Quando a flotilha dita humanitária partiu de Istambul, estavam presentes inúmeros representantes do Hamas, entre eles Mahmad Tzoalha e Sahar Albirawi, terroristas de primeira linha, operando hoje na Inglaterra. Creio que não estavam no porto apenas para desejar boa viagem. Logo, é desnecessário ter bola de cristal para saber que os navios que se dirigiam à Faixa de Gaza nada tinham de pacifistas. O truque é tão velho quanto o Cavalo de Troia. Os alemães que defendiam Monte Castelo também o aplicaram, usando suas ambulâncias, protegidas por rigorosas convenções internacionais, a fim de levar munição para a sua artilharia, que depois era despejada mortalmente sobre nossos pracinhas.
Claro que o governo israelense às vezes age de tal forma que nem os americanos, seus tradicionais aliados, parecem mais aguentar. Entretanto, não se pode deixar de entender suas preocupações com as comunidades civis sobre as quais, diariamente, o Hamas continua lançando foguetes. Recorde-se que em 1967 a Síria fazia o mesmo a partir de Golan, enquanto o Egito de Nasser se armava com formidáveis blindados, que acabariam dizimados na Guerra dos Seis Dias.
Sob a atual e terrível ameaça de ser varrido do mapa, o que significa seu extermínio, o Estado de Israel enfrenta o dilema de tentar estancar a entrada de armas na Faixa de Gaza. Mas, como em 1967, os foguetes do Hamas pouco representam quando comparados ao novo holocausto que se anuncia no Irã. Nem sempre se pode confiar nas palavras de Mahamoud Ahmadinejad, mas sua manifesta intenção de varrer Israel do mapa deve ser levada a sério. De suas declarações, conclui-se que seu programa nuclear, como um Cavalo de Troia, nada tem de pacífico.
O triste é ver o Brasil, conscientemente ou não, sendo usado para acobertar os reais intentos do mandatário iraniano. O acordo nuclear, que assinamos em maio com Turquia e Irã, tem toda pinta de ser uma farsa. Como a agora tristemente famosa flotilha partiu de Istambul logo após a reunião de Teerã, sou, a contragosto, levado a inferir que, longe de microfones e câmeras, algo mais deve ter sido tramado. A política externa brasileira não mais esconde de que lado está. Quebra, assim, uma tradição de equilíbrio e ponderação na resolução de conflitos internacionais.
Ninguém é santo na Terra Santa. Talvez existam alguns anjos, mas estes não têm poder para interferir nas questões terrenas. Ao tomar partido numa confusão das arábias, quase tão velha quanto a humanidade e com a qual nada temos a lucrar, estamos dando uma de anjo e correndo um sério risco de importar um ódio secular, uma violência sem fim. É disso que precisamos? O mais intrigante é abrirmos mão de um truque cujo segredo só nós conhecemos: o da convivência harmoniosa de todas as raças e credos. Lamentável!
() General da Reserva
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