Um número impressionante de tentativas de agressão à própria vida é constatado em nossa cidade e em todo o país. Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM divulgam e conquistam parceiros no Brasil inteiro com essa linda campanha, o Setembro Amarelo.

O dia 10 de setembro foi, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante todo o ano. Atualmente, o Setembro Amarelo é a maior campanha anti estigma do mundo! Em 2023, o lema é “Se precisar, peça ajuda!” e diversas ações já estão sendo desenvolvidas.

O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo e gera grandes prejuízos à sociedade. De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 01 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Na Lapa, segundo o Dr. Daniel Henrique Soldera, médico psiquiatra que trabalha no CAPS – Centro de Apoio Psico Social da Lapa, são atendidos até dois casos de tentativa de suicídio por dia na unidade, fato que preocupa e muito a equipe e toda a comunidade envolvida.

Embora os números estejam diminuindo em todo o mundo, os países das Américas vão na contramão dessa tendência, com índices que não param de aumentar, segundo a OMS. Sabe-se que praticamente 100% de todos os casos de suicídio estavam relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Dessa forma, a maioria dos casos poderia ter sido evitada se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade.

Quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. Essas pessoas pensam rigidamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe.

Todos nós devemos atuar ativamente na conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu. É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda e entendam que a vida sempre vai ser a melhor escolha.

Se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde – OMS, todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios.

O suicídio foi a quarta causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.

Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil. Na Lapa o índice é aproximadamente de duas tentativas por dia, segundo informações do CAPS.

O Dr. Daniel Henrique Soldera trabalha no Centro de Apoio PsicoSocial da Lapa – CAPS e relata o impressionante número de duas tentativas de suicídio ao dia, principalmente entre moradores do interior do município. Segundo ele, existe muita dificuldade para as pessoas lidarem com suas frustrações, e a falta de afeto e contato humano agravam o quadro.

As novas gerações tem muita dificuldade para trabalhar com a contrariedade e a frustração, a cada dez tentativas de suicídio, nove são em razão de transtornos mentais. Segundo o psiquiatra, os Quatro D´s envolvidos na situação em que uma pessoa atenta contra a própria vida são:

 A DEPRESSÃO, onde o indivíduo acaba ficando mais de duas semanas triste, sem vontade, sem energia, e não é notado. Além disso, outro D é O DESESPERO, onde a pessoa não vê solução nem saída no seu problema. O terceiro D é A DESESPERANÇA, onde o indivíduo perde todas as suas bases e não vê ‘luz no fim do túnel’ e nem consegue enxergar uma possível melhora e para finalizar e o último D é O DESAMPARO, que parte da falta de suporte familiar adequada, falta de amigos e grupos de apoio. Somando estes quatro D´s, a receita está pronta para um possível atentado contra a própria vida.

O Dr. Daniel afirma que precisamos sempre estar em grupo, mantendo contato com os próximos, para evitar a falta de amor, empatia e afeto, pois os principais atingidos pelas tendências suicidas são adolescentes com abandono, apatia, falta de amor e falta de tempo de qualidade. A orientação do Psiquiatra é ouvir sem julgar, sem dar palpite. Segundo ele ouvir é simplesmente deixar o outro falar e propor ajuda.

O CAPS

O CAPS da Lapa busca tratar os transtornos e os principais deles são a depressão e a ansiedade, que muitas vezes demandam mais empatia do que tratamento, pois não são ‘frescuras’ pessoais e sim males que podem trazer consequências maiores.

Mais de 800 pessoas são atendidas na unidade mensalmente e todas elas serão acolhidas conforme suas prioridades, focando principalmente os casos mais graves que são analisados com primazia.

O Dr. Daniel Soldera afirma que o Setembro Amarelo é muito importante “para que possamos olhar para o próximo e ver os que tem problemas para serem trabalhados” e complementa dizendo que a quarta onda da pandemia já havia sido prevista, trazendo os transtornos mentais, medo, insegurança ativadas por muito tempo.

 CUIDE-SE

Ao menor sinal de depressão, desespero, desesperança, desamparo procure os mais próximos e não deixe o problema crescer. Se precisar de ajuda o CAPS está à disposição e faz um excelente trabalho no sentido de melhorar a qualidade de vida dos seus atendidos.