“Lágrimas de uma Guerra” emocionou o público

Chuva que poderia ter prejudicado a apresentação, acabou por abrilhantar ainda mais o espetáculo. E o resultado final: muito talento e a força da união.

A vida é feita de histórias. Mas, não das histórias contadas nas páginas dos livros. É feita das histórias vividas, sentidas… A vida é feita da vivência, do que se guarda na memória, com emoção…

Apesar de a história do Cerco da Lapa estar registrada nos livros oficiais – por óbvio pela visão dos vencedores, há muito o que se contar sobre o episódio que marcou a cidade e a história da nação. Muito do que se sentiu, do que se vivenciou, do que se sofreu… Muitas histórias de pessoas comuns, a chamada “história oral”, que é somente registrada no “boca a boca”, mas é a mais verdadeira.

E foi isso o que a União dos Artistas Lapeanos, a UAL, fez na noite de sábado, na Alameda David Carneiro. Contou uma das milhares de histórias orais da Lapa, vivida durante a batalha que ensanguentou as ruas no ano de 1894. História verídica. História que emocionou o público não somente pelo enredo, mas pela beleza do espetáculo e talento dos cerca de 130 voluntários que reviveram o dia-a-dia de Dona Maria e seus dois filhos, que estavam na batalha do Cerco da Lapa. Somente um deles voltou com vida para casa, o Augusto.

O público chorou. Mas, antes de emocionar a plateia, o tempo mandou a chuva, como uma “lágrima”, abrilhantando ainda mais o espetáculo.
Arquibancadas lotadas. A encenação precisou ser interrompida por 10 minutos. Com muita fibra e talento, os artistas lapeanos decidiram não parar. Continuaram com o espetáculo. E o público, valorizando o trabalho da UAL, ali permaneceu, do início ao fim do evento.
Os artistas demonstraram que com união qualquer sacrifício em prol de um bem maior vale a pena. Afinal, eles, desde 2009, resgatam e valorizam a cultura local.

Tudo com união de esforços, união de talentos. Atores, bailarinos, músicos, poetas, trovadores… Todos voluntários, embelezando e engrandecendo a data histórica. Apoiados pela Prefeitura Municipal, pelo Quartel do 15º GAC AP, pela Polícia Militar do Paraná. União dos talentos com a união de quem acredita e incentiva a cultura.

Espetáculo ao ar livre, por opção dos artistas lapeanos. Afinal, foi ali, no chão, que tudo aconteceu. Afinal, ali, na rua, e não no palco, os artistas podem ficar mais próximos do público. Afinal, ali, no chão, na rua, sem palco, sem cobertura, é possível deixar ainda mais real a apresentação – com seus efeitos cênicos da guerra.

O ESPETÁCULO PELOS PROTAGONISTAS

“Agradecemos a todo o público presente, que permaneceu do inicio ao fim, aos artistas que, como bons lapeanos, não se abateram diante das adversidades e mostraram fibra de herois, a toda equipe UAL e aos apoiadores do projeto. A todos o nosso muito obrigado!”. (Integrantes da UAL)
“Não vou citar nomes, porque corro o risco de esquecer alguém, quero agradecer a todos que de alguma maneira colaboraram com a gente. A quem nos apoiou de alguma maneira, os que apoiaram na última hora e que acabaram não sendo citados, a quem nos emprestou objetos de cena, a quem nos apoiou com a estrutura, luz, som, material para a guerra, enfim a todos. (…)

Agradeço a todos os que se envolveram na arrumação do cenário, que me acudiram com os lampiões, tendo sempre um alicate na mão, que depois da chuva passaram o rodo no linóleo para que os bailarinos pudessem dançar, a quem depois do espetáculo ficou com a gente mesmo com a chuva forte que voltou e nos ajudou a guardar as coisas, a enrolar o linóleo, enfim a terminar o espetáculo”. (Depoimento de Cida Lacerda, atriz e uma das coordenadoras a apresentação – Na vida real, é neta do Augusto, representado na peça, o personagem que voltou com vida para casa).

“O que presenciei foi o maior exemplo de amizade, união e solidariedade que já vi. Nada me tocou mais do que ver os atores aceitando o desafio de encarar a plateia com todas as adversidades e chamando a responsabilidade para si. (…) Foi uma escolha nossa que o espetáculo fosse neste formato, de correr os riscos que corremos, buscávamos incentivar o interesse e a preservação de nossa história e assim o fizemos. Mas, jamais imaginamos que o maior legado que poderíamos deixar era o exemplo prático do valor que a força de vontade aliada a solidariedade e ao trabalho em equipe podem ter diante de qualquer desafio! Hoje todos somos UAL!”. (Mara Ganzert – Diretora do espetáculo)

DA REDAÇÃO
Cultura. Turismo. Desenvolvimento Econômico. Uma coisa leva a outra. Uma coisa “puxa” a outra. Hoje, este “Da redação”, escrito por Emanuelle Gorniski, é para demonstrar que, sim, a Lapa tem muito mais do que belos casarões tombados. Tem história, sim. Mas, tem muito mais: tem gente de talento que pode fazer, através da preservação e valorização da cultura, o turismo realmente engrenar, sendo uma alternativa de desenvolvimento econômico para o município.

O que esses talentos da UAL precisam? Precisam de apoio, valorização. É urgente que, tanto poder público como poder privado, estejam de portas abertas para estender a mão, contribuir e engrandecer ainda mais o que vem sendo feito por amor, de forma voluntária, há anos.
O produto, de qualidade, para mostrar aos turistas, a Lapa tem de sobra. Falta agora a união de esforços do poder público, e também de empresas, para “vender” os talentos locais.

Não é momento de tentar ser o “dono da bola”. O sucesso do espetáculo se deu por conta da união de muitas pessoas comuns, que trabalharam dias e mais dias, por paixão à arte. Sim, receberam apoios, dos mais diversos. E estes apoios foram de grande importância para o resultado final. Mas, nada teria sido feito sem os atores, sem a UAL.

Então, daqui pra frente, a dica é se espelhar no exemplo destes artistas lapeanos e se unir visando um objetivo comum: fomentar o turismo local, valorizar a cultura, e desenvolver o município.

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