Doutor Francisco, da Lapa (parte I)

Ainda no rastro das comemorações que estão apenas iniciando, e consagram para nossa Lapa o título honroso de capital brasileira da cultura, 2 011, comecei a pensar em tantos de nossos contemporâneos e de outros que já se foram. Todos, partícipes desse laurel, através a contribuição que, nas épocas próprias, souberam direcionar para o engrandecimento da sua cidade.

E, dentro dessas lembranças, vamos, hoje, numa retrospectiva ainda que ligeira, trazer um pouco da história de um lapeano que, dos anos quarenta até quase final do século que passou, se constituiu lídimo arauto e pregoeiro de sua terra e gente. Foi um ” cantor de sua aldeia”.

Estamos nos referindo ao doutor FRANCISCO BRITO DE LACERDA, cidadão lapeano que colocava entre as primazias de seu viver, extremada dedicação à sua terra natal. Estamos há mais de um decênio, sem sua presença. Seu passamento se deu a 16 de setembro de 2.000.

FRANCISCO, filho de de seu José Lacerda e de dona Cecília Brito de Lacerda, integrava-lhes a numerosa prole. O casarão dos Lacerda, hoje museu, foi o cenário de infância do nosso Francisco. Do irrequieto e travesso Chiquinho, hipocorístico que o acompanhou na vida e pelo qual manteve sempre o maior agrado. Andou estudando fora, por algum tempo, até que, concluída a fase propedêutica, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. De lá, saiu advogado. E tomou os rumos da Lapa, sua pequena pátria, onde montando escritório, desenvolveu grande parte da existência. Só se ausentou da cidade, quando os filhos estavam a exigir cursos que, na oportunidade, só existiam nas metrópoles. Mesmo assim, anos a fio, proporcionou atendimento semanal à sempre numerosa clientela. Atuava nas áreas cível e criminal. Quando, na comarca, em tempos de júri, se difundia a novidade de que uma ou mais defesas seriam a cargo do Dr. Lacerda, o fórum ficava pequeno para abrigar a todos quantos ali se postavam para apreciar as razões, réplicas e tréplicas do magistral tribuno. Na área cível, o mesmo sucesso. Inúmeros autos, ora arquivados na escrivania local, darão, aos pósteros, o testemunho inequívoco de seus conhecimento, desenvoltura e saber jurídico.

Final do dia, togas depostas, expediente concluso, surgia um novo Francisco. O chefe de família, o pai amoroso que, miraculosamente, ampliava horários e gerava disponibilidade em prol dos seus. Toda santa tarde, um carro percorria, em marcha reduzida, as principais ruas e logradouros da cidade. Era o Francisco pai que, juntamente com dona Zeni, levava os quatro filhos para passear. Detrás dos vidros das janelas, quer de usado Ford – Prefect ou de antiga limusine Chevrolet (1.939), se podia apreciar o sorriso, o abano de mãos, os olhares curiosos do André, do Francisquinho, da Leduina e da Inês. Percorridos os pontos de uma Lapa, bem mais aquietada, estacionavam na Praça da Igreja, onde Francisco e Zeni pajeavam os filhos, com uma alegria, uma generosidade, um encanto sem fim.

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