Saindo de nossas cavernas

O filósofo grego, entre 380-370 a.C, narrou a história de pessoas que viviam acorrentadas no fundo de uma caverna.

Na caverna escura, homens e mulheres viviam quebrando pedras, presos por uma bola de ferro. A única distração  existente ali era admirar e comentar “as sombras” que passavam em uma das paredes da caverna, projetadas por uma imensa fogueira externa.

Pessoas de pensamentos curtos. De costas para a entrada, eram incapazes de saber o que havia fora da caverna, até  porque, nem imaginavam que algo pudesse existir que não fosse aquela caverna.

Um dia, um jovem profundamente insatisfeito com aquela situação resolve tentar sair dali. Achava um verdadeiro absurdo ter o mesmo fim de seus pais, avós e bisavós. Acreditava que havia uma vida melhor, um mundo diferente lá fora. Assim,  decide partir em sua desafiante jornada.

Consegue romper os grilhões da escravidão.  Enfrenta vários obstáculos e perigos no caminho, mas consegue sair daquele pequeno mundo. De início, a luz o incomoda. A luz, aliás, incomoda qualquer um que não esteja acostumado com sua força reveladora.  Por um momento, o jovem chega a pensar que ficou cego, como se fosse um  castigo divino por ter ousado sair. Mas, aos poucos, consegue vislumbrar um mundo novo. Aproveita aquele momento, rola na grama, sobe em uma árvore, come uma fruta, brinca com os animais e sente o perfume das flores.

Decide voltar e contar a novidade aos seus  pares. Há beleza no discurso e verdade nas intenções. Tudo colabora para um desfecho bonito Porém, o que se vê é o oposto. Vários sentimentos tomam conta dos prisioneiros da caverna. Tem medo, inveja, desconfiança. Muitos até acreditam que o pobre jovem enlouqueceu e decidem prendê-lo. Sua pregação era nova demais para a compreensão deles. Para os manipuladores, era considerado um verdadeiro perigo.

Alguns dias depois, o jovem consegue convencer uns poucos parentes e amigos de que estava dizendo a verdade. Estes agora acreditam neste mundo novo e resolvem libertá-lo. Juntos, eles saem da caverna.

Essa história serve para ilustrar muitas interpretações… Mas, principalmente, a nossa dificuldade em encararmos  a verdadeira realidade da vida. Seja onde for, sempre preferimos ver as  sombras. Para quê enxergar a realidade? Ela dói, não é mesmo?! Assim como a luz que o rapaz viu quando saiu da caverna.

Também pode-se interpretar a história como  a nossa comodidade. Não foi fácil sair da caverna. Não foi simples se adaptar ao novo. Muitas vezes não ousamos sair de nossa caverna, não ousamos conhecer outras realidades. E pode ser a realidade até mesmo de nosso vizinho, de nosso colega. Interpretamos a realidade do outro por meio de sombras, correndo o risco de nos equivocarmos…

Creio eu que enxergar a realidade pelas sombras é o que a grande parte da sociedade faz. Não encara de frente os  problemas. Não se esforça para sair da caverna. É fácil agir como os que receberam o jovem na caverna, após a sua viagem para fora do lugar onde estava.

Estamos tão acostumados com a nossa realidade, com o nosso mundo, com o que a sociedade nos condiciona a aceitar como certo que, quando surgem pessoas com idéias diferentes, atitudes diferentes, tendemos a acreditar que são seres de outro mundo, são loucos…

Será mesmo?! Ou será que somos nós que temos a mente curta?

E quem sai da caverna, sabe que nunca mais  será o mesmo e que isso poderá provocar a fúria dos que não querem sequer romper as correntes, quanto mais olhar para a luz ou caminhar em sua direção. Que pena. A semente está lá, mas não floresce!

Que a nossa semente floresça. Que consigamos romper “as correntes” e sair de “nossas cavernas”. Contemplar  a beleza de um mundo novo!

-o-o-

“O primeiro passo para chegar a qualquer lugar é decidir que não vais permanecer onde estás.” (J. Morgan)

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