O mercado da madeira na região da Lapa

Olá, amigo leitor. Após alguns anos rodando o Brasil, estamos novamente na Lapa. Como muitos devem saber, sou engenheiro florestal, e trabalhei vários anos com algumas culturas florestais, como pinus, eucalipto, pinhão manso, guanandi, seringueira, entre outras espécies.

 Após algumas conversas com agricultores e empresários da Lapa que estão envolvidos com cultivo florestal percebi um certo desanimo quanto aos rumos que o mercado está direcionando a produção. Não é para menos. A nossa região nunca teve tanta madeira disponível para aquisição – e claro que com isso surgem dificuldades de venda.

 O problema todo começou ainda na década de 60 do século passado, com os incentivos fiscais que o governo deu para quem cultivasse florestas. Basicamente se você plantasse nas normas do governo, poderia deduzir até 100% de seu imposto de renda. Muitos plantios foram feitos nessa época, e isso foi a base para o surgimento de toda a cadeia de industrias florestais do sul do Brasil.

 Os incentivos seguiram até meados da década de 80, e daí cessaram. Com isso, parou também o plantio. Só que as indústrias continuaram a crescer. Isso queria dizer que em algum momento iria faltar madeira, o que foi chamado de apagão florestal.

 Esse apagão surgiria entre os anos 2000 e 2008, aproximadamente, dependendo da situação de cada região. O grande problema é que as estatísticas sempre foram feitas a nível de sul de Brasil, juntando Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isso quer dizer que somando os três estados, pode até faltar madeira, mas em algumas regiões iria sobrar, e outras faltar muito.

 Eu estava no oeste de Santa Catarina em 2005, e percebi o real impacto do tal apagão. Naquela região e naquele ano, quem tinha madeira plantada ganhou muito dinheiro. Quem precisava de madeira se desesperava pela escassez. Sei que outras regiões tiveram seus períodos similares em anos diferentes. Sei também que algumas, como a região da Lapa, nunca tiveram esse apagão. Lembro que no Rio Grande do Sul algumas empresas chegaram a importar madeira de pinus dos Estados Unidos. Olhem só: o Brasil importando madeira!

 Lembro que houve um incentivo um tanto tardio ao plantio. Todas as empresas montaram seus programas de fomento para garantir sua sustentabilidade – eu mesmo criei e implantei pessoalmente um programa de fomento florestal para uma grande indústria.

 Hoje estamos no período de “colheita” deste incentivo. E com isso, estamos sim com sobra de madeira. Mas a situação não é para sempre.

 Tive a oportunidade de trabalhar para uma das maiores consultorias da área florestal da América Latina, e ainda tenho muitos amigos lá dentro. Com eles consegui uma informação interessante: a região da Lapa (tive o cuidado de pesquisar apenas nossa região, e não o sul do Brasil) terá excesso de madeira até 2016.

 Com a instalação e/ou ampliação das indústrias previstas no Paraná (Pien, Ponta Grossa, Curitiba, e até mesmo na Lapa) e com a redução do plantio após o incentivo pelo apagão florestal, existe uma clara tendência de que entre 2016 e 2020 a oferta e a demanda irão se estabilizar. A partir de 2020 a tendência hoje é de falta de madeira, porém isso pode ser revertido caso surja novamente um grande incentivo ao plantio.

 O lado bom é que nenhuma indústria está investindo maciçamente em fomento florestal. Existe uma empresa curitibana agindo na Lapa, mas o impacto dela no mercado será mínimo.

 Com isto, vamos às recomendações. Tem reflorestamento e está desanimado com o preço? Então não corte e aguarde para vender daqui alguns anos. Ou então estabeleça algum tipo de manejo que lhe permita ter madeira quando o preço melhorar. Essa é uma das maiores vantagens do reflorestamento: você não precisa vender quando o preço está ruim!

 Se você tem área e não está disposto a plantar por causa do preço atual da madeira, recomendo que repense a situação. Estamos hoje repetindo – em menor escala, é claro, o que aconteceu logo após o fim dos incentivos fiscais. Quem tiver madeira em 2020 poderá ganhar muito com o negócio.

 

Dartagnan Gorniski é engenheiro florestal, especialista em silvicultura e fomento florestal, e atualmente está estabelecendo um viveiro de mudas florestais na cidade da Lapa (ver pagina ___).

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