Da trincheira.com.br

Tem dias que me sinto numa trincheira. Dou uma olhada pela janela e temo que, quando chegar, o inimigo, que pode ser um assaltante comum ou um agente da gestapo, não tenha muita dificuldade em transpor as grades do portão. Minha trincheira é confortável. As paredes estão cobertas por fotografias, medalhas e diplomas, tudo o que um cartunista gostaria para estereotipar  um milico de pijama. Ele poderia incluir em sua charge, mas, claro, só se fosse meu amigo, as centenas de livros fora de ordem que atulham as prateleiras.

Tem, também, um aparelho de televisão e o micro em que escrevo. Graças a eles, mais ao segundo, mantenho-me conectado ao mundo. Pela internet, verdades e mentiras chegam sem controle ao meu monitor com velocidade tal que preciso de algum tempo – taí um produto que não falta nas trincheiras – para selecioná-las e processá-las.

Por vezes, transporto-me para  a Linha Maginot, onde encontro soldados dispondo de imaginários palm e laptops. Vejo sua reação ao receber, em tempo real, imagens dos panzers,  que angustiosamente esperavam, desfilando em Champs-Élysées, onde alguns parisienses brindam a chegada dos generais de Hitler. Sinto a decepção ao perceberem que a propaganda nazista havia conseguido dividir  sua França. “Que Nação estamos defendendo?” O ambiente, que já era de “seja o que Deus quiser”, transforma-se num verdadeiro “salve-se quem puder”, e aquele labirinto subterrâneo vira uma lata de siris.

Se na década de 40 a internet  já existisse, salvar a França se complicaria, como se já não fosse suficientemente complicado. De Gaulle teria muita dificuldade para aglutinar a Nação em torno da ideia de uma só França, livre para todos os franceses.

Ora, se a força da propaganda  do totalitarismo nazista, baseada na mentira repetida a fim de exacerbar paixões até as tornarem patológicas, conseguiu dividir um povo  culturalmente avançado como o francês, o que acontecerá com o Brasil, atualmente submetido à doutrinação semelhante?

O que percebo nos noticiários  e nas manifestações de ódio que lotam meu endereço eletrônico é um acelerado aumento da violência no campo, na cidade e nas mentes. O mais grave é ver autoridades, que deveriam combatê-la, acobertando-a.

Sei que os povos não gostam de se olhar no espelho. Se o fizermos, veremos um rosto embrutecido, raivoso, com uma fisionomia importada não se sabe de onde. Rosto que é de outro povo qualquer, menos do nosso. É essa face que estão nos impondo para nos desunir e enfraquecer.

Da minha trincheira, percebo que estão nos levando a uma perigosa dicotomia. Com franqueza, quando o ódio que estão plantando se transformar em violência generalizada, nossas mentes estarão de tal forma dominadas, que será tarde demais para  quem quer que seja levantar a bandeira de um Brasil livre e soberano, para todos os brasileiros. E tudo faz crer que, tal qual a gestapo, uma polícia política já terá invadido a minha trincheira e apreendido o meu desktop.

() General da Reserva
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