SUÍNOS LOCALMENTE ADAPTADOS: Conservação e utilização sustentável

De grande importância para pequenos agricultores, raças adaptadas tem menor custo de produção e mais rusticidade. Na foto, porca da raça Moura com seus filhotes.

*Texto adaptado de artigo enviado por Denyse M. G. Leite

Raças crioulas, que recentemente passaram a ser chamadas de “adaptadas localmente” tem forte tendência a serem extintas, apesar de terem grande importância para produção de subsistência e para melhoria genética de rebanho já instalado.

Na base de dados global de recursos genéticos animais para a alimentação e a agricultura da FAO, verifica-se que cerca de 20% das raças de animais domésticos são classificadas como ameaçadas de extinção. Motivo de preocupação ainda maior é que, em nível mundial, tem se extinguido quase uma raça por mês.
Sabe-se que no Brasil, parte das raças de animais domésticos se desenvolveram a partir de raças trazidas pelos colonizadores portugueses. Estas raças passaram a ser conhecidas como “crioulas”, “locais” ou “naturalizadas”, e mais recentemente denominadas de raças adaptadas localmente. Pela sua seleção apresentam características específicas de adaptação ás condições brasileiras, como tolerância a estresses climáticos, resistência a doenças e ectoparasitas.
Dentre as raças de suínos locais, no Brasil, podem ser citadas a Piau, Canastra, Canastrão, Caruncho, Pirapitinga, Moura, Monteiro, entre outras, que apresentam grande importância para a suinocultura de subsistência, pois possuem características de rusticidade, resistência a doenças, baixa exigência alimentar, e são mais adaptadas às mudanças climáticas do que as raças exóticas. Além disso, são consideradas fontes potenciais de novas variantes genéticas de extrema importância para o futuro da suinocultura nacional. Mas a maioria dessas raças encontra-se ameaçada de extinção.
Desde 2003 se intensificaram no Brasil trabalhos e estudos para identificar e selecionar estas raças. Nos estudos conduzidos na região Centro-Sul do Paraná, pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG e da Universidade Federal do Paraná – UFPR, encontraram populações de suínos com algumas caraterísticas morfológicas das raças de suínos naturalizados Moura e Piau, em comunidades tradicionais, denominadas Faxinais, onde a criação de suínos é ainda uma das principais atividades desenvolvida destes agricultores. Importante lembrar que existe inclusive evidência que alguns parâmetros de qualidade da carne e de produtos fabricados nos sistemas industriais podem ser melhorados pelo cruzamento das linhagens comerciais com raças rústicas nacionais.
Na Europa, diversas medidas adicionais como apoio às explorações tradicionais, associações de criadores, produtos certificados, bem como políticas de subsídio têm sido um importante estímulo na estratégia nacional de conservação dos recursos genéticos animais. Na zona Mediterrânica as raças naturalizadas de suínos contribuem para a manutenção das comunidades rurais e constituem parte integrante da cultura e tradições, assim como, das especialidades gastronômicas locais. Em Portugal existem vários produtos de suínos locais com certificados de Denominação de Origem Protegida (DOP) e de indicação Geográfica Protegida (IGP), com preços de comercialização diferenciados, o que podem ser exemplos para o Brasil.
Com tudo isso, torna-se bastante importante o trabalho de conservação destas raças, tanto para pequenos produtores quanto para grandes empresas do ramo, e também, é claro, para as economias locais.
Na Universidade Federal do Paraná existe um núcleo de conservação in situ da raça Moura que vem sendo mantido para estudos em diversas áreas e para divulgação da raça, visando encorajar os criadores a se envolver nessa tarefa.

 

Please follow and like us: