Sl 4 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo quatro é um Salmo de consolo, e, ao mesmo tempo, é uma oração. Pois, salmodiando, ordena confiar, somente, em DEUS quando e se as coisas vão mal; e repreende e exorta as pessoas ímpias que, na precisão, se voltam para deuses inúteis e que colocam a sua confiança em consolações carnais, e nada querem sofrer injustamamente, e nem querem esperar, quando o sofrimento vem, pacientemente, em DEUS, mediante Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Nenhum consolo sobrepuja a presença corpórea de Deus, o SENHOR, em Seu SER e Sua ação graciosa nos membros do povo da Palavra e da fé. Ainda que a Sua ação provedora maravilhosa, seja presente e corpórea, ela sucede, às vezes mais às vezes menos, subcontrário ao juízo da razão e da inteligência. Contudo, sempre em benefício dos Seus santos, transcendendo o mundo presente, de modo que Cristo seja crido, honrado, glorificado. Eles são levados a vivenciar, como Deus, de caso a caso, aparentemente, primeiro, os deixa sós na tentação. E assim Ele próprio os tenta, provocando a fé, e os provoca tentando na fé. E agindo assim, Ele, sem participação, méritos, dignidade, os exercita na paciência incomum, de modo que o seu testemunho, corpóreo, in locu, seja ainda mais contundente e existencial. Mas os ímpios, bem ao contrário, na dificuldade comum, que sobrevém a tementes e ímpios, querem, sempre, as suas barrigas cheias e ter garantido o socorro e a provisão presente e futura, à luz dos olhos e da razão, e isto sem nenhuma cruz. Sim, já que o estômago é o seu deus, a tal ponto que se alguém lhes fala de fé e paciência, que são dom e dádiva da ação do Espírito Santo nos santos, eles zombam e desprezam tal pessoa, dizendo, não raro: “como pode um tolo querer nos dizer o que é bom? Sim, vá lá e espere até que um frango assado caia na sua boca, confie em Deus, e não cozinhe nada, para ver se não vais morrer de fome.” Um argumento tal que eles externalizam, em verdade, é uma interpretação equívoca do que Deus é, pode, promete, faz e é capaz mediante a Palavra e a fé. O presente Salmo também pertence ao primeiro Mandamento, pois ele ensina e admoesta, exortando, a esperar e a confiar em Deus, com paciência, não obstante a precisão tentadora. E ele também condena e rejeita a fé dos incrédulos e dos impacientes, que se guiam pelas vistas, pela carne e sangue. O Salmo igualmente está compreendido, quanto ao seu conteúdo, na terceira e na sétima petição do Pai Nosso, onde suplicamos que seja feita a vontade de DEUS, e que Ele, por causa de Cristo, se Lhe aprouver, nos livre de todo o mal. Ele, também, pode estar contido na quarta petição, já que nela suplicamos pelo pão de cada dia, porque naquela súplica, em especial, pedimos a Deus afim de que nos conceda e mantenha a paz e nos providencie o que nos é de precisão em todas as necessidades da vida, e nos defenda contra todo tipo de necessidade terrenal, em especial quando somos tentados/as a perder ou decair da Palavra e da fé.
O Salmo quatro é, sumariado, uma exortação à fé em Deus e em Sua Palavra contra ou não obstante as provações e tribulações, especialmente as que são, e se fazem presente, e estão aí sem que se possa encontra uma razão, causa, circunstância justificáveis. Pois não há como ser diferente: as pessoas santas em Cristo são e serão perseguidas, e tentadas de muitas e diferentes maneiras. Elas passam, de caso a caso, por muita carestia e não raro inclusive amigos verdadeiros os abandonam. Porque o diabo se mete e atravanca em todos os lugares, querendo fazer com que decaiamos da Palavra e da fé para a incredulidade, e da incredulidade para o pecado concreto. Por isso mesmo, à parte da Palavra e da fé, aquelas que não creem buscam consolo e ajuda em seus próprios planos para escapar do infortúnio. E assim a maioria das pessoas luta contra a fé, porque querem fugir, escapar, contornar a vida e viver marcado pela cruz incomum. O Salmo quatro não se concentra numa única tentação incomum, mas abraça todas elas, razão pela qual pertence ao primeiro mandamento, como o Salmo três. E o seu escopo é que se deve, sempre, não obstante, invocar a Deus em todas as necessidades e infortúnios, que são inevitáveis nesse mundo hostil a Cristo e Seu Evangelho, o Espírito, a fé.