Salmos

Sl 13 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.

O Salmo treze é um uma oração contra a tristeza ou melancolia do espírito, que, às vezes, tem o próprio diabo como autor e agente, ou também os seres humanos autoindulgentes, quando se autoempoderam e se autolevantam e agem altiva e obstinadamente contra os membros do Povo da Palavra e da fé em Cristo, com palavras iníquas e dúvidas atraiçoadoras, de modo que, em virtude disto, segundo a sua vontade diabólico-carnal intuem infernizar; e, de fato, aí a pessoa se sente atribula e afligida, sobremaneira. E é justamente aí, quando ela já está atribulada incontornavelmente, que verificamos que a Palavra de Deus é e deve ser mais forte do que toda atribulação. Em tal contexto capcioso, é que o presente Salmo é exemplo e exemplar, para que sejamos consolados e aprendamos em todos os tipos de necessidades a não nos preocupar e nem lamentar, encurvados sobre nós mesmos, em autojustificação última, como se tudo estivesse perdido e nós estivéssemos entregues e abandonados por Deus à própria sorte. E que não nos ‘automordamos e nem nos autocomamos’ o coração, mas que, antes, por mais forte que seja a tribulação, já já, recorramos à Palavra e à oração, e verbalizemos junto a Deus toda a presença injusto-opressora, certos de que seremos ouvidos e finalmente redimidos de todo e para sempre, por causa de Cristo, Seus méritos, Suas dignidades. O Salmo treze pertence ao quarto Mandamento, e à primeira e última súplicas do Pai Nosso, na qual se pede que Deus Pai nos livre do mal, em sua presença malíflua como que onipresente e onipotente. Porque se a tribulação comum já é pesada, incomuns são as tribulações espiriturais: aparente eterno esquecimento e ocultamento e abandono de Deus, e isto justamente quando se crê firmemente de que Ele prometeu ser presente, estar junto, acudir, salvar, razão pela qual as perguntas salmodiadas aqui são mortalmente ‘salgadas’, mas sem culpar e nem acusar a Deus em Sua aparente entrega do salmista a si mesmo. Pois terrível é a dúvida que insufla, ainda que o salmista seja temente a Deus e de coração piedoso, que ele não tenha e nem haverá de alcançar nunca mais graça junto a Deus Pai, ainda que Ele tenha prometido que faria nascer o Cristo, segundo a carne, dos judeus. O temor de que Deus foi provocado à ira de modo tão intenso que se é e será uma pessoa perdida e condenada eternamente, não obstante Cristo, atribula de modo mortal. Há nas palavras salmodiadas pelo salmista uma ênfase incomum nas quais ele expressa o que leva a crer, contra a Palavra, que Deus possa estar irreconciliavelmente irado com ele; incluso se faz presente o sentimento e a disposição interna de um coração assenhoreado pela dúvida injustificável. É-lhe, internamente, não só como se Deus o tivesse abandonado, mas inclusive com se Ele até mesmo se negasse ou mesmo nem ainda quisesse examinar e nem sequer se dignar a julgar o salmista em juízo. Pior ainda: é como se Deus o tivesse esquecido de vez e para sempre, como alguém cujo nome não vem mais à memória dEle, sim, a tal ponto que foi riscado do livro da vida. Sim, como se ele doravante fosse alguém total e completamente rejeitado, e Deus, ainda que gracioso, nunca mais quissem nem sequer vê-lo; e, isto não apenas por um tempo ínfimo, mas sim inteiramente (in finem) e para sempre, de modo que não há mais esperança, mas que ele deva, doravante, estar eternamente perdido e esquecido com a gente condenada. A tribulação é tão intensa que leva o salmista a pensar, olhando para si, que mesmo que continuasse incessantemente gritando e clamando a Deus até morrer, ainda assim Ele não estaria nem aí para ele. É-lhe, na dúvida da fé, com se Deus não apenas não lhe escutasse, mas além de não ouvir a oração, Ele até virasse o rosto e se tornasse inexorável inacessível inclusive via fé na promessa graciosa de Cristo, o intercessor, suficiente, necessário, indispensál. Numa tribulação amarga assim e num temor que quer dominar e escravizar e se assenhorear, de todo e de vez e por completo, ninguém sai por si só, a não ser que seja socorrido pelo Espírito Santo, via ministério puro, legítimo, correto, necessário da Palavra de Deus – lei e Evangelho.

P. Airton Hermann Loeve

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com