Josué venceu a TB-XDR

A mais agressiva forma de tuberculose existente foi vencida num trabalho conjunto entre o Hospital Regional São Sebastião, Saúde de Campo Largo e o Simepar.

O Hospital Regional da Lapa São Sebastião foi a primeira unidade especializada no tratamento de pacientes com tuberculose (tisiologia) no Estado. O hospital foi fundado em 1927, quando houve um aumento nos casos de tuberculose no Paraná e o perfil epidemiológico da doença, com alto risco de contágio, também contribuiu para a fundação do HRLSS. De lá para cá, o hospital se tornou referência no tratamento da doença e atualmente o hospital atente 33 pacientes, entre homens e mulheres na tisiologia, onde o tratamento é de longa permanência e duração. Esses pacientes são aqueles que não conseguem realizar o tratamento em casa ou em uma unidade básica de saúde. São moradores de rua, pessoas interditadas judicialmente ou em outras situações que inviabilizariam o tratamento diretamente observado.

Faltando poucos dias para o hospital completar 92 anos, A Tribuna Regional entrevistou o médico Dr. Francisco Beraldi de Magalhães – Médico Infectologista do Hospital, que nos falou sobre a doença e nos contou a história de superação de um paciente, que ao longo de muitos anos com o diagnóstico da Tuberculose, conseguiu se curar.

Como nos relata Dr. Francisco, a tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo como causa isolada. Mata mais que HIV, malária, hepatite, dengue, entre outras doenças infecciosas, e o Brasil é um dos países que mais tem Tuberculose, concentrando cerca de 80% da doença no mundo.  Ela é transmitida pelo ar e o tratamento sem complicações leva, no mínimo, seis meses e, na maior parte dos casos, é feito com antibióticos. Mas como qualquer bactéria, a tuberculose também desenvolve resistência e quando os pacientes são resistentes a esses antibióticos, considera-se que eles tenham desenvolvido dois padrões de tuberculose; a TB-MDR (tuberculose multirresistente a medicamentos) e a mais rara e difícil de se tratar que é a tuberculose ultra-resistente (TB-XDR) que é identificada quando a resistência aos medicamentos se desenvolve durante a TB-MDR. A chance de cura é de apenas 20%.

O PACIENTE JOSUÉ

Josué Melchiada da Costa, 41 anos, natural de Campo Magro-PR é o paciente em tratamento mais antigo do hospital. Começou seu tratamento em meados de 2006, mas devido a uma série de intercorrências nunca terminou, e com esses acontecimentos se passou 13 anos de tentativa para o tratamento. Ao longo desses anos, Josué adquiriu o quadro de TB XDR, a tuberculose ultra-resistente, o que dificultou ainda mais o tratamento.

Foi em meados de 2017 que o paciente, com auxílio do hospital e do médico, iniciou uma nova tentativa de tratamento e desde então teve muita determinação e superação para prosseguir.

Nessa época o Ministério da Saúde estava testando um novo medicamento chamado Bedaquilina, um fármaco usado para o tratamento da tuberculose multirresistente. Josué foi uma das primeiras pessoas do Brasil que usou o medicamento, e nesse processo, passou por uma cirurgia para retirada pequena de uma parte do pulmão direito, o que facilitou em muito o tratamento. “Apesar de tudo, não foi nada fácil, imaginem fazer uma cirurgia e ficar por dois anos seguidos tomando remédios, todos os dias. Lembrando que um tratamento normal dura seis meses, e o quadro dele demorou dois anos. Foi com muito diálogo que conquistamos esse grande sucesso. Tivemos o apoio do Hospital São Sebastião, do SIMEPAR que nos solicitou os medicamentos e apoio da Unidade de Saúde de Campo Largo onde o paciente era acompanhado” – explicou Dr. Francisco, médico que acompanhou todo esse processo.

Josué também começou o tratamento com o medicamento Ertapeném, que é um remédio de teste para Tuberculose, e apenas 10 pessoas no mundo já haviam usado com sucesso. Josué mostrou a todos que com determinação e ajuda da medicina tudo pode dar certo.

No dia da entrevista, o último dia de consulta do paciente Josué, que, mesmo com todos os desafios, sempre se mostrou alegre e estava feliz com o resultado do tratamento e nos contou que “não foi nada fácil, no começo eu abusei, abandonei os tratamentos, mas com muita força de vontade eu venci. Experimentei novos medicamentos, poucos testados, fiz cirurgia, isso foi bom para mim e para a medicina. Agora estou curado, estou muito feliz.”, concluiu o paciente que agradece a todos do hospital São Sebastião, seus familiares, ao Dr. Francisco e a todos que de alguma forma deram total apoio.

Em sua última consulta o paciente Josué pousando para a foto com o médico Dr. Francisco Beraldi.

 

A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo como causa isolada.
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