As atividades em comemoração aos 119 anos do Cerco da Lapa, batalha ocorrida na histórica cidade do Paraná e de fundamental importância para a consolidação da República no Brasil, terão início neste sábado, dia 2, e se estenderão até o dia 24 de fevereiro. Destaque para a programação do dia 7, em que haverá a Solenidade Cívico-Militar em homenagem aos bravos guerreiros que defenderam a República com a própria vida. Logo após, um espetáculo teatral mostrará o quão angustiante era a vida das mulheres e mães dos combatentes, como essas resistiram, também heroicamente, ao período do Cerco.
Além das festividades, o convite estende-se para um passeio pelos pontos turísticos da Lapa, patrimônios tombados e de extrema relevância para a história do Estado e do país.
Confira a programação organizada pela Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores e 15º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado.
02 | Fevereiro (Sábado)
14h – Theatro São João e Museu Histórico
Início da Exposição Fotográfica Itinerante “Olhares Sobre o Cerco”
03 | Fevereiro (Domingo)
09h – Av. Dr. Manoel Pedro e Centro Histórico
Corrida Rústica
06 | Fevereiro (Quarta-feira)
18h – Alameda David Carneiro
Retreta com Banda da 5ª Região Militar/5ª Divisão de Exército
07 | Fevereiro (Quinta-feira)
09h – Theatro São João
Abertura da Solenidade Cívico-Militar
“O Cerco: seus feitos e legados”
10h15 – Panteon dos Heroes
Solenidade Militar
Ato Ecumênico
Espetáculo Teatral “Nós Somos a Lapa”
19h – Theatro São João – “O Cerco nas Cordas do Violão”
Apresentação do Clube da Viola da Lapa e do violonista Lucas Ferón (Curitiba)
15 | Fevereiro (Sexta-feira)
19h – Largo Francisco Cunha Pereira
Noite Cultural Comemorativa do Cerco da Lapa
– Orquestra José Pimentel de Carvalho
– Clube da Viola
– Espetáculos cênicos de artistas locais
– Literatura
22 a 24 | Fevereiro (Sexta a Domingo)
19h30 – Theatro São João
Mostra Cinematográfica “Para Além do Cerco”
Sexta: Vítimas da Vitória
Sábado: O Preço da Paz
Domingo: Amor em Tempos de Guerra
O CERCO DA LAPA
A cidade da Lapa é hoje conhecida por ter sido palco de um dos mais importantes episódios da consolidação da República no Brasil. Trata-se do Cerco da Lapa, evento revolucionário, o maior e mais importante fato histórico do gênero, no estado do Paraná.
Após a Proclamação da República, em 1889, surgem desavenças em vários pontos do país, a exemplo de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O Marechal Deodoro renuncia e o vice-presidente, Marechal Floriano Peixoto, ocupa seu lugar, crente de que essas desavenças nas diferentes províncias cessariam naturalmente, o que não aconteceu.
A insurreição inicia no Rio Grande do Sul, em que revolucionários federalistas, seguidores de Silveira Martins, incitam uma guerra contra o governo de Floriano Peixoto. Para contê-la, unem-se os republicanos liderados por Júlio de Castilhos, por esse motivo chamados “castilhistas”. Não há uma causa incontestável para a revolução, mas três possibilidades: críticos do regime republicano, que ansiavam pela volta da monarquia; partidários do regime republicano, mas que queriam outro líder, que não Floriano Peixoto e aqueles que eram a favor de outras formas de governo, menos centralizadas, como o presidencialismo moderado ou o parlamentarismo republicano.
Gumercindo Saraiva, posterior líder da Revolta, que sitiou a Lapa, participou nas primeiras batalhas contra os castilhistas, em 1893, no Rio Grande do Sul. De lá, ele e suas tropas partiram para Santa Catarina e Paraná. Essa rota era obrigatória para atingir a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro. Estava instaurada a guerra entre “maragatos”, federalistas contrários ao governo e “pica-paus”, os republicanos. Os federalistas receberam tal denominação porque eram oriundos de Maragateria, na Espanha. Eles usavam fitas vermelhas em que estava inscrito “Viva a Liberdade”. Já os pica-paus eram assim chamados pela semelhança de sua vestimenta, com divisas brancas e boné vermelho, com a plumagem do pássaro de mesmo nome.
Diante da constatação de que seria impossível a pacificação no Sul, o Marechal Floriano Peixoto envia Francisco de Paula Argolo para comandar o 5º Distrito Militar. Em outubro de 1893, o general Argolo reúne uma força expedicionária em Curitiba e segue para a Lapa, onde é recebido por Joaquim Lacerda e sua tropa de 60 homens. Além da Lapa, havia tropas de resistência republicana em Paranaguá e Tijucas.
As cidades de Tijucas e Paranaguá não resistem às tropas invasoras e resta à Lapa conter o avanço dos federalistas. No dia 02 de dezembro, o General Argolo passa o comando ao Coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro, que recebe a missão de salvar a República. Assim, sob o comando do General Carneiro, a Lapa resiste bravamente, por 26 dias, com um exército de aproximadamente 1.200 homens. A cidade ficou sitiada, sem comunicação com o exterior e sem possibilidade de fuga, já que as estradas de ferro e de rodagem estavam interceptadas. Faltava comida, água e os cadáveres em decomposição exalavam o mau cheiro. Mesmo assim e apesar das notícias de que os revoltosos tinham tomado outras cidades do Paraná, o General Carneiro não aceitou conversar com qualquer emissário a respeito da rendição.
A capitulação somente ocorreu no dia 11 de fevereiro, dois dias após a morte do General, que fora gravemente ferido durante combate. Em seu leito de morte, repete: “Resistência, resistência… Resistamos camaradas, porque nós, soldados, não temos direitos, mas apenas deveres a cumprir, e os deveres de um soldado resumem-se em um único, queimar o último cartucho e depois morrer”.
O Cerco da Lapa foi fundamental para a consolidação da República, visto que os dias em que as tropas republicanas resistiram foram o suficiente para que o Marechal Floriano Peixoto guarnecesse a cidade de Itararé, em São Paulo, e preparasse a defesa para impedir a entrada de Gumercindo Saraiva. Hoje, os restos mortais desses guerreiros, entre eles do General Gomes Carneiro, estão depositados no “Panteon dos Heroes”, um dos símbolos da cidade e mais importante monumento cívico do Paraná.