O Projeto “Museu Dinâmico da Ferrovia” quer resgatar a memória histórica e cultural ligada ao Trem da Lapa. Objetivo é fomentar o turismo.
Já faz 20 anos que a cidade da Lapa ouviu pela última vez o apito de um trem de passageiros. Cortando a cidade, os velhos trilhos da ferrovia inaugurada no final do século XIX passaram a conduzir apenas as cargas que chegam e saem pelo Porto de Paranaguá. Mas a vontade de trazer de volta aquele velho assovio permaneceu pulsando na memória de muitos moradores e no coração de um grupo de apaixonados pela linha férrea.
Agora, a Prefeitura da Lapa tem um plano sólido para devolver à Lapa o encanto das composições que carregam passageiros. Na terça-feira, 27 de fevereiro, a administração municipal apresentou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) o projeto do Museu Dinâmico da Ferrovia. Trata-se de uma iniciativa para incentivar a preservação da memória ferroviária local.
De acordo com Márcio Assad, Diretor Municipal de Turismo, Comunicação e Eventos da cidade, o projeto vai utilizar a primeira locomotiva a vapor a ter circulado no Paraná. Trata-se da Maria-Fumaça nº 11. Produzida em 1883, durante anos ficou exposta no Shopping Estação, em Curitiba. Restaurada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, está pronta para voltar a rodar. Além dela, a composição terá, a princípio, dois carros de passageiros. Um terceiro carro também está nos planos.
O PROJETO
Segundo Assad, cinco mil alunos de várias regiões do Paraná visitaram o Centro de Memória Ferroviária da Lapa. Funcionando na estação central da cidade, o centro lembra a importância histórica e cultural da ferrovia. Por isso, o foco inicial do museu dinâmico será no turismo didático-pedagógico. “Às quartas-feiras, a composição vai levar os estudantes que visitam a Lapa. Antes de embarcar, eles receberão toda a informação cultural sobre a ferrovia. Então embarcam no trem, fazem um trecho até outra estação e voltam”, explica.
Para o Diretor, essa é uma maneira de fortalecer um nicho do turismo local que já está consolidado. Como a Lapa é uma das cidades históricas mais bem preservadas do Estado, ela naturalmente atrai o interesse de grupos escolares. Mas os adultos também terão a chance de aproveitar o trem. Aos sábados e domingos, o passeio se repetiria, dessa vez aberto ao público em geral.
PRESERVAÇÃO DA CULTURA
Todo o projeto está alinhado à resolução 359, da ANTT, publicada em 2003. O documento prevê “a prestação de serviços de transporte ferroviário de passageiros de finalidade turística, histórico-cultural e comemorativa”, por entidades públicas ou privadas. Mas é preciso que a própria ANTT autorize o serviço. Por isso representantes da Lapa foram a Brasília.
Na bagagem, a direção de turismo do município levou moções de apoio de diversas instituições. Entre elas estão o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR) e a Paraná Turismo (PRTur) – autarquia da Secretaria de Estado do Transporte e Turismo.
Para Assad, a comoção se deve à ligação emocional entre as pessoas e a ferrovia. “Estamos em uma região que abrange mais de 3,5 milhões de pessoas. Esse projeto tem todo um apelo cultural, a locomotiva exerce um fascínio nas pessoas. Há muitas crianças e até adultos que nunca andaram de trem e que, agora, poderão experimentar.”
INVESTIMENTOS
Tanto a Maria-Fumaça quanto os carros de passageiros da composição que deverá circular na Lapa são doações para o município. Também foi por meio de doação que o município conseguiu uma locomotiva a diesel para ser instalada na outra ponta da composição. “Sempre que você coloca um trem histórico na linha, é preciso ter um trem moderno para rebocá-lo em caso de pane. Então a própria composição do trem já é um museu. Em uma ponta vai estar o começo da história e na outra o trem moderno. Só isso já é curioso”, diz Assad.
Ele afirma que o Museu Dinâmico da Ferrovia é financeiramente autossustentável. O município não está, portanto, pleiteando recursos financeiros. A ideia é que o museu seja subsidiado pelos bilhetes comprados pelo público. Segundo estimativa da direção de turismo, eles custarão no máximo R$ 15 por pessoa nos passeios feitos para os estudantes e no máximo R$ 30 aos finais de semana. “No tempo da Maria-Fumaça a demanda era tão grande que as pessoas pegavam uma senha na quarta para comprar a passagem na sexta”, conta Assad.
Ele opina que, se a procura for igualmente grande com o novo projeto, o museu tem tudo para ser um sucesso. “O foco é excelente para a Lapa, extraordinário para o Paraná e cria uma condição muito especial de turismo. Também é uma forma de entendermos como o Brasil poderia ter sido se a ferrovia fosse uma prioridade”, afirma.