Quem é esse General?

Agora que um pugilo de lapeanos se empenha, ardorosamente, em inscrever o nome de Gomes Carneiro no rol sagrado dos heróis nacionais, é de se perguntar: que homem é esse, que os séculos se sucedem vorazes, deletérios, e não conseguem apagar sua lembrança? – Que cidadão é esse que, quando se fala em heroísmo por estas plagas, impossível não lembrar seu nome, impossível não dar o destaque às suas qualidades de guerreiro intrépido e denodado?

Antônio Ernesto Gomes Carneiro, eis o homem! Admirável na guerra, impecável na paz, zeloso com a família, diligente com o próximo, suave ou rigoroso segundo as vicissitudes que a vida lhe ofertava.

Serrano, de Minas Gerais, Antônio Ernesto nasceu a 18 de novembro de 1.848, numa cidade em quase tudo parecida com a Lapa. As semelhanças iam desde o casario colonial à beira de ruas íngremes e estreitas, até as denominações anteriores de uma e outra localidades, nomeadas como Vila do Príncipe, a cidade do Serro, e Vila Nova do Príncipe, a nossa amorável querência.

De família tradicionalmente católica, seus pais o batizaram, demonstrando esmero a começar na escolha dos padrinhos. Dona Antônia Joaquina Fernandes Torres, de nobre estirpe mineira, e Dom Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana, foram os encarregados de apresentar o pequeno Antônio Ernesto às águas lustrais do batismo.

Marciano Ernesto Gomes Carneiro era boticário (nome dado ao farmacêutico, naqueles velhos tempos). Ele e sua mulher, dona Maria Adelaide, vislumbravam no filho, um sucessor nos negócios da família. Até que, durante um certo tempo, o jovem foi, no balcão e no aviamento de mesinhas, um praticante de rara qualidade. Os tempos passaram. Mister se fazia que o moço se aproximasse da corte, para ali, junto à escola de medicina, pudesse se galardoar como farmacêutico, seguindo as pegadas de seu pai. Esta a vontade da família. Entretanto a ninguém passava desapercebido o pendor do jovem para a vida militar. Quando assentado no Rio de Janeiro (transcorria o ano de 1.865), eis que, no cenário nacional, divergências com o vizinho Paraguai acabaram em guerra e o Brasil, apelando aos brios de seus cidadãos, deflagrou a famosa campanha dos “VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA”. Disto sabedor, o jovem Carneiro não pensou duas vezes. Jogou para cima seus apontamentos de farmácia e manuais de aviamento, para ser um dos primeiros inscritos como voluntário para a luta.

Minas Gerais, naquele preciso momento, havia perdido, com certeza, um boticário que, se houvera seguido a profissão do pai, sua fama ainda haveria de perdurar no seio das gerações que se sucederam. Em contrapartida, o Brasil ganhou um paradigma de soldado, um combatente intrépido, “primus inter pares” (o primeiro entre seus iguais) nas tarefas se lhe confiadas.

O guerreiro voluntário, em território inimigo, se destacou em todos os embates de que fora partícipe. Foi vítima de contusões e ferimentos vezes sem conta. Em uma dessas oportunidades (atingido quando no combate, em Estero Belacco), tendo se restabelecido e podendo retornar, tranquilo, ao Rio de Janeiro, abdicou de longos seis meses de licença para voltar aos campos de batalha. Suas primeiras promoções se deram no áspero das trincheiras, ao som tonitruante do canhoneio devastador.

Guerra finita, o agora oficial, foi incluído definitivamente nas fileiras do Exército, o que coincidia com sua vontade. Adquirira direito de matrícula na escola militar. Fez todos os cursos lhe acenados, inclusive engenharia, sempre com distinção.

Nas cartas dirigidas à família dando notícias, era de um respeito e de uma emotividade que, os que tivessem conhecimento apenas de seu estilo epistolar, não imaginariam, jamais, estarem tão próximos de um dos mais valorosos, destemidos e intimoratos guardiães das causas nacionais.

(Continua na próxima edição)

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