cheiro de fumaça, pólvora e sangue forte!

Estava queimando a cidade,

Tiro e tiros de armas, estrondos de canhões,

Cenário sinistro, quadro de terror! Anúncio de muita morte!

 

Mais noite do que dia;

Fumaças e cinzas caídas no barro da rua

No silêncio do cano das armas frias,

O sono vencia a todos, na noite, em prata tímida, pequenos raios de Lua.

 

Acendendo e apagando uma fraca luz de lampião,

Só um bulicho aberto na fria, barrenta e deserta rua

Onde, num judiado balcão proseavam dois soldados

Um defendia sua causa, outro defendia a sua.

 

Duas criaturas sinistras,

Pintadas por pequenos lampejos de luz do bulicho,

Se pareciam pouco com gente,

E muito mais como bichos!

 

Já na madrugada chegando,

Se mandaram juntos até o breu da noite engolir suas imagens,

Entrando como num palco escuro,

Uma cortina preta, deu lhes passagens.

 

Forte zumbido seco! Estampido, estrondo forte!

Granada quente de um canhão, quebrando o chão!

Mortalha em sangue na suja farda coberta de barro,

Dois corpos gelados, rasgados, calados, dois corações!

 

Calaram-se os dois guerreiros

Fecharam seus olhos e não abriram mais! Dois Valentes!

Perguntou o corneteiro, para alguns soldados, “E O AURELIANO? ONDE SE METEU ESSE VIVENTE”?

 

Sumiu, sumiu! E não apareceu mais!

Seu Rancho virou tapera, o portão só pedaços no chão.

Com vida! Mais já bem velho!

Sozinho no pátio o cinamomo, guardando o reduto como se fosse um fiel peão.

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