O conservadorismo como ideologia!

Já faz algumas semanas que logo após uma prova de matemática, lá no Mato Preto, eu estava passando as respostas no quadro e uma das alunas da classe, por sinal, uma das mais inteligentes, iniciou uma conversa sobre política. Não costumo levantar esse assunto em aula, até porque não sou professor da área de humanas, mas ali, a aula já havia acabado e a aluna pedia opinião pessoal.

Conversa vai, conversa vem, e me espantou um comentário que a mesma fez: “Deus me livre algum dia apoiar opiniões conservadoras”. Para tirar algumas dúvidas, comecei a questionar a garota sobre temas como aborto, educação sexual, direitos a minorias (cotas, por exemplo), e outras coisas do tipo. Surpresa: ela era conservadora.

Hoje temos uma mídia que demoniza tudo quanto é valor conservador, e as vezes chega a alguns absurdos. Por outro lado, temos valores familiares e religiosos sendo passados aos filhos, e boa parte destes são conservadores. Tanto é que muitos que são conservadores se declaram “liberais conservadores”, uma vez que o conservadorismo compartilha a ideia liberal de Estado Mínimo.

Mas o que é “ser conservador”? Basicamente não existia uma “ideologia conservadora” até o inicio do século XX, quando Russel Kirk escreveu sobre o assunto. Até então, um conservador era alguém que até aceitava mudanças, desde que fossem graduais e portanto, passiveis de ser revertidas caso trouxessem problemas. Nada de revolução, e sim evolução.

A partir de Russel Kirk tivemos ainda algumas “padronizações” do pensamento conservador para a sociedade ocidental, capitalista e de origem cristã. São elas:

  1. O Homem pode ser bom ou mau, portanto não podemos dar poder total a ninguém e a liberdade é necessária.
  2. Existem direitos e valores do homem que precedem qualquer sociedade. Vida, liberdade, livre expressão, direito a propriedade por exemplo, são direitos fundamentais. Família, pátria e religião são valores estimados.
  3. Todos que vivemos em sociedade temos direitos e responsabilidades. Se você nega suas responsabilidades, também está negando seus direitos.
  4. O governo foi criado para garantir os direitos e valores básicos. No momento que para de fazer isso, perde legitimidade.

Desta forma, ser contra o aborto após a criança estar formada na barriga da mãe, é um valor conservador. Ser a favor de penas severas para bandidos que cometem crimes graves, também é ser conservador. Garantir a todos a liberdade de falar, mesmo não concordando com o que a pessoa fale, é ser conservador. Desta forma, percebemos que não devemos demonizar quem se diz conservador… as vezes o pensamento conservador é bem mais coerente.

Anteriormente citei Martin Luther King como conservador. Considero isso porque ele era militante do Partido Republicano nos EUA – o mesmo partido de Donald Trump. E na história dos Republicanos americanos sempre esteve presente o ideário conservador. Aliás, Russel Kirk, que citei lá no começo, era republicano.

Podem estar achando estranho que eu tenha me declarado liberal em um artigo anterior, e agora esteja na defesa dos conservadores, não é mesmo? Mas lembrem-se da parábola da caixa de bombons. Nem todas as ideias liberais me agradam, assim como nem todas as ideias conservadoras me agradam. Mas porque tenho que ficar preso a uma única corrente de pensamento? Porque não escolher os melhores bombons de cada caixa?

*Dartagnan Gorniski é proprietário do site www.floramonteclaro.com.br  e professor. É Engenheiro Florestal, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Especialista em Certificação Ambiental e Licenciado em Matemática, e nas horas vagas dá palpites sobre tudo o que vê pela frente.

 

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