NEM TODOS…

Jesus Cristo disse: “Nem todos que me disserem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos céus, e, sim, os que fazem a vontade de meu Pai no céu” – Mateus 7.21.

A separação que ocorre com o chamamento de Jesus ao discipulado, é ainda mais profunda. Após a separação entre mundo e Igreja, entre cristãos aparentes e verdadeiros, ela continua no meio dos discípulos professos. “Ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo” – 1Co 12.3. Ninguém pode entregar a vida a Cristo por sua própria razão, ou força, ou decisão, e chamá-lo de Senhor. Jesus conta com a possibilidade de alguém chamá-lo de Senhor sem o Espírito Santo, isto é, sem ter sido chamado por Jesus. Isto é tanto mais incompreensível quando se sabe que, naqueles tempos, não era vantagem nenhuma chamar a Jesus de Senhor, ao contrário, tal confissão era altamente arriscada. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus.” Dizer Senhor, Senhor! é a confissão da Igreja, coluna e baluarte de verdade. Nem todos os que pronunciaram tal confissão, entrarão no reino dos céus. A separação passará pelo meio da Igreja professa, no chão da vida em que se exige confissão pública, concreta, insofismável. A confissão não confere participação em Jesus. Ninguém poderá, algum dia, reportar-se à sua confissão como boa obra, mérito, dignidade, meio de salvação. O fato de sermos membros da Igreja da confissão verdadeira não constitui direito perante Deus. Não seremos bem-aventurados baseados nesta confissão. Se assim pensarmos, cometemos o pecado de Israel que transformara a graça da eleição em direito perante Deus. Desta forma pecamos contra a graça do que chama. Deus não quererá saber de nós se fomos evangélicos, mas se fizemos a sua vontade, nos três estamentos, como reformadores da fé e da moral. Todos serão perguntados por isso, igualmente nós, que estamos pensando e refletindo sobre o assunto. Os limites da Igreja não são constituídos por privilégios, mas pela graciosa eleição e pelo chamamento de Deus. “Dizer” e “fazer” precisam ser, corretamente, discernidos e separados sem que se confundam e nem embaralhem. Porque dizer e fazer não são simplesmente a relação entre palavra e prática. Trata-se de duas atitudes diferentes perante Deus. “O que diz: Senhor, Senhor!” é o homem que, baseado no seu sim, reivindica direitos. “O que pratica” é o homem humilde na prática obediente da fé, pois só o obediente crê. Aquele é o que a si mesmo se justifica pela confissão: este, o praticante, é o homem obediente que confia na graça de Deus, em e por causa de Jesus Cristo, como membro do santo povo da Palavra e da fé, a Igreja de Deus que não é coisa tão comum quanto é este nome “Igreja de Deus”, e não se topa com santos de Deus tão amiúde quanto com o nome “santos de Deus”. Eles são, em verdade, nobres gemas, que o Espírito Santo não joga ante os porcos, mas como diz a Escritura [Mateus 7.6] conserva abscônditas para que o ímpio não veja a glória de Deus. O falar do homem torna-se o correlato de sua justiça própria, a prática, porém, o correlato da graça em face da qual o homem nada mais pode do que obedecer humildemente e servir em consonância com a Palavra, como cristólogo faxineiro da fé e da moral, em Igreja e Sociedade. O que diz: “Senhor, Senhor!”, a si mesmo se convida a ser discípulo, sem o Espírito Santo, ou, pelo menos, transformou o chamamento de Jesus num direito que lhe assiste. O praticante da vontade de Deus, porém, é chamado, agraciado, obediente e seguidor elevado e feito tal por ação do Espírito Santo em consonância com o ministério da pregação pura da Palavra de Deus e correta administração dos Meios do Evangelho, em sua apostolicidade, significa: sem adulteração e sem acréscimos presentes, passados, futuros. Ele, o praticante da Vontade de Deus vê no seu chamamento não um direito, mas o juízo e a graça, a vontade de Deus à qual quer obedecer exclusivamente. A graça de Jesus postula o praticante; a prática torna-se, pois, a verdadeira humildade, a verdadeira fé, a verdadeira confissão da graça do que chama: Jesus Cristo, o nosso SENHOR e Salvador.

P. Airton Hermann Loeve

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com