É público e notório, portanto fato histórico, o êxodo rural ocorrido em massa no século passado (XX). Movidas por diversos motivos, pessoas com baixo grau de escolaridade e nenhuma malícia, tentados por capitalistas inescrupulosos e falsas políticas (promessas) trocaram o pouco – mas de muita qualidade – por nada.
Conforto pelo ar puro, proporcionados pelas matas nativas; da alimentação sem agrotóxicos e fertilizantes sintéticos ao redor de um forno a lenha – lenha esta proveniente dos milhares de galhos secos ou árvores findas pelo tempo, e sapés (grimpas) das maravilhosas araucárias –; da reunião em família, com luz de lampião e afastado da televisão; do namoro sem interesse que surgia na praça da igreja; da unha suja de terra, mas com a consciência e a mente limpas da capitalização;… São tantos e tantos benefícios trocados pela poluição, desmoronamentos, enchentes, trânsito, drogas, televisão, violência, ingratidão,… Não há como mensurar o que esta no coração de quem oprimido pelas circunstâncias fez essa opção.
Muitos dirão: e o progresso? E os avanços? Na medicina, no direito, na economia,… Mas vem a resposta: progressos que apenas acompanham o ritmo da regressão, novas doenças, novas drogas, violência, miséria, abandono, fim das famílias,… Se ponderarmos no íntimo de nossos corações perceberemos que o progresso acompanha-nos rumo ao fim. Progresso que surgiu sem a preocupação com os efeitos colaterais de cada decisão, progresso que “beneficiam” poucos, e prejudicam a todos. Ledo engano o nosso quando imaginamos que o progresso se antecipa a algo, pois até mesmo a internet, que imaginamos fosse a maior maravilha criada pelo homem, nada mais é do que remediar a possibilidade da presença humana, ou ainda de substituir o trabalho que o homem fazia. Ai, alguém diz: nunca o homem viveu tanto tempo. Mas vive com qualidade? Com amor? Com a família? …?
Hoje vemos uma grande batalha no meio político provocado pelo atual código florestal brasileiro, quando um código que foi criado em 1965 passa a ser positivado – isso mesmo ele nunca foi corretamente aplicado, e quando se aplicou foram contra os pequenos – os detentores do poder e de vários feudos pelo Brasil afora, já com opções diminutas de expansão, utilizam-se dos pequenos produtores, que praticamente já não existem, para lamentar o código e exigir flexibilidade. Enganam-se os que imaginam que em nome do povo as alterações serão benéficas, pois histórico também é a atuação da bancada ruralista, que em nome dos pequenos só agem para obter votos e ou benefícios.
Essa alteração no código vai à contramão de um real progresso, uma alteração que provocará um crescimento não sustentável, aquele sem a preocupação com os efeitos colaterais e objetivando qualidade de vida sintética, virtual, egoísta e elitizada. Os pequenos ao apoiarem essas alterações, estarão aplicando um tiro nos próprios pés – como em outra ocasião já foram induzidos –, e acertando também aqueles pequenos que não apóiam. Já os grandes não serão atingidos, pois estão com botinas blindadas. Ou já se viu casa de rico inundada, desbarrancada, multada ou desapropriada?
No plano do suposto, o atual – apesar de antigo – código busca garantir à sociedade a manutenção mínima de uma qualidade de vida, qualidade verde, real, sensível às nossas percepções. Se aplicado com fiscalização, conscientização, e apoio da sociedade, conquistando a mídia séria e os formadores de opinião, quem sabe um dia poderemos nos sentar ao redor de um forno a lenha e juntos comermos alguns pinhões, sermos nós novamente, comemorarmos os pequenos, mas nossos, progressos.