No início, pela Legião de Maria, assumi a catequese de quatro presos. Isso foi em março de 2002. Um dos presos era o Seu Zé, um senhor de 54 anos, que sonhava fazer a 1ª Eucaristia e não sabia ler nem escrever. Um outro preso, o Valdecir (Vavá), que também fez catequese, foi quem me ajudou. O seu Zé acabou aprendendo a ler pela Bíblia. O Padre Aurélio fez a Comunhão e Crisma deles, na cadeia mesmo.
Me envolvendo na situação dos presos, passei a ver como estava a comida dos detentos. Era só arroz, feijão e ovo, sem café da manhã. Comecei então a pedir nos mercados o que pudessem doar de alimentos.
Foi nesse tempo que o Vavá fez o primeiro cisne de dobradura e me deu de presente. Eu então o desafiei a continuar o trabalho, me encarregando de trazer papel para eles produzirem. A partir daí decidi montar a Pastoral Carcerária, pois alguém teria que vender os artesanatos em papel produzidos pelos detentos. O desafio feito a Vavá no ano de 2003 surtiu frutos. Todos os presos da época aprenderam e foram passando o conhecimento do artesanato de um para o outro. Até hoje eles continuam produzindo.
Mas, para montar a Pastoral e conseguir apoio não foi nada fácil. Enfrentei muito preconceito no início, até da minha família. Todos diziam que preso não vale nada, que é perigoso. No entanto, ninguém pára para pensar que deveríamos seguir o mandamento da Lei de Deus e os dois que Jesus resumiu, “amar a Deus sobre todas as coisas” e “amar ao próximo como a si mesmo”. Se todo preso que está na cadeia é meu próximo e eu digo que sou de Deus, tenho então que amar e ajudar, mesmo se a pessoa está no caminho errado. Devemos tentar trazê-lo de volta ao caminho certo.
Jesus também falou: “Eu estive com fome e não me destes de comer, nu e não me vestistes, preso e não me visitastes”. E tudo o que fazemos a um irmão em Cristo, estamos fazendo a Ele.
A Pastoral hoje
Continuo trabalhando meio sozinha na Pastoral. Tenho ajuda somente do Padre Marcos, do Claudio Soares, que canta nas missas, do seu Rosalino que faz orações nas quartas-feiras, do seu Bassani e do seu Julio que pegam as verduras para os presos todas as segundas e sextas-feiras no Supermercado Condor. Eu procuro deixar os artesanatos dos presos na Casa Vermelha, já que o local onde eu vendia todo domingo, o Parque do Monge, está fechado para reformas.
Sobre o trabalho com essas pessoas, quando perguntam afirmo: eu gosto de trabalhar com eles. É uma mensagem diferente que você leva toda semana. Mas a gente recebe deles também muito carinho, pois apesar de terem errado, também são humanos. Muitos deles têm um coração muito machucado, uma vida bastante sofrida.
É engraçado… Ninguém investiga o que acontece para que tantos rapazes lindos estejam encarcerados… Os que estão na cadeia já estão pagando pelos seus atos, a própria sociedade se encarrega de excluí-los. E, quando saem de lá querendo mudar de vida, poucos se prontificam a dar emprego.
Nós temos um bom delegado, o Dr. Daniel Fagundes. Mas adianta pouco o delegado ser bom, se a estrutura não colabora. Ele faz o que pode, mas não vai mudar o mundo…
Entristece pensar que já tivemos três governadores que prometeram fazer uma Cadeia maior na Lapa. Mas, até agora, nada…
Por isso tudo e principalmente nesta época em que as pessoas costumam ser mais solidárias é que peço ajuda, em orações ou atitudes.
Terezinha Meira trabalha com a Pastoral Carcerária na cidade da Lapa.