Esta semana recebemos com tristeza a notícia do falecimento do nosso mais antigo colunista, o Subtenente da reserva, Abdala João Dardaque, com 84 anos. É uma perda significativa para a cultura local. Abdala era historiador, músico, tenor e muito interessado por tudo que dizia respeito à Lapa.
Tenho quarenta e quatro anos, conheci “Seo” Abdala muito cedo. Homem falante e sempre alegre, encantava os presentes com seus contos e histórias. Aprendi com ele e com meu falecido pai, Aramis Gorniski, a cultivar o amor à Lapa e a buscar saber mais das histórias contadas por aqui. O amor pela leitura que cultivo também pode, em partes, ser atribuído a essa convivência.
“Seo” Abdala era figura constante em toda a minha infância e juventude. Contador de histórias como ele só, lembrava sorrindo das peraltices infantis quando a Lapa era apenas uma cidadezinha do interior. Citava com emoção as histórias de violência que ouviu quando criança dos mais idosos que haviam participado do Cerco da Lapa. Lágrimas vertiam de seus olhos.
Muitas eram as ocasiões em que nos impressionávamos com as histórias contadas pelo ex-militar. Eram tantos detalhes e nuances inclusas em seus contos que conseguíamos ver o cenário em nossas mentes.
Não só de história e causos vivia “Seo” Abdala. Músico e Tenor, participou desde cedo das mais inúmeras iniciativas para a criação de um coral na Lapa. Surgiu, junto com outras figuras ilustres, o Coral Vozes da Lapa, pelo qual Abdala nutria um grande carinho.
Praticamente parte da nossa família, foram muitas as vezes em que pude desabafar inquietações adolescentes com o nobre militar. Ele, com sua paciência e retidão, sempre buscava orientar de maneira correta, valorizando o bom senso e a honestidade.
Víamos no “Seo” Abdala um amor infinito à vida, que se transmitia em carinho para sua esposa Saide e seus filhos. Com a passagem da Dona Saide, Seo Abdala ficou mais triste, mas mesmo assim mantinha viva a chama da alegria e simpatia.
Sempre era um evento a visita do nosso cronista. A cada nova história ele nos contava os detalhes que o fizeram chegar àquele texto. E como se divertia contando os causos de lobisomens, boitatás e outros seres que assombravam a cidade nos idos da década de quarenta e cinquenta.
A passagem de “Seo” Abdala João Dardaque por este mundo serviu para enriquecer a cultura, aprimorar a alegria e demonstrar o entusiasmo de um homem simples e honrado pelos valores da sua terra.
Como homenagem ao nosso cronista, só podemos bradar, a plenos pulmões: LAPA!!