O Festival, a Lapa e o cinema na visão dos profissionais da área

A Lapa está respirando a sétima arte nos últimos dias. Tudo por conta da quarta edição do Festival de Cinema que está tomando conta das ruas da cidade.

A Tribuna Regional conversou com três profissionais envolvidos no festival. São eles: Celso  Sabadin – jornalista, publicitário, crítico de cinema e assessor de imprensa do evento; Jeremias Moreira – diretor de cinema, responsável pela direção do filme “O Menino da Porteira”; e Oswaldo Eduardo Lioi, diretor de arte do filme “Ilha da Morte”.

Sobre o Festival de Cinema acontecer na Lapa, Sabadin deu sua opinião: “a importância é maior do que a maioria das pessoas acredita. Só para dar uma idéia, no Brasil todo, a gente tem, mais ou menos, durante um ano, uns 200 festivais de cinema em várias cidades. Mas só existe um festival cujo foco é a restituição histórica, e este festival é o da Lapa. Não existe nenhum outro que dê esta importância para o prêmio de direção de arte, fotografia, maquiagem… Por isso ele é único no Brasil.”

Na sua visão crítica, Sabadin garante que as produções exibidas no festival são de alto nível.  “Infelizmente ainda existe o preconceito de que o cinema brasileiro é mal feito. Isso deixou de ser verdade há muito tempo. Então quem for conferir o festival, vai conferir filmes com ótimas idéias, ótimo roteiro, um nível de produção que muitas vezes não fica devendo em nada para as produções internacionais, com interpretações de primeira linha e  ótimas restituições de época.”

Sobre o curta gravado na  Lapa, A Solteirona ele relata: “a produção local é absolutamente indispensável. Até uma vez o ator Paulo José falou, meio exagerando, mas  com muita propriedade, que é uma questão de segurança nacional você ter  a produção local. Porque senão fica tudo muito igual, as diferenças regionais acabam ficando equalizadas e não interessa a ninguém que isso aconteça. Por isso é tão importante a produção local. A Lapa contando a história da Lapa. A nossa linguagem, expressão artística, não deve ser unificada. Achei interessantíssimo o filme feito na Lapa, tem grande potencial de desenvolvimento.”

Já conversando com o diretor Jeremias Moreira, ele contou que “não é fácil fazer cinema, tem uma complexidade muito grande e é uma atividade que requer recursos. E quando você encontra instituições e pessoas dispostas a fazer um evento como esse, de certa forma estão prestando um grande serviço para o cinema brasileiro.”

Sobre as oficinas, a importância de todas as etapas da produção e conta que “o cinema é uma arte de equipe, que ninguém faz sozinho. Todos os setores num filme são importantes. Na direção de arte, a concepção que o diretor faz, pode contribuir para o peso dramático. Se um dos setores não corresponder às expectativas é como encontrar alguém com algum defeito físico, que vai encontrar alguma dificuldade. É importante uma harmonia nos setores.”

Quanto à questão do festival trabalhar com filmes de época ele afirmou: “essa característica  é muito importante, porque é uma forma de resgatar a nossa memória, a memória do nosso país.”

Jeremias também comentou  sobre a importância de a educação se aliar ao cinema, por conta da mudança do perfil do aluno, que cada vez mais está inteirado com as diversas opções de mídia e de divulgação de seu material. “Esse desenvolvimento de tecnologias democratizou de certa forma o acesso à linguagem. Quando eu comecei a fazer cinema nos anos 70 era muito mais complicado. Hoje em dia, existem softwares de edição muito acessíveis, as câmeras digitais, e isso tudo facilitou o acesso à produção. Eu acho que a educação não pode desprezar toda essa tecnologia que surgiu e que facilita a comunicação entre as pessoas.”

Sobre o filme “O Menino da Porteira”, que está competindo no festival, Jeremias relatou que a premiação é o de menos. O importante é estar participando e de uma certa  forma é preciso olhar o cinema brasileiro como um todo. “Eu não vou assistir um filme individualmente. Eu torço por um cinema brasileiro forte, um cinema brasileiro que conquiste o público, que caminhe pelas próprias pernas. Espero que o Festival conscientize um grande número de pessoas e que se tornem clientela de filmes brasileiros, acho que isso é  que é importante”.

E já que o mote do festival de cinema lapeano são os filmes de época, nada mais justo do que ter um diretor de arte renomado participando do evento. O diretor Oswaldo Eduardo Lioi é arquiteto por formação, mas há mais de 20 anos trabalha com essa mídia. Algumas das suas produções foram animações com Marcos Magalhães, que organizou o AnimaMundi, mas também trabalhou com Anízio Medeiros, e fez pelo menos sete filmes dos Trapalhões (desses ao menos quatro foram com todos os integrantes). Dentro da sua extensa filmografia, fez o Leila Diniz, trabalhou no Sexo Frágil e trabalhou como diretor artístico do filme Ilha da Morte, que está na competitiva do Festival.

Sobre o seu trabalho, ele conta que “(a direção de arte) é uma coisa muito rica, fazendo cinema tem todo o processo de pesquisa. Inclusive de descobertas, quando  não se sabe como produzir ou mesmo fechar elos que não se tem bibliografia. É sempre muito enriquecedor cada trabalho. Eu sempre falo que para mim cada trabalho é sempre o primeiro, porque você se abstrai de qualquer experiência anterior para mergulhar mesmo naquela vida daqueles personagens e onde eles vivem, quais seus ideais, qual a direção que vão tomar… E a gente trabalha nesta invenção de uma verdade. Então é importante isso, você se anular por completo como um primeiro trabalho para realmente dar um resultado final esperado. Para Lioi “hoje já é época para amanhã. Então na direção de arte é preciso perceber exatamente o que você vai explorar no sentido de contar aquela história e aquilo respirar aquela época. Então o importante é transpor a  época. É preciso criar as condições para que a pessoa assista a película e realmente se transporte, principalmente reconhecendo as épocas.”

O profissional contou que geralmente o chamam para trabalhar com filme de época, porque tem uma predileção, “eu gosto de resgatar a memória”, diz ele. Sobre os custos do filme, ele afirma: “A maioria das pessoas acha que se gasta fortunas com filme de época. Não é verdade. Você pode trabalhar muito bem gastando pouco, assim como pode gastar muito dinheiro também com o filme contemporâneo”.

Estes são alguns dos profissionais que participaram e prestigiaram o Festival de Cinema. Mas,  o evento está tendo grande participação da juventude, de estudantes de cinema e também da população local.

É importante valorizar o  evento cada vez mais, pois se trata de uma oportunidade para as pessoas  que não estão envolvidas no meio de poderem conhecer um pouco mais sobre a arte. E, também, para os profissionais, pois é um ótimo momento para mostrar o seu trabalho.

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