Jesus Cristo pregou doutrinando / doutrinou pregando, conforme lemos em Mt 6.34: “Por isso, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã providenciará o que for necessário. Basta que cada dia tenha sua própria desgraça.” Ou, conforme uma outra tradução, que nos é mais familiar, certamente: “Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.”
Ele, o nosso único e suficiente SENHOR e Salvador Jesus Cristo, quer dizer, com Suas palavras breves, firmes, verazes, objetivas, o seguinte: fiquem com a preocupação em como manter o reino de Deus, que é o reino da fé, presente entre vocês e livrem-se das outras preocupações mundano-carnais, pecaminoso-diabólicas de modo tão radical que sequer se tomem previdências para o dia de amanhã. Pois quando chegar o dia de amanhã, ele trará consigo suas próprias preocupações, conforme o ditado: “Cada dia tem a sua solução” ou “chega o dia, também chega a solução”, pois, de qualquer modo, nossa preocupação nada resolve, ainda que me preocupasse com um dia apenas. A experiência mostra que muitas vezes dois ou três dias passam mais depressa do que o dia de hoje, e se Deus quer e dá, segundo Lhe apraz, Sua bênção a alguém, esse pode, muitas vezes, realizar mais numa hora do que outro em quatro dias com grande esforço e preocupação. Enquanto um se empenhou por muito tempo e está no fim com sua preocupação, de modo que se enfadou a si mesmo, outro o teria feito numa hora. Portanto, ninguém consegue realizar qualquer coisa enquanto não vier a hora que Deus estabelece sem nossa preocupação, de graça. É uma tentativa vã querer antecipar-se e realizar grandes planos, como pensas, talvez, com tua preocupação.
Pois nosso SENHOR Deus, Criador e Mantenedor de tudo o que vemos e não vemos, conhece a arte de nos abreviar ou prolongar secretamente tempo e hora, de modo que uma hora, por vezes, se Lhe aprouver, se transforma em catorze dias e vice-versa, de sorte que um não consegue mais em longo trabalho e muito esforço do que outro com trabalho breve e leve. Diariamente se pode fazer a experiência de que há muitos que com muito e constante trabalho mal e mal conseguem ganhar o pão de cada dia, enquanto outros arranjaram e organizaram seus negócios sem especial esforço tão bem que tudo corre bem e são recompensados. Deus providencia tudo isso dessa maneira para que não pensemos, como gente discípula de coração temente a Deus e piedoso, que a bênção divina depende de nossa preocupação. Pois não queremos esperar até que esses bens nos sejam concedidos da parte de Deus, e, sim, nós mesmos queremos procurá-los antes que Deus os dá.
Observa, por exemplo, o que acontece nas minas. Aí, às vezes, se cava e procura com afinco, no entanto, acontece com frequência que onde havia as maiores perspectivas de encontrar minério e tudo parecia ‘transformar-se em ouro’, aí nada se encontra, ou o veio se interrompe logo adiante e tudo se esvai entre as mãos. Por outro lado, em outros lugares, que foram descartados e abandonados, muitas vezes, os resultados são inesperadamente os mais ricos. Enquanto um investe todos os seus bens e nada consegue, outro se transforma de mendigo em senhor. Mais tarde, os que tiraram dali dez milhões, tornam a ser mendigos antes que passem dez anos, e é raro que uma riqueza tão grande chegue ao terceiro herdeiro. Em resumo: a bênção divina não é conquistada, e, sim, concedida, não encontrada, e, sim, dada de graça para que haja prosperidade e bênção que reparte e distribui, no conjunto da Criação, em favor da pessoa próxima. Nós, porém, gostaríamos de que as coisas corressem conforme nossos planos. Por aí, nada feito. Tudo, necessariamente, acontece e se dá segundo Deus.