Diretoria da Petrobras já deveria ter renunciado

A insistência da atual diretoria da Petrobras em não renunciar a seus cargos transformou-se em mais um indecoroso episódio envolvendo a administração pública do país, dada a extensão dos escândalos e participação não só de diretores da empresa como também de políticos, agentes públicos de vários escalões, empresários e executivos de grandes grupos privados – alguns deles já presos.

Maria das Graças Foster, presidente da estatal, deveria puxar a fila e dar o exemplo. Não apenas colocar o cargo à disposição da presidente da República, mas pedir demissão em caráter irrevogável perante os Conselhos da empresa. Como se mantém, a situação é embaraçosa para ambas: Dilma espera o pedido para evitar o extremo e poupar a amiga, a qual, no entanto, permanece intransigente.

A diretoria da Petrobras precisa ter o entendimento da grave situação e dos prejuízos causados à empresa especialmente em credibilidade e danos econômicos que vão muito além da malversação de seu patrimônio financeiro. A estatal é um símbolo de grandeza, patrimônio nacional, conquistou elevado conceito mundial em termos de tecnologia, comércio externo e produção interna assentada em avançadas pesquisas, além da formação de quadros profissionais altamente treinados e qualificados. É, também, um dos pilares do nosso mercado de ações, não se trata apenas de uma estatal, é uma  sociedade anônima com extraordinário quadro de acionistas, companhia de capital aberto que capta investimentos no Brasil e no exterior. Portanto, não é apenas ao governo e ao povo que a diretoria deve explicações.

A presidente Graça Foster, assim como os diretores, uns mais outros menos, são responsáveis ainda que não tenham culpa direta, conforme se justificam, por ter sido o esquema de corrupção montado há algum tempo; foram todos omissos ou incapazes de detectar rombos causados por tão ramificada quadrilha. Até os Conselhos que aprovaram negócios e operações fraudulentos são suspeitos, ainda que aleguem que os contratos eram elaborados pelas diretorias da empresa, o que não os isenta da obrigação precípua de analisar e fiscalizar.

Pedir demissão, em tal circunstância, não é demérito nem confissão de culpa, senão dever do agente público atingido por suspeita grave, além de gesto de lealdade para com o superior responsável pela nomeação. Provada a inocência, pode até ser reintegrado, sem mácula. Em passado recente ocorreu episódio bem ilustrativo: Henrique Hargreaves, além de amigo de longa data do presidente Itamar Franco era seu leal e competente ministro-chefe da Casa Civil. Sobre ele caíram suspeitas de atos ilícitos e Hargreaves imediatamente entregou sua demissão ao presidente, que mandou fazer rigorosa investigação; restando nada comprovado contra o ministro, quatro meses depois foi reconduzido ao cargo, sem constrangimentos nem mágoas.

Em resumo, a Petrobras necessita urgentemente de um choque de gestão séria para recuperar seu prestígio e credibilidade extremamente afetados. Carece efetivamente de sangue novo e cabe à presidente Dilma coordenar essa renovação com a indicação de uma diretoria que seja técnica, de alta competência, idônea e sem a perniciosa interferência ou pressão de políticos e partidos aliados, responsáveis pelos escândalos dentro da estatal.

Luiz Carlos Borges da Silveira, lapeano, médico e ex-Ministro da Saúde.

 

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