De luto pelo Ivo e pela música

Lembro-me das noitadas na Lapa ao som das músicas do Blindagem. Todos os meus amigos adoravam quando o violão comia solto nas notas de “Gaivota”, em churrascos e quando tocávamos na Status. Eu e o Fábio Ceccatto, há uns doze anos, formávamos uma famosa dupla de violão e batuque chamada Triptzódeis. Nós nos atracávamos no repertório do Ivo e sua trupe de Alberto, Paulinhos e Pato e inundávamos  a Lapa com boa música.

A Lapa gostava tanto dos caras do Blindagem que o Alberto chegou a participar de um trio musical com dois lapianos, o Maurício Baggio e o Alessandro Kuss. Todo final de semana eles estavam na Status e era um barato. Marcou uma época deliciosa de namoro e conquista da maior idade.

Do Ivo nem se fala, quando ele ficou mal do fígado a cidade também ficou mal. Como eu estava em Curitiba, envolvido com jornalismo e música, quando ia a passeio para a Lapa era só esbarrar alguém na rua para receber perguntas sobre o estado de saúde  do cantor.

Uma vez (e a história passou a ser folclore na Lapa), a Mary Sue, que sempre dava canja nas baladinhas, subiu ao palco da Status para cantar uma música com o próprio Blindagem,  que lá se apresentava. Balada lotada para ouvir a banda paranaense e moça cantou Rita Lee. Quando a música parou, ela olhou para o Ivo, para o  público, e soltou:

– Ivo, reaja Ivo, volte ao normal, nós te amamos.

Voltando aos velhos tempos de Triptzóides,  eu e o Ceccatto gostávamos tanto dos caras do Blindagem que decidimos fazer um documentário sobre a banda. Eu cursava Jornalismo e o Ceccatto Publicidade. Chegamos a filmar o Ivo recebendo o título de Cidadão Honorário de Curitiba, mas a ideia foi destruída pela falta de recursos e  de apoio. Em 2009, a iniciativa regurgitou. O Ceccatto e a Renata montaram uma equipe e esperavam a aprovação da Secretaria Municipal de Cultura para conseguir verba e iniciar os trabalhos, pela Lei de Incentivo. O projeto não foi aprovado e o Blindagem ficou sem documentário. Um verdadeiro crime contra o patrimônio cultural paranaense.

É certo que o tempo passa. Todos sabemos disso, mas a realidade é que gostaríamos que essa máxima fosse mentirinha e o tempo apenas nos trouxesse experiência, sem caminhar para  uma despedida física. Infelizmente, o Ivo nos deixou. Pelo menos aqui na Terra não teremos mais o encanto e a graça de sua guitarra branca e de seu vozeirão potente e determinante no Empório São Francisco:

– Agora desçam do palco moçada, é minha vez de dar uma canja.

Sinto tristeza, mas compreendo que agora o  cantor vai descansar. A RadioPlay já reservou espaço no repertório para  uma do Blindagem…

“Se eu Tivesse”

Composição: Ivo Rodrigues

Quando a noite chega

E as estrelas lembram o teu olhar

São as luzes dos meus sonhos

Que voltem a esvoaçar

Se eu tivesse o teu olhar

Poderia ver a luz

E nada mais faria

Só pra ti vivia

Mesmo que o mundo pare

De girar

Quando a noite chega

E as estrelas lembram o teu olhar

São as luzes dos meus sonhos

Que voltem a esvoaçar

Se eu tivesse o teu olhar

Poderia ver a luz

E nada mais faria

Só pra ti vivia

Mesmo que o mundo pare

De girar

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