Jesus Cristo disse: “Tudo, pois que quereis que as pessoas vos façam, fazei-o vós também a elas. Essa é a lei e os profetas” – Mt 7.12.
Com estas palavras, Jesus Cristo encerra Seus ensinamentos nesses três capítulos e os resume a todos num pequeno ‘pacotinho’, onde se encontra tudo, e as quais cada um pode guardar em seu peito e lembrá-las perfeitamente, por amor da sua salvação presente e eterna. É como se quisesse dizer: se quiserem saber o que preguei e o que também ensinam Moisés e todos os profetas legítimos, quero dizê-lo a vocês em breves palavras e fazer um resumo, para que não possam queixar-se de que é muito longo e difícil de guardar. Pois essa é uma prédica que se pode estender e ampliar longamente, mas também, pode ser resumida. Dela decorre e se deriva toda a doutrina e toda pregação, para aqui, concentrar-se novamente. Como se poderia dizer isso mais sucintamente do que com essas palavras? Acontece, porém, que o mundo hostil a Cristo e nosso velho Adão, pecador por natureza, não permitem que meditemos sobre elas e comparemos nossa vida com o ensinamento dEle. Deixamos entrá-las por um ouvido e sair novamente pelo outro. Se, todavia, as comparássemos sempre com nossa vida e nossas obras, não procederíamos tão grosseiramente, desprezando-as, mas teríamos sempre o suficiente para fazer e poderíamos, perfeitamente, tornar-nos nossos próprios mestres e ensinar-nos o que devemos fazer e deixar. Aí não precisaríamos correr atrás de vida santa e obras santas, nem precisaríamos para isso muitos juristas e leis, pois temos um resumo que se aprende logo, desde que exista empenho e seriedade para agir e viver de acordo.
Quero ilustrar isso com exemplo um tanto tosco: ninguém gosta que se lhe roube algo, certo? Se perguntar seu coração a respeito, terá que dizer que, com efeito, não gostaria que isso acontecesse. Por que então não conclui que deve fazer o mesmo com o outro / a outra? No passado, num lugar que noutro acontecia, que quando alguém ia às compras, se verificava que cada um eleva o preço de sua mercadoria e/ou produto a seu bel-prazer, querendo oferecer o que tinha por valor muito acima do que valia. E se alguém lhe perguntava: meu caro, você gostaria que se fizesse o mesmo com você? Aí, se fosse honesta, tal pessoa não seria tão grosseira e insensata a ponto de dizer: eu gostaria de comprar as coisas a preço de mercado e pagar o que é justo e correto, para que não seja explorado. Eis aí teu coração, que te diz muito bem o que gostarias de ter, e tua consciência que conclui também deverias fazer o mesmo as outras pessoas. Ela pode ensinar-lhe muito bem como você deve comportar-se em relação à pessoa próxima em termos de compra e venda e outros negócios. Tudo isso está enquadrado no Mandamento de Deus: não furtarás.
O mesmo se aplica aos outros mandamentos. Se tens mulher, filha ou empregadas, não gostarias que elas fossem envolvidas em escândalos ou que se falasse mal delas. Quererias, muito antes, que todos as tratassem com respeito, que as tratassem bem e falassem o melhor a respeito delas. Por que então és tão perverso que cobiças a mulher de alguém outro, causando-lhe um vexame? Ou por que te omites quando deverias ajudar-lhe a recuperar a honra e, antes, tens prazer em caluniar e difamar? Tu também não gostarias que alguém te causasse algum prejuízo ou mal, ou falasse mal de ti e coisas semelhantes. Por que então tu mesmo não observas a regra e o limite que exiges de outros e esperas deles? Como podes julgar, criticar e condenar tão depressa o outro, se ele não faz o mesmo contigo? Não obstante, não queres observar tua própria regra. Passa, desse modo, todos os mandamentos da segunda tábua e verás que esse é o verdadeiro resumo de toda a pregação que se possa proferir, como Cristo mesmo diz aqui. Por isso se chama corretamente uma pregação curta.