UM CRUCIFICADO QUE INCOMODA

Volta e meia, surgem os que se insurgem contra a imagem veneranda de Jesus Crucificado, buscando – através complicadas e astuciosas justificativas – derrubá-la das paredes onde ainda subsistem, quer em repartições públicas, quer até em outros locais. Não se sabe o que os impulsiona: se o ódio incomum contra um homem que não tinha pecados, ou se o temem a ponto de não tolerarem sua presença, mesmo que – pendente da cruz – se mostre inerte, morto e consumado.

Para expulsá-lo dos compartimentos onde ainda o Crucificado é exibido, os tais que não o suportam alegam que o Estado é leigo e não há motivo para conservar em seus ambientes quaisquer manifestações que lembrem uma religião. Outro erro clamante e grosseiro dessa gente posicionada contra Cristo. Sua fama, sua vida, seus ensinamentos são de tal forma abrangentes que Jesus Cristo não é apanágio desta ou daquela agremiação. Sua presença, representada pelo crucifixo, retrata o momento angustiante de seu passamento. E essa cena, tão dorida quanto contristadora, gera, de inopino, no íntimo daqueles que a contemplam, o desejo de melhor conhecê-lo, de indagar: quem é, de fato, esse homem e o que tanto praticou para ser condenado à ignominiosa morte de cruz? Dai em diante, uma apreciável porção desse povo irá procurar resposta para tanto, e passar a conhecer um pouco desse homem extraordinário que nasceu pobrezinho, num presépio de Belém, e que, quando cidadão feito, assinalou sua vida pela retidão, pela verdade e pelo amor ao próximo. Gostava de se comunicar com o seu povo, e em oportunidades tantas, admirado e seguido, sentava à beira do caminho, ministrando conhecimentos, e quando de mister – taumaturgo que era – curava enfermos, ressuscitava os mortos, multiplicava dois ou três pãezinhos em milhares, para sanar a fome daqueles que o acompanhavam. Suas parábolas – pequenos contos que emolduravam suas palestras – se pautam, primacialmente, no conceito da dedicação ao semelhante. Não há, por exemplo, quem tomando conhecimento da história do Bom Samaritano, não se emocione até as lágrimas frente à solidariedade intensa que envolve toda a narrativa.

Mas, isso tudo, ao mesmo tempo em que produzia uma veneração provinda das multidões, incitava também a indignação de muitos – os grandes da época – que iam perdendo terreno e prestigio. Daí, as perseguições que o levaram, injustamente, à morte de cruz.  

Aqueles que não conheçam, com minúcias, a vida de Jesus, seus milagres, seus ensinamento e seu martírio, é o momento: recorram aos testemunhos escritos de Mateus, Marcos, Lucas e João, disponíveis em quaisquer livrarias. São impressionantes e não fazem mal. Pelo contrário, proporcionam um bem imenso, incomensurável. E esse bem é impessoal. Pertence a todos, livre de crenças ou religiões.

                Agora, se você, além de se extasiar com os feitos do Jesus humano, o considerar como o filho de Deus, à semelhança do que apregoam os livros sagrados, parabéns, é o caminho. Jesus é patrimônio de todos. Sua vida inatacável, repleta de maravilhas e bons exemplos, não suscita sentimento outro que não seja irrestrita admiração.

Em suma: em que pesem a ojeriza e aversão de seus contrários, – Jesus se constitui num paradigma histórico franqueado para toda a humanidade, inclusive para aqueles que o conspurcam, o renegam, e tentam extirpar sua imagem dos ambientes e paredes, onde se encontre entronizada.

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