CRÔNICA – Avenida Independência

“A quarenta metros, entre à esquerda na Avenida Brasil”. A ordem parte do GPS (Global Positioning System ou, em português, Geo-Posicionamento por Satélite) afixado no painel do carro. Se não obedecermos, uma voz, suave para não melindrar nosso brio nacionalista, chamará à atenção, o aparelho recalculará a rota e continuará a comandar nosso destino.Embora o Sete de Setembro seja festejado como a data da independência política, ela só se concretizou de fato alguns anos mais tarde. A proclamação de D. Pedro, em 1822, às margens do Ipiranga, não foi aceita pelas tropas portuguesas ainda fortes em várias Províncias. Obrigá-las a voltar para Portugal custou muitas vidas. Para não me alongar, recordarei apenas das 252 (para alguns foram 254) asfixiadas nos porões do brigue “São José Diligente”, no porto de Belém. Faço questão de mencioná-las nestes tempos de “nunca antes na história”, pois andamos com a sensação de que surgimos do nada e, por isso mesmo, somos obrigados a importar heróis como guevaras e outros quetais, além de avanços como o GPS.

Entretanto, se alcançamos a independência no campo político, o mesmo não ocorreu no econômico. Teríamos obtido se, ao longo do tempo, houvéssemos investido em educação e desenvolvimento científico-tecnológico. Culpa das elites, tanto as do período imperial quanto as do republicano. Fortemente influenciadas pela Igreja, elas se encantaram com o brilho do ouro e não com o da ciência, para quem os papas sempre fizeram careta, temerosos de ver seus dogmas desmentidos, como aquele de que a Terra era o centro do universo. Induziram-nos a crer que Deus era brasileiro. Portanto, nada nos faltaria.

Nossas elites (elas detestam ser assim denominadas) contemporâneas estão tornando a realidade ainda pior. É só olhar nossa pauta de exportações para perceber. Tendo como carro-chefe o minério de ferro, ela reflete uma crescente subordinação ao humor econômico mundial e ao avanço de outras nações. Para não ficar na mesmice de velhos exemplos, cito os recentes da Coreia do Sul e China. Durante décadas, elas investiram maciçamente em educação. Agora colhem os resultados. Enquanto isso, por aqui, filosofia e sociologia são acrescidas aos currículos do ensino médio, com prejuízo para as já mal-ensinadas ciências exatas.

Não nos faltam recursos. Faltassem, e o governo não doaria todo ano um montão de dinheiro para as centrais sindicais, que, diga-se de passagem, nada produzem. Ao priorizá-las, em detrimento da educação e do fomento à pesquisa científico-tecnológica, está nos condenando ao atraso. Essa dinheirama toda representaria investimento se fosse aplicada na oferta de mais bolsas de estudos pelo CNPq. Somente assim as gerações futuras teriam alguma chance de ouvir dos seus GPS: “Entrem na Avenida Independência e sigam em frente”.

() General da Reserva 

Please follow and like us: