Venezuelanos: um renascimento na Lapa

Paróquia Santo Antonio participa de acolhida de imigrantes, intermediada pela Diocese de São José dos Pinhais. Cerca de 28 pessoas vindas do país vizinho terão uma Páscoa diferente neste ano, experimentando um novo sentido de renascimento.

Na quarta-feira, 10 de abril, a Diocese de São José dos Pinhais acolheu o primeiro grupo de venezuelanos que passarão a residir em várias cidades assistidos pelas paróquias da diocese.

Cerca de 28 venezuelanos desembarcaram no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, vindos da Diocese de Roraima. A recepção aconteceu na Sede da Catedral de São José com a acolhida do Bispo Dom Celso Antônio Marchiori.

As paróquias que acolheram os migrantes foram: Catedral de São José; Paróquia Rainha da Paz, Borda do Campo; Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Piraquara; Paróquia Santo Antônio, Lapa; Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Piraquara; Paróquia São Gabriel da Virgem Dolorosa, Fazenda Rio Grande.

O Plano Nacional de Integração “Caminhos de Solidariedade: Brasil e Venezuela” é uma iniciativa da Diocese de Roraima com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A iniciativa tem hoje o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) e já conta com mais de 700 imigrantes cadastrados e que livremente querem ser integrados onde houver acolhida. A diocese de São José dos Pinhais acolherá ao total nesta primeira etapa cerca de 45 pessoas.

NA LAPA

A Paróquia da Lapa acolheu Vitor Luiz, que é brasileiro, casado com a venezuelana Isabel Andreina Tineo Figueroa, mãe de Milibeth Virginia Garcia Tineo, de 12 anos de idade. Com apoio dos paroquianos foi montada uma casa para que possam iniciar uma nova etapa de suas vidas.

Segundo Vitor e Isabel, a acolhida no município foi maravilhosa. Em menos de 24 horas perceberam o tamanho da solidariedade da população da região, bastante diferente do que haviam vivenciado até então no país.

Agora, para que este reinício, esse “renascimento”, seja completo, é necessário que o casal tenha oportunidade de trabalho no município ou na região. Vitor é formado em Administração desde 1996, com larga experiência na área. Já Isabel é formada em Segurança do Trabalho, com experiência. Mas, já trabalhou em outras áreas também, como gerente de Recursos Humanos, assistente administrativa e vendedora. Eles estão em busca de oportunidade de trabalho na Lapa e região, para que possam viver com dignidade e refazer as suas vidas. Estão dispostos a “abraçar” todas as oportunidades que venham a surgir, independente de ser na área de sua formação ou não.

Quem tiver interesse em ajudar a família pode entrar em contato com a Paróquia Santo Antonio para saber como proceder ou fazer uma visita para a família na Rua Papa João XXIII, nº 84, bairro Barcelona que será recebido com muito carinho.

HISTÓRIA DE VIDA

Vitor, brasileiro, morava em Manaus e, lá, há três anos conheceu a Isabel, que hoje é sua esposa. Ela é venezuelana e imigrou em busca de uma vida melhor. Chegando ao país, não conseguiu trabalho e então aprendeu a fazer bolos. Mas, quando saía vender, não conseguia, por conta do preconceito existente com os imigrantes. Se o Vitor saía oferecer, conseguia vender. Com o relacionamento com Isabel, o brasileiro começou a ter noção da realidade vivida no país vizinho. Isabel decidiu deixar para trás sua terra natal ao perceber a crise que estava se instalando por lá. Entendeu que a médio e longo prazo não teria mais possibilidades de ter uma vida digna, nem para ela e nem para sua filha Milibeth, que ficou no país de origem até que a mãe tivesse o mínimo de condições para trazê-la também. Nesse meio tempo, Isabel e Vitor se uniram e se mudaram de Manaus para Belém do Pará, em busca de uma oportunidade de emprego, que acabou por não acontecer. Lá Isabel continuou a vender bolo, mas com a mesma dificuldade enfrentada em Manaus. Vitor teve que trabalhar de forma alternativa, o que os mantinha, mas ainda não dava oportunidade de trazer Milibeth para o Brasil. Os problemas na Venezuela foram se intensificando, com falta de dinheiro, falta de alimentos, hiperinflação, chegando ao estado que está atualmente, sendo considerada incontrolável por Vitor e Isabel. Ele conta que a quantidade de venezuelanos que chegam ao Brasil por Boa Vista é surreal. A situação, segundo Vitor, os forçou a ir para Boa Vista, para ficar mais perto da fronteira, com a finalidade de trazer a Milibeth para o Brasil o quanto antes. Isabel ainda tem sua mãe vivendo na Venezuela, que é uma senhora de idade, com diabetes. Como lá não há medicação disponível, Isabel e Vitor constantemente adquirem remédios e enviam a ela, pois precisa de cuidados diários, constantes.

Para ir para Boa Vista, o casal vendeu tudo o que tinha e comprou as passagens. Com o que sobrou foram comprados alguns dólares para que Isabel pudesse viajar até onde a Milibeth estava. Nesse meio tempo, Vitor conseguiu um emprego em Boa Vista e assim Isabel trouxe Milibeth para junto dela.

Os desafios de se viver em um país diferente são muitos. Além da língua, da questão da recolocação no mercado de trabalho, da cultura diferente, há o preconceito, a xenofobia. “Eu nunca imaginei viver uma coisa dessas na minha vida. Eu nunca imaginei que teria que sair do meu país, porque eu não escolhi sair do meu país porque eu queria sair. Eu tive que sair. Porque tenho uma filha, uma família para ajudar. Aí, no momento em que cheguei aqui, em Boa Vista, logo consegui um emprego, mas fui um pouco explorada. Trabalhava muito e recebia pouco. Trabalhava domingo, trabalhava feriado, e tinha maus tratos. Consegui ajuda quando comecei a trabalhar como voluntária para a Caritas e também na Pastoral da Criança. Isso para mim foi uma experiência muito linda, porque com as minhas dificuldades consegui ajudar outros venezuelanos que estavam pior do que eu”, relata Isabel.

A mãe de Isabel permanece na Venezuela. A saudade é grande. O contato, através de telefone, acontece às vezes uma vez por mês, às vezes a cada três meses. Isabel conseguiu trazer dois irmãos para o Brasil, eles estão em Curitiba.

Vitor e Isabel estão juntos há três anos. Agora inicia uma nova fase em suas vidas, um renascimento, a esperança de dias melhores.

 

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