A “COLONIZAÇÃO” DE ESPAÇOS PÚBLICOS

Tenho o costume de, ao chegar em casa no fim da tarde, se for um dia de sol, colocar uma cadeira sob a árvore que plantei na rua (plantei já pensando na sua sombra), e tomar meu chimarrão, bem tranquilo. Meus filhos aproveitam para brincar na rua, andando de bicicleta ou fazendo outras atividades. Vez por outra algum vizinho ou vizinha aparece e toma chimarrão junto, ou apenas bate um papo por algum momento. Quando não tem vizinho, fico lendo algum livro ou revista.

Esta semana estava analisando a situação. No meu quarteirão existe, além de mim, mais dois vizinhos que sempre fazem atividades na calçada. Isso faz com que no nosso trecho da rua sempre exista algum morador observando figuras diferentes que possam cruzar por ali. Coincidência ou consequência, não sei dizer, nenhuma das casas deste trecho sofreu assaltos nos últimos anos.

Mas isso me fez lembrar de uma das minhas aulas de ecologia, na época da faculdade. Existe uma regrinha básica que nenhum ambiente é livre de colonização por organismos vivos, se estes tiverem acesso ao local. Ou seja, se o espaço estiver desocupado, ele irá ser colonizado por alguém.

Se transportarmos a teoria para o espaço urbano, com nossas ruas, praças e parques, fica a pergunta: quem está colonizando esses espaços públicos são pessoas de família, de bem, ou malandros? Quem mora em frente ou próximo às nossas praças, está aproveitando o local? O Parque do Monge e Parque Linear estão bem frequentados por famílias? A sua rua é frequentada por crianças brincando, vizinhos batendo papo no final da tarde? Se alguma dessas respostas for “não”, quem está ocupando estes espaços?

Temos que lembrar que a grande maioria da “bandidagem” de nossa cidade não são os bandidos profissionais. São aqueles adolescentes cheios de energia que querem quebrar alguma coisa. É aquela vizinha que achou uma planta de seu jardim bonita, e não quer gastar R$ 10 para comprar uma igual. É aquele ladrãozinho oportunista que pula o muro para roubar um tênis. Ou seja, na maior parte temos “bandidos de oportunidade”.

A presença de pessoas de bem nos espaços públicos tem um efeito muito forte de restringir as ações justamente destes bandidos de oportunidade.

Claro, traz benefícios também contra bandidos profissionais quando usamos estes espaços, acabamos fazendo mais amizades e deixamos de lado o costume curitibano de não conhecer o próprio vizinho. Com uma amizade melhor na vizinhança, fica fácil de perceber situações não normais, como por exemplo um caminhão de mudança estacionado na garagem de um vizinho que nunca comentou que iria se mudar. Ou até alguma movimentação diferente dentro da casa.

Já perceberam que alarme não alerta ninguém? Quantas vezes algum alarme tocou na vizinhança e você chamou a polícia? Provavelmente poucas – mais provável que nunca tenha acionado polícia. Se você conhece seu vizinho, pode ser que perceba que o tal alarme não foi um disparo aleatório.

Existem ainda outros benefícios de ocupar espaços públicos: a população percebe falhas de urbanização e aos poucos vai corrigindo-as, melhorando o espaço. Com um ambiente seguro, a criançada tem um espaço para deixar de lado seus tablets e TV´s, e brincar de verdade.

Desta forma, gostaria de deixar meu parabéns a todos os lapeanos que como eu tem o costume de passar algum tempo na calçada em frente a sua casa, ou ainda em praças e parques. Vale também o canteiro central da Av. Manoel Pedro e Munhoz da Rocha.

E claro, aproveito para pedir aos demais que cultivem este costume. Só traz benefícios.

 

*Dartagnan Gorniski é proprietário do site www.floramonteclaro.com.br e professor. É Engenheiro Florestal, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Especialista em Certificação Ambiental e Licenciado em Matemática, e nas horas vagas dá palpites sobre tudo o que vê pela frente.

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