Jesus veio, se apresentou e abrindo a boca disse, com clareza: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” – Mt 5.43-48.
Ninguém de nós, fora da Palavra e do exercício de sua função e incumbência, tem o direito e o dever de odiar a quem quer que seja! Deus, mediante Cristo, não quer que ninguém seja perdido/a. Como Moisés, também Salomão, que compreende e interpreta corretamente, o que consta em Deuteronômio, no que diz respeito gente inimiga, diz: “Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe que beber” – Pv 25.21, frase essa que também Paulo cita em Rm 12.30. Pois odiar o inimigo é da competência de uma pessoa pública ou de quem foi comissionado para isso por Deus. Mas o mandamento: “Amarás teu próximo como a ti mesmo” vale para o povo em geral e para cada pessoa individualmente. A ti e a mim não compete, de modo algum, individualmente, nos inimizar e fazer acepção de pessoas!
Observa que alvo elevado Jesus Cristo propõe para as pessoas discípulas do passado e do presente. Ele não repreende apenas as que infligem males às pessoas inimigas, mas, tampouco, permite que sejam chamados/as justos/as os/as que deixam de lhes fazer o bem onde deveriam e podiam, com toda certeza. Pois aos/às primeiros/as inimigos/as diz: “Amai vossos inimigos”. Amar, porém, significa ser compassivo e desejar todo o bem, ser gentil e bondoso de coração, congraçar via perdão, não alegrar-se com o prejuízo ou infortúnio do/a outro/a. Jesus Cristo também quer que isso se expresse em palavras, quando diz: “Abençoai os que vos amaldiçoam…”, portanto, que não se diga nenhuma palavra maldosa, ainda que nos, como gente discípula de Cristo, ralhem, injuriem, caluniem e amaldiçoem da pior maneira possível. Pelo contrário, nós devemos falar deles/as o que compete ao interpretar tudo da melhor maneira e desejar-lhes, com coração regenerado pela fé na Palavra, somente o bem. Daí provém o excelente provérbio cristão que certas pessoas piedosas do passado e do presente usam ao ouvirem quando se cometeu uma injustiça ou se aprontou uma atrocidade contra elas, dizendo: que Deus lhe perdoe! Lamentar o mal que lhe aconteceu e demonstrar compaixão, nada mais desejar senão que isso não venha em prejuízo perante Deus. Isso é uma língua boa em resposta à outra língua má, sendo que tanto a boca quanto o coração demonstram puro amor, que é fruto da ação do Espírito em nós que cremos em Cristo.
Em terceiro lugar, Jesus Cristo quer que esse coração regenerado também se manifeste em obras e toda sorte de demonstrações de amor e atos de bondade, dizendo: “Fazei o bem aos que vos odeiam”. Isso é virtude e fruto da fé rara e um ensinamento que, na verdade, de modo algum, serve para o mundo hostil a Cristo. É totalmente impossível para a natureza pecaminosa, fazer somente o bem e desejá-lo, como um Cristo para a pessoa inimiga, em troca de toda sorte de maldades fruto da fé, ensino e confissão ególatra. Não se deixar vencer por nenhuma maldade nem qualquer escandalosa ingratidão, e, sim, vencer o mal com o bem e abafá-lo, como diz Paulo em Romanos 12.21, somente é possível quando se odeia e confessa toda e qualquer manifestação da autolatria. Por isso Cristo colocou como condição prévia para quem quer ser Seu discípulo: Quem quiser ser Meu discípulo e entrar no Reino do céu deverá ter uma justiça diferente, melhor do que a dos santos fariseus e judeus de Sua época que buscavam justiça segundo as obras e méritos auto justificados. [Segue]
