COMPROMISSO

Quem vem nos acompanhando até aqui deve ter notado que nós pontuamos não o fato de que o mal existe no mundo, mas, sim, sobretudo, que surpreendentemente existe bondade, graça e compromisso nele mesmo após a queda de Adão e Eva em pecado. O chamado da Palavra de Deus às boas obras adversa diretamente contra a fé, o ensino e a confissão de que o ser humano é bom por natureza e que ele próprio pode ser o agente do que Deus ajuíza como boa obra. Deus nos convoca a reflexão no sentido de que denunciemos em nós mesmos o egoísmo e o endeusamento do ser humano como aquele que pode, por livre decisão, criar a verdade universal que resulta em vida e viver pleno de justiça original.

As boas obras descritas nos primeiros três Mandamentos de Deus são conteúdo do que pedimos no Pai-Nosso. Na introdução, dizemos: “Pai nosso, que estás nos céus.” São palavras da primeira obra da fé, que, segundo o primeiro Mandamento – “Eu sou o SENHOR teu Deus. Não terás outros deuses diante de Mim” –, não duvida que tem o gracioso Deus e Pai no céu. A primeira petição é: “Santificado seja o Teu nome.” Nisto a fé está desejando que seja exaltado o nome, o louvor e a honra de Deus, invocando-O em todas as necessidades, conforme reza o segundo Mandamento: “Não tomarás em vão o nome do SENHOR, teu Deus, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão.” A segunda petição do Pai Nosso é: “Venha o Teu reino.” Nela pedimos que, somente, a obra de Deus esteja em nós e, assim, Ele venha a reger em nós como em Seu próprio reino, conforme Ele diz: “Percebam que o reino de Deus não está em lugar algum senão em vocês mesmos” – Lc 17.21. Na terceira petição, “seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”, pedimos que possamos cumprir e guardar os sete Mandamentos da segunda tábua, nos quais a fé também é exercitada em relação ao próximo, assim como, nestes três primeiros, é exercitada em obras referentes, unicamente, a Deus. Estas são as petições em que aparecem os pronomes: “teu”, “tua”, uma vez que, exclusivamente, procuram o que pertence a Deus. Em todos os outros: “nosso”, “nos”, “nós”, “aos nossos”, estamos pedindo por nossos bens e nossa bem-aventurança.

O primeiro Mandamento de Deus da segunda tábua é: “Honrarás o teu pai e a tua mãe para que vás bem e vivas muito tempo sobre a terra.” Deste Mandamento aprendemos do próprio Deus que, depois das elevadas obras dos três primeiros Mandamentos, não há obras melhores do que a obediência e o serviço a todas as pessoas que estão colocadas como autoridade sobre nós. Por isso a desobediência às autoridades enquanto comprometidas com Deus é, também, pecado maior que o homicídio, a incastidade, o roubo, a fraude e tudo que possa ser incluído entre estas coisas pecaminosas. Pois a distinção entre os pecados, isto é, qual seria maior que o outro, não podemos reconhecer melhor do que a partir da ordem dos Mandamentos de Deus, se bem que cada Mandamento por si mesmo apresenta uma diferença entre suas obras. Quem não sabe que imprecar é mais grave do que irar-se, ou que agredir alguém. Portanto, estes sete Mandamentos nos ensinam com nós devemos nos exercitar em boas obras em relação às pessoas, e, em primeiro, lugar em relação aos nossos superiores.

Deus nos responsabiliza em relação aos nossos atos e omissões, quer em relação a Ele, a nós mesmos, ou em relação ao nosso semelhante. Ninguém pode dizer que não sabe como fazer boas obras ou que não precisa da autoridade de Deus falando a nós pela Palavra.

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com