“Um espirro e o pavor” – Leia no Bate Papo Informal da edição 1556

Desde que essa história da Gripe A começou, sempre acreditei que se tratava de certo exagero da imprensa. Assim como a morte de Michel Jackson, que virou pauta em todos os meios de comunicação, acreditava que a gripe H1N1 também era uma pandemia na divulgação e aumento dos fatos.

 

Pois bem. Via pessoas comentando, apavoradas, sobre o aumento dos casos no Paraná, e ouvia, com certo divertimento, os boatos de que já haviam surgido três ou quatro casos no Sanatório São Sebastião. Assim como, diziam os mesmos boatos, uma menina de dez anos de idade tinha falecido por conta da tal gripe na Lapa. E nenhuma das histórias era verdadeira.

 

Então, levando a vida normalmente, fui fazer um exame de sangue nesta semana. Chegando ao laboratório, eis que vejo o cartaz avisando que quem quisesse fazer uso de máscara devia solicitar à atendente. Eu estava me sentindo realmente no meio de muitos desesperados e exagerados… No dia seguinte fui para Curitiba, pois tinha marcado duas consultas de rotina. Fui à primeira consulta e, preguiçosa que estava, resolvi pegar o biarticulado para chegar ao outro consultório. Preguiçosa, pois a distância até o meu destino era de aproximadamente três estações tubo e uma caminhada não faria mal, ao contrário. Se fosse me apavorar com os comentários sobre a gripe, adoraria me exercitar um pouco mais. E eis que, duas senhoras que esperavam o ônibus ao meu lado comentavam sobre o assunto do momento. Segundo o ponto de vista delas, o surto da nova gripe não passava de exagero. “Bingo!”, pensei. Não, não estava ficando louca, havia mais pessoas com a mesma opinião que eu. Segundo uma delas, depois da gripe aviária e suína, agora só faltava surgir a gripe do gato!

 

Entrei então no ônibus, lotado por sinal, com destino à minha segunda consulta. Com certa dificuldade consegui chegar até um local próximo da porta de saída. Ali estavam dois rapazes, em pé, conversando, também, sobre o quê?! Não pude deixar de ouvir. Dessa vez, a opinião era mais ou menos assim: “Você viu como está a situação no Rio Grande do Sul? Pois é, lá eles não estão abafando os casos. Parece que aqui no Paraná a situação está bem parecida. Mas, sabe como é. Lá o Estado não é a favor do governo federal, então divulgam mesmo. Já aqui… Já viu… Ficam tentando disfarçar.” O ônibus parou e eu desci. Segui pensativa… Fiquei imaginando a quantidade de suposições que surgem… Estamos realmente sabendo o que está acontecendo?

 

Cheguei ao consultório e fui direto ao banheiro. Fui lavar minhas mãos e, cadê o sabonete? Havia acabado. Um tanto quanto estranho para um consultório médico, em plena divulgação da nova doença. Uns minutos se passaram e a médica me chamou. Papo vai, papo vem. E comentamos o assunto que não pode faltar em qualquer conversa: a gripe! Não havia porque duvidar da opinião dela. Primeiro por ser médica e estar acompanhando o que está ocorrendo na capital. Segundo porque é uma pessoa de confiança e não tinha motivos para fazer alarde. E a doutora disse que realmente não está sendo divulgado tudo o que está ocorrendo. O caso é sério mesmo.

 

E eu, que estava um tanto quanto incrédula sobre o assunto, tratei de mudar a opinião rapidamente. De volta à Lapa, fui jantar e comecei a sentir uma dorzinha incômoda na garganta, acompanhada de dor de cabeça. Certo ditado fala que “pagamos a língua” pelo que falamos ou reparamos. E eu estava me vendo nesta situação. Nem tinha sentido febre ou começado a tossir. Mas o pavor de ter sido a “sorteada” para contrair a Gripe A, estava tomando conta de mim. Tratei de buscar o termômetro e verificar a temperatura. Alguns longos minutos se passaram e, ufa!, a temperatura estava normal. “Ao menos por enquanto, não tenho febre”, pensei.

 

Fiquei então pensando em que atitudes tomar caso eu realmente tivesse pegado o vírus. A recomendação é de que se deve ficar isolado. Pensei então, como me isolar na minha própria casa? Como não permitir que o vírus fosse transmitido ao meu pai, que já tem problemas crônicos de pulmão? E, finalmente, quanto tempo teria de esperar para ser atendida em um hospital, já que não seria somente eu com a suspeita da gripe?

 

Corri tomar um comprimido daqueles antigripais “tiro e queda”. Se no dia seguinte não houvesse mais sintomas, teria sido somente a minha imaginação exagerada e o medo que estava se instalando. E, graças a Deus acordei sem nenhum sintoma e segui dessa forma. Não tinha porque me apavorar mais.

 

Mas, o caso me fez pensar em diversas situações que qualquer um está sujeito a passar. No último dia 05 de agosto, se comemorou o dia mundial da saúde. Não sei se há motivo para comemoração, ao menos em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS) e com a gripe A avançando. Mas é um bom momento para se refletir sobre a necessidade do governo investir mais em políticas públicas de prevenção na saúde e, também, sobre o repasse de verbas feito pelo governo federal aos estados e municípios. Prevenção, para que haja mais qualidade de vida para a população e menos gastos com o setor de saúde. E mais repasse financeiro aos municípios para que possam tornar viáveis os atendimentos à população – tanto em saúde, como em educação – , direito constitucional de todo brasileiro.

 

 

“Todas as lindas flores e os suculentos frutos do futuro dependem das sementes plantadas hoje.” (Provérbio Chinês)

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