Chi-Chi-Chi, Lê-Lê-Lê

Países em forma de salsicha, especialmente se alinhados aos Meridianos, tendem a se dividir. É o que dizem os geopolíticos. Além de estreitos, portanto facilmente seccionáveis, a disparidade climática, fruto de diferentes latitudes, afeta a personalidade das pessoas que povoam seu espichado espaço. A metafórica salsicha é apropriada para sintetizar o mapa chileno. De norte a sul, são 4.270 quilômetros, contra apenas 170 de leste a oeste. No sul predominam geladas florestas úmidas. No centro, região mais habitada, o clima é mediterrâneo. Ao norte, o deserto de Atacama é caracterizado pela ausência de chuva.

Entretanto, no Chile, fatores geográficos atuaram contra a cabalística previsão dos teóricos. A cordilheira dos Andes, barreira quase inexpugnável, o isolou da influência nem sempre desejável de vizinhos, enquanto a placa tectônica de Nazca, muito ativa, gerou violentos sismos, cujas consequências solidificaram a nação.

No início do século 20, o país foi atingido por dois grandes terremotos (1906 e 1939) que o empobreceram e quase o destruíram. Desde então, os chilenos decidiram se preparar. Por isso, os tremores de fevereiro último, um dos maiores da história, não tiveram resultados ainda mais catastróficos. Embutida no planejamento para enfrentar esse tipo de situação sempre esteve a ideia de trabalho voluntário, que levou à solidariedade. A solidariedade conduziu a um sentimento de união, a um forte espírito comunitário.

É sabido que das profundezas o deserto de Atacama o Chile extrai sua maior riqueza, o cobre. De lá, em agosto, notícias rapidamente se espalharam. Dessa vez, a catástrofe estava longe das dimensões de um terremoto. De qualquer forma, e principalmente por isso, estavam em risco 33 vidas: as dos trabalhadores da mina San José, isolados 700 metros debaixo da terra. Seu drama foi acompanhado com apreensão mundo afora. A exitosa operação de resgate, que envolveu técnicos, engenheiros, militares, psicólogos e médicos, foi comandada pessoalmente, desde o início, pelo presidente Sebastián Piñera. Dizem que ele se aproveitou politicamente. Mas poderia ter fracassado.

O fato é que, de norte a sul, as comemorações populares de alegria pela saída do último mineiro, demonstram que o Chile, contrariando os geopolíticos, tornou-se uma grande família, cujo pai é simbolizado pela figura do presidente, seja de que partido for. Afinal, lá ainda se observa uma saudável alternância no poder.

Resta-nos aguardar pelo filme. Se pudesse, eu o intitularia “Chi-Chi-Chi, Lê-Lê-Lê”. Claro que terá um final feliz. Agora, se o fato tivesse ocorrido na China, onde não existe alternância, talvez nem notícias tivéssemos. Filme, só se fosse produzido por algum burocrata do governo.

() General da Reserva 
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