Dia 26 de abril é o Dia do Tropeiro na Lapa. Aliás, foi a primeira cidade no Brasil a oficializar a data, que é uma homenagem à Cristóbal de Mendonza e Orelhana, considerado o primeiro tropeiro da história brasileira. O Padre Cristóbal era espanhol e ficou conhecido no Brasil como Cristóvão de Mendonça. Foi um dos membros da Companhia de Jesus que trabalhou junto aos índios na região hoje conhecida como Sete Povos das Missões, oeste do atual Estado do Rio Grande do Sul, no século XVII. Com o objetivo de garantir a alimentação dos índios das missões, o jesuíta Cristóbal introduziu a criação de gado bovino em grande escala no Rio Grande do Sul (região que naquela época pertencia a coroa espanhola) . Foram esses animais, que chegaram aos milhares, que permitiram o grande comércio entre o Sul e o Centro do país em um dos ciclos econômicos mais importantes da história: o do tropeirismo. Com a descoberta de jazidas de ouro e pedras preciosas nas Minas Gerais, havia a necessidade de animais para o transporte de homens e produtos em terrenos montanhosos e de difícil acesso. Para esse trabalho o gado muar (mulas e burros) era o ideal e o gado bovino (bois e vacas) servia de alimentação.
Foi outro Cristovan, o Cristóvan Pereira de Abreu que, em 1731, fez a primeira viagem do Rio Grande a Sorocaba, passando pelas terras que iriam se tornar Lapa no ano seguinte. Durante 250 anos os tropeiros foram responsáveis por toda a comercialização e transportes de produtos e informações no Brasil Meridional.
Ao longo do tempo os principais pousos pelo caminho se transformaram em povoações e vilas. É interessante notar que dezenas de cidades do interior na região sul do Brasil e mesmo em São Paulo atribuem sua origem a atividade dos tropeiros. O caso da Lapa é um dos mais importantes pois, ficando no meio do caminho, teve um de seus filhos, David dos Santos Pacheco (Barão dos Campos Gerais), como um dos maiores, senão o maior, tropeiro da história. A visão estratégica do Barão fez da Lapa um entreposto que envernava o gado e, consequentemente, os animais que saíam daqui, tinham muito mais valor de venda na feira, chegando mais robustos.
O comércio de animais foi fator determinante para integrar efetivamente o sul ao restante do Brasil. Apesar das diferenças culturais entre as regiões da colônia, os interesses mercantis foram responsáveis por essa fusão e, indiretamente, pela prosperidade tanto da grande propriedade estancieira dos estados do sul, como de pequenas propriedades familiares, em regiões onde predominaram populações de origem européia e que abasteciam de alimentos as fazendas pecuaristas.
Portanto, nada mais justa a homenagem aos tropeiros e ao maior de todos eles na opinião de muitos historiadores: o lapeano David dos Santos Pacheco – Barão dos Campos Gerais.
Márcio Assad é tropeirista e dedica esse escrito a Alexandre Weinhardt da Silveira (in Memorian), com quem aprendeu a maioria das coisas que sabe sobre o tema tropeirismo.
As imagens que ilustram a matéria são de Paula Schimidlin, cuja exposição Tropeiros está no espaço cultural Casa da Música até o final do mês de abril.