Jesus Cristo, doutrinando, disse: “Por que vês a felpa no olho de teu irmão e não percebes a trave em teu olho? Ou como ousas dizer a teu irmão: espera, quero tirar a felpa de teu olho, enquanto há uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, depois vê como tirar a felpa do olho do irmão” – Mt 7.3-5.
Quando as pessoas começam a julgar e a criticar-se mutuamente, observa-se a hipocrisia e a jactância presentes nas palavras que verborragem, autoindulgentes, dizendo, por exemplo: “eu não o faço por hostilidade contra a pessoa, e, sim, por amor à justiça. Eu sou amigo da pessoa, mas inimigo da causa.” Isto, certamente, cá e lá, faz uma ‘cócega’ tão agradável sob o belo manto de legalidade, que, jamais, se percebe uma trave em si, antes, sempre, e tão somente, nas outras pessoas. Sim, de preferência, se crítica e se julga as que a gente não gosta, porque elas questionam o nosso autoindulgente muito brilhar na aparência.
Toma nota: a ti não compete julgar e condenar a teu bel-prazer, sem palavra e ordem de Deus, e, depois, falar em honra e justiça de Deus. Pelo contrário, trata-se de um acréscimo diabólico que se máscara com esse manto e faz uma ‘maquiagem’ bonita, pois, aqui, ouves que Deus não quer que ousemos ser juízes, nós mesmos, seja em assuntos de doutrina ou da vida. Onde, porém, é preciso julgar e punir, em Igreja e Sociedade, que o faça quem têm a ordem para isto e que para tal foi comissionado legitimamente: no regime espiritual e no regime secular, ou, então, um irmão com um irmão em particular, em amor fraternal, que carrega e corrige as fraquezas do/a próximo/a, por amor da sua salvação, presente e eterna.
Do extraordinário do discipulado tratara o capítulo cinco; da secreta e ingênua justiça dos discípulos, o capítulo seis. Tanto o extraordinário como a justiça secreta separava os discípulos da comunhão a que pertenciam anteriormente, compromissando-os exclusivamente com Jesus. Traçara-se um limite muito claro. Daí resulta a pergunta pelo relacionamento dos discípulos com as pessoas a seu redor. Teria essa separação experimentada pelos discípulos, colocado os mesmos numa situação legal própria? Teriam sido dotados de poderes, critérios e talentos especiais que lhes permitissem reivindicar autoridade especial em relação a esses outros? Seria de supor que os discípulos se separariam de seu meio-ambiente com juízo severo e separatista. Jesus sente, pois, a necessidade de esclarecer que tais mal-entendidos poriam em sério perigo o discipulado. O discípulo está proibido de julgar. Se o fizer, está sujeito ao julgamento de Deus. A espada com o qual julgam o irmão, se voltará contra eles próprios. A incisão com a qual se separam dos outros, como os justos dos injustos, separa-os de Jesus.
O discípulo vive, inteiramente da comunhão, com Cristo. Tem sua justiça somente nessa comunhão, e jamais fora dela. A justiça jamais ele a pode usar como critério, como se a possuísse a seu dispor. O que faz dele um discípulo não é uma nova dimensão de sua vida, mas exclusivamente o próprio Mediador. Sua própria justiça, pois, está em secreto na comunhão de Jesus. Já não pode ver-se a si mesmo, observar-se, julgar-se, pois vê unicamente a Jesus, e é visto somente por Ele, que lhe julga e agracia. Assim não é um critério de vida em justiça que separa os discípulos dos outros, mas o próprio Cristo; o discípulo vê o outro como alguém ao qual Jesus está chegando. Encontra-se com o outro somente porque, na companhia de Cristo, vai de encontro ao outro. Jesus vai ao outro adiante do discípulo e este lhe segue. Assim o encontro do discípulo com o outro jamais é o encontro livre de duas pessoas que justapõem suas opiniões, seus critérios e juízos diretamente. Antes, o discípulo pode encontrar-se com o outro somente como alguém ao qual está chegando o próprio Jesus, com Seus benefícios.