Papai Noel existe

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Ao saber que Papai Noel não existia, Pedrinho ficou desapontado. Descobrira que seus pais o haviam enganado durante muito tempo. Como, além disso, obrigaram-no a mentir – ato que classificavam como pecado – para o irmão caçula, passou a desconfiar de todo mundo. Dizem estar aí o nosso pecado original. A partir dele, outros podem ser admitidos e, até, perdoados.

Os pais se justificam sob o argumento de que se trata de uma mentirinha inocente, com o intuito de ter as crianças comportadas na esperança de ganhar presentes do bom velhinho.

A questão que se põe é como ficam os meninos pobres que, mesmo sendo comportados, nada recebem.

Em defesa dos pais, afirmo que Papai Noel existe. Para comprovar, relato um fato ocorrido em Guarujá.

Eu comandava a Brigada Antiaérea. Meu relações públicas – Tenente Pablo Moutinho – disse-me que uma pessoa estava solicitando seis soldados para escoltá-la numa favela. Minha resposta foi um seco não. Pablo insistiu que era por uma boa causa. Sugeriu-me que a escutasse. Concordei.

Vejam o que me contou: “Passo o ano arrecadando brinquedos. Em dezembro, me visto de Papai Noel e os distribuo em bairros da periferia. No ano passado, quase houve uma tragédia. A criançada se atirava na frente do caminhão. Algumas quase foram atropeladas. Além do mais, foi difícil organizar a fila, pois todas temiam que os brinquedos terminassem antes de chegar a sua vez. Para evitar que isso se repita, resolvi pedir sua ajuda”.

Desconfiado, perguntei-lhe se não estaria preparando sua entrada na política?

De jeito nenhum. Há dez anos faço isso e ninguém sabe, e nem vai saber, que sou eu o Papai Noel”.

Senti sinceridade naquele homem, a quem passarei a chamar pelo fictício nome de Natal. Acreditei e topei a parada. Cedi-lhe cinco soldados, sob o comando de um sargento. Este, após a “missão”, relatou-me da emoção que sentiu ao ver o brilho nos olhos da meninada.

Até hoje, no Guarujá, ninguém sabe quem é Natal, embora ele continue a levar alegria para muitas crianças. Além dele, deve haver milhares de “Natais” por aí. São os Papais Noéis de verdade. Ignorá-los seria o mesmo que duvidar da existência do Bem, ente que ninguém vê porque não é candidato a nada, mas que está por todos os cantos e em todas as classes sociais.

Tomara que algum dos meus soldados que escoltaram Natal tenha seguido o seu exemplo e se tornado, também, um Papai Noel de verdade. Seria mais um presente de Natal.

General da Reserva

http://www.bonat.com.br

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