Leite materno – beba sem moderação

    Levantamentos recentes revelam que a juventude brasileira bebe cada vez mais precocemente e em maior volume. Os marqueteiros sabem aproveitar a principal característica da adolescência – a insegurança – e aliam o consumo de bebida alcoólica ao esporte, apresentando-os como a grande fórmula para a saúde e a felicidade. É uma realidade que preocupa, pois sabemos que o álcool é a porta para outras drogas mais pesadas, lícitas ou não.

A frase “beba com moderação”, ao final das propagandas de cerveja, embora represente um avanço da nossa legislação, é esquecida logo após o primeiro gole e soa quase como um deboche quando comparada à atraente peça publicitária que a antecedeu. Se estivesse escrito “beba sem moderação”, o efeito seria o mesmo. Na verdade, nossa sociedade está perdendo a guerra para os adolescentes.

Vitória mesmo tem sido alcançada na conscientização sobre a importância da amamentação materna. Até o final do século XIX, os filhos da nobreza europeia eram sustentados pelas amas de leite; os da plebe, com leite de vaca. Na mesma época, no Brasil, os bebês da casa grande dispunham de escravas para amamentá-los. Mesmo com a descoberta de novas medidas de higiene, pouca coisa mudou, pois as crianças da nobreza passaram a ser alimentadas também com leite de vaca.

Nem era preciso ter ido tão longe. Dia desses, minha sogra mostrou-me a caderneta de bebê que recebeu na maternidade após dar a luz à minha mulher. Patrocinada pelas “mamadeiras Pyrex”, em sua capa está estampado: “O que toda mãe deve saber sobre a alimentação do bebê”. Claro que nada consta sobre a alimentação materna e sim sobre as vantagens do uso da mamadeira.

Essa situação perdurou até pouco tempo. Nos últimos anos, felizmente, ela tem mudado. A legislação, criando, entre outras coisas, a licença maternidade, tem-se mostrado uma aliada dos pediatras. Na mesma direção está a iniciativa de várias empresas de instalarem berçários e bancos de leite nos locais de trabalho. Exemplos, como o da Dra Zilda Arns, de como o problema da mortalidade infantil pode ser minimizado com medidas simples e baratas, das quais a mais eficaz é a amamentação materna, têm contribuído para a conscientização das mamães.

O Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos, publicado em 2002 pelo Ministério da Saúde, é bem claro em sua orientação: “Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.

A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. A partir dos seis meses, dar alimentos complementares três vezes ao dia se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia se estiver desmamada”. Entretanto, é preciso avançar mais. Todas as classes sociais têm que ser sensibilizadas. Talvez alterando alguns ditos populares, como trocando o “Quem pariu Mateus que o embale” por “Quem pariu Mateus que o amamente”, ou, ainda, obrigando a constar nas embalagens de alimentos destinados a lactentes e nas cadernetas de saúde e nos álbuns dos bebês, a frase “Leite materno – beba sem moderação”.

Ora, se o leite de vaca é bom para o bezerro, o da ovelha, para o cordeiro, é óbvio que, para humanos, o ideal só pode ser o leite humano. Mesmo o da mais famélica das mães constitui a única fonte completa para o desenvolvimento de pessoas saudáveis e inteligentes. Até mesmo essa obviedade precisa ser mais divulgada.

Quem sabe algum dos nossos mundialmente reconhecidos marqueteiros não se habilita a ajudar? Fica aqui o desafio de um leigo que se preocupa com o assunto.

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